O fim de semana prometia muito calor (tendo em conta a realidade deste verão envergonhado) mas se há coisa que sabemos que não podemos ter por garantido é o (bom) tempo no Oeste. A chegada à Serra d'El Rei, perto de Óbidos, veio confirmar que o Sol estava bastante envergonhado e o termostato do carro começou a descer vigorosamente.
O Praia D'El Rey Marriott Golf & Beach foi o primeiro resort cinco estrelas da Costa da Prata e apesar do calor que não estava, não deixa de ser um local de uma beleza única com uma vista privilegiada para o mar.
O convite era experimentar a nova carta de verão do Emprata - um duplo significado entre a arte do empratamento e “Em prata”, ou não estivéssemos nós na Costa da Prata -, o restaurante à la carte deste hotel, que viu a sua vida limitada devido à pandemia.
Mas nem tudo é negativo. A verdade é que a carta teve tempo para ser estudada e aprimorada graças à disponibilidade que o layoff impôs às unidades hoteleiras. A atividade pode ter estado em suspenso, mas o trabalho não pois até foi possível criar-se as próprias hortas para fazerem experiências, como confidenciaram ao SAPO Lifestyle os Chefs Bernardo Vitorino e Salomé Inácio – Sous-chef e Chef de Pastelaria respetivamente – que trabalham sob a alçada do Chef-Executivo Luís Correia, num ano de grande instabilidade onde houve algo que sobrou: tempo livre para estudar e criar.
“Se calhar esta carta foi fugir um pouco aquilo que vemos no Oeste, fugir das coisas óbvias como a ginginha e a pera. Temos o caso de produtos aqui escondidos, como é o caso da Camarinha, que é uma baga ótima, que cresce nos jardins do hotel em abundância”, partilhou Bernardo Vitorino.
Camarinhas, chícharo - uma leguminosa - o queijo da Massuça (falaremos dele mais à frente), Codorniz do Landal, Vieira da costa, gingas, que são usadas frescas nas sobremesas, ou Barriga de leitão crocante, com inspiração no leitão à Bairrada, são alguns dos ingredientes que fazem parte do ADN da nova carta de verão e que fazem também parte do ADN do Oeste.
“Toda a carta é pensada numa vertente muito regional, de melhor que temos aqui, nos produtos, seja na costa, seja o melhor que temos no interior”, explicou o Sous-chef que não deixa de referir a relação de proximidade com os produtores da região, que foram fundamentais na elaboração do cardápio. “Fizemos essa pesquisa dos produtos mais regionais, que antigamente se usavam, e trouxemo-los mais atuais, com conjugações novas e ligações de sabores novos”, acrescenta.
A sustentabilidade é uma das preocupações da carta. Por exemplo, “na codorniz, conseguimos usar todo o animal, no caso do Ceviche, usamos o atum em si, usamos a parte da barriga para o Ceviche do Emprata mas usamos outras partes não só no Emprata mas também nos outros restaurantes do hotel. Isso é uma das nossas missões: desperdício zero”, explica.
Outra das preocupações da carta é ter opções vegetarianas e veganas, que se podem ver não só no Arbório de Cogumelos, Emulsão de Queijo da Ilha e Óleo de Trufa (16€) ou no Crocante de Tofu, Aipo e Alface Grelhada (16€), mas também nas sobremesas.
“A pastelaria neste momento está a transformar-se. (O veganismo) é a grande tendência neste momento, sobretudo por uma questão de sustentabilidade. Acho que há cada vez mais um pensamento crescente nesse sentido e ainda bem, embora ache que nunca se deva ir aos extremos. Tem de existir um equilíbrio”, confidenciou a Chef Salomé Inácio. “Aqui no Oeste, felizmente, ainda conseguimos encontrar esse equilíbrio”, acrescenta o Chef Luís Correia.
“O restaurante Emprata – o mais diferenciado do resort – pretende ser uma referência gastronómica na região do Oeste, num ambiente sofisticado e com um serviço personalizado. Propõe uma abordagem contemporânea e criativa da cozinha portuguesa que incorpore os produtos, ingredientes e tradições da região”, pode ler-se na descrição do site. E a verdade é que não erra em nada aquilo a que se propõe.
Um jantar em cinco atos
Apesar de o Sol não ter estado à nossa espera na chegada ao hotel, a recompensa chegou ao fim da tarde, com um tempo descoberto para nos fazer apreciar o pôr do Sol.
O jantar estava marcado para as 19h30 e cumprindo a pontualidade, fomos recebidos no Emprata. A sala, de decoração contemporânea, de linhas sóbrias com detalhes azuis num estilo náutico, ou não estivéssemos de frente para o mar, estava já composta com alguns hóspedes, num ambiente mais recatado, mas ao mesmo tempo familiar, onde as crianças conviviam descontraidamente com os adultos. Este horário favorece a frequência de famílias que podem ainda aproveitar o final de dia do Oeste.
Esta foi a primeira vida do cenário, que foi mudando ao longo da noite, à medida que a hora ia avançando.
No entanto, fica a sugestão: experimente chegar mais cedo. Vai poder apreciar o pôr do Sol num ambiente mais calmo e ter a sorte de ficar numa das mesas mais perto das grandes janelas do restaurante.
A proposta era experimentar cinco pratos da nova carta - entrada, peixe, sorvete, carne e sobremesa - que se fez ao longo de uma dança de pratos que durou quase duas horas e meia.
A refeição iniciou com um Sortido de pães, manteiga, azeite e vinagre (3,5€), passando depois para a entrada que era composta por Queijo da Maçussa, pera rocha do Oeste e figo pingo mel (16€). Este queijo de pasta mole e sabor intenso, um chèvre português, feito artesanalmente com leite de cabra e que usa o nome da aldeia de Maçussa, no concelho de Azambuja, é o protagonista deste prato, sendo apresentado de três formas diferentes – caramelizado, congelado e em manteiga.
A acompanhar foi servido o Azulejo Leve, da Casa Santos Lima (produtor da região), um vinho rosé com as castas Camarate e Cabernet Sauvignon. Um vinho leve que também podemos saborear, por exemplo, à beira da piscina numa tarde de verão.
Seguiu-se um Pregado com risoto negro de bivalves da Lagoa de Óbidos e Gambinha do Atlântico (29€). O pregado é cozinhado em manteiga noisette e finalizado com espuma de Champanhe e foi acompanhado de um Casa Santos Lima Branco Chardonnay, um vinho com alguma acidez para cortar a gordura presente no prato, equilibrando os sabores.
Antes de passamos ao prato de carne, foi-nos servido um Sorbet de Bergamota, uma fruta cítrica, que faz a vez de tira gostos, para fazermos reset ao nosso palato.
Nesta altura já íamos a meio da refeição e podemos fazer um pequeno balanço: notava-se o interesse e a atenção dos empregados na explicação dos pratos, em aconselhar e sugerir refeições nas mesas em redor, onde se ouviam os mais variados idiomas.
Uma nota: a refeição foi acompanhada por uma bebé de um ano que se distraiu com a agitação à sua volta e que foi muito bem acolhida pelos empregados, que foram incansáveis em garantir que tudo estava bem com os clientes do restaurante.
Por esta altura, o ambiente do Emprata já se tinha alterado: as famílias com crianças pequenas deram lugar a outras famílias, casais e pequenos grupos que estavam a passar férias juntos e sentia-se um maior rebuliço. Estávamos na hora nobre do jantar, mas o facto de haver um grande distanciamento entre as mesas, permitia que cada refeição decorresse sem sobressaltos.
Entrando de novo na dança de pratos, chegou o momento de degustar uma Codorniz do Landal, Tupinambor - uma planta - e vieiras caramelizadas (27,50€), que foi acompanhado por um tinto do Douro, o Diálogo, com Tinta Roriz, um vinho frutado e leve.
Antes do café, vem a sobremesa: um Sorbet de ginjas com uma pedra negra (mousse de chocolate negro 70%, para criar um sabor amargo e fazer um balanço de sabores), mousse de nata fresca com granulado de chocolate (10,50€) - Chocolate, Ginjas, Ginjinha d’Óbidos e Nata Fresca. Uma reinvenção do bolo Floresta Negra que foi acompanhada por um cálice de Vinho do Porto Ruby.
A refeição terminou com o tradicional café numa refeição que teve bem presente os sabores atlânticos e do Oeste.
Estes são alguns dos pratos, mas há mais para explorar como o Ceviche de peixe da lota, chícharo e citrinos (16€) ou o Cremoso de bacalhau e limão de Mafra (12,50€), nas entradas, o Polvo de Peniche, feijoada Branca e agrião da Ribeira (24€) ou a Barriga de leitão, aipo, coração alface e alho negro (28,50€), nos pratos principais ou a Ode à Cornucópia de Alcobaça (7,50€), nas sobremesas, entre outros.
Sejamos honestos: esta não é uma refeição para todas as carteiras, mas é importante perceber que aqui, além de degustarmos a refeição, estamos a ter uma experiência – de sabores, de texturas, de apresentação. Um restaurante para voltar a experimentar num momento especial.
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