“Tudo começou em junho de 2019, tínhamos um pequeno, mas catita, espaço no Bairro Alto. Vim viver para Portugal três anos antes disso acontecer. Adoro a cidade, adoro a proximidade que temos com boa comida, bons ingredientes e o facto de aqui as pessoas apreciarem realmente comida. Antes estive em Berlim, e não gostei assim tanto”. É desta forma que o chef britânico Shay Ola começa por resumir a origem do Queimado, e a sua própria jornada, num almoço com jornalistas, mas numa nova localização.
O Queimado já não está no Bairro Alto. Pegou “nas malas” e instalou-se do outro lado do rio Tejo, mais precisamente no Palms Dr. Bernard, na Costa da Caparica, mesmo em frente à praia do Norte. Tornou-se num restaurante pop-up, e por aqui vai ficar até novembro. “Água e fogo parecem-me uma boa combinação”, confessa. Depois disso, partirá de novo, numa espécie de digressão pela Europa, como se de uma banda se tratasse, começando por Berlim.
“Eu cozinho há cerca de 10 anos e o Queimado surge porque eu comecei por ser conhecido pelos meus churrascos”, explica o chef Shay Ola, ao recordar o seu passado em Londres, onde fazia churrascos durante o verão, com amigos, família e vizinhos. Quando deu por si, estava a cozinhar para 300 pessoas.
Shay é sobretudo um criativo, que depois de deixar o Reino Unido, em 2013, passou por Paris e Berlim, mas foi Lisboa que ganhou o seu coração. A veia artística nota-se, não só pelo seu passado no mundo da música e do design, mas pelos pratos que apresenta. O Queimado é um restaurante de cozinha de fogo, mas a ideia, explica, é que o sabor “fumado”, seja subtil e não o principal. A comida tem de ser sofisticada, mas com preços acessíveis. Produtos frescos e locais, onde o peixe e os vegetais são os protagonistas, são o seu cartão de visita, com um ou outro ingrediente mais inusitado.
Isso salta à vista nos pratos que tem na carta, que são bastante simples, tanto em termos de apresentação, como de ingredientes. Mas o segredo está nas combinações. Exemplo disso é o Courgette com queijo fresco e ervas aromáticas (7€), o prato de Tomates Grelhados, com rodelas de ameixa e daikon (8€), a Couve coração grelhada regada com molho X.O, um molho picante feito a partir de frutos do mar, e coentros (8€), nos pratos exclusivamente com vegetais.
Nos pratos de peixe podemos degustar umas Alcachofras com sardinha curada e pimentão marinado (7€), o Mexilhão com kohlrabi e óleo de cogumelo shiitake (8€), o Lírio acompanhado com morango e pepino (12€) ou Pescada com quiabo e tomate fermentado (15€). No campo da finger food encontramos a Sandes de lula frita, alface iceberg e maionese de limão (10€), que é também o best-seller do restaurante.
Apesar de o peixe e os vegetais serem os protagonistas deste menu, há opções de carne como o Cachaço de Porco Preto, acompanhado com berbigão e batatas (15€), o prato preferido do chef, ou a Sandes de Porchetta com massa de pimentão e funcho (9€).
Nas sobremesas há Sorvete de Melão e lúcia-lima (5€), que serve também de tira gostos, e Gelado de Fior di Latte, abacaxi, chocolate branco e amendoim (6€), um prato que é uma reintrepretação de outro que tinham na carta do restaurante do Bairro Alto e que foi criado para o evento Chefs on Fire.
Mas pode haver mais opções para lá dos habituais. Tudo depende do que houver em termos de matéria-prima e há pratos do dia cujos produtos podem ser transformados em outros pratos. A ideia é fazer-se o aproveitamento da comida ao máximo, seguindo-se uma política de sustentabilidade.
Os almoços de quarta a sexta-feira, servidos entre as 13h e as 15h, têm um menu especial (18€) que inclui dois pratos do dia à escolha do chef e uma bebida — que pode ser vinho, cerveja ou sumo.
Cocktails batizados com as influências musicais do chef denunciam o seu passado na música, como o Pink Floyd, com mezcal, morango, baunilha e menta (10€) ou o Placebo, com chá de hibisco, menta, limão e soda (5€), uma opção sem álcool.
Uma das especialidades da casa são os cocktails granizados, como o Round & Round, uma frozen margarita feita com tequila Don Julio, néctar de pêssego, triple sec e lima (8€) ou o Black Ice, um frozen whiskey sour com Johnnie Walker Black, syrup de gengibre, bitters e lima (8€).
O Queimado tem ainda uma marca própria de kefir sodas a Botanicals Inc., com sabores como Pêssego e Chá Branco, Gengibre e Capim-Limão, e Melancia e Menta (3,80€), e a carta de bebidas ainda inclui cervejas artesanais portuguesas e várias referências de vinhos naturais.
“Aqui a comida é o elemento principal, os cocktails são um complemento”, explica Shay, fazendo referência ao Rove, o restaurante do hotel Le Consulat, no Bairro Alto, também da sua responsabilidade, e onde os cocktails são o destaque.
Por ser um chef acidental, Shay Ola é também um espírito livre. A versão pop-up é aquela em que se sente mais confortável e esta oportunidade de trazer o seu restaurante para outras localizações é, para já, o seu modo de cozinhar. A experiência na Costa da Caparica correu tão bem que, apesar de terminar em novembro, já está na calha uma nova versão no próximo ano.
“Para mim e para a equipa, sair da cidade e estar mais perto da natureza funcionou muito bem, porque os últimos anos têm sido uma luta. A ideia de mudar de cenário foi a motivação número um”, partilhou ainda, relembrando a pandemia e todas as restrições que o setor sofreu nos últimos dois anos.
O restaurante está aberto de quarta-feira a domingo, com serviço permanente entre as 13h e as 00h. A acompanhar a comida está uma programação cultural, de mercados a DJ sets, sobretudo durante o fim de semana. A programação semanal é anunciada no Instagram do restaurante.
No final do almoço, Shay Ola resume o espírito do Queimado: ”É um bom lugar para apreciar a vida. Se quisermos comer bem, há boa comida. Se quisermos beber, há opções”.
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