Aqui a vergonha fica à porta. Assim que entramos no Museu Erótico de Lisboa (MEL) – filho pródigo da ‘Pensão Amor’ e que pretende ser o novo espaço de culto da noite lisboeta – a curiosidade em torno daquilo que nos espera toma conta de nós. A entrada é composta por sete vitrines que, no seu interior, contêm várias peças em gesso de diversos formatos criadas pelo artesão João Cruz Malheiro. Uma flor, o icónico coelho da Playboy, uma malagueta, uma arma ou um coração são algumas das figuras em exposição e que remetem para o mundo do erotismo. Mas mais do que meros expositores, cada um dos armários amarelos representa as diversas fases do amor (Busca Inconsciente, Motivação, Desejo, Impulso, Excitação, Orgasmo e Resolução) e que o visitante é desafiado a escolher consoante a fase que mais se assemelha à sua vida real. Em seguida deverá retirar e partir o objeto selecionado numa prensa existente no local e ler a mensagem que se esconde no seu interior. Mas qual o objetivo deste conceito? Despertar os sentidos dos clientes.
"Queremos brincar com os sentidos e com as emoções. Aqui começamos com essa brincadeira e pela parte da imaginação, e depois passamos para a parte da comida e da bebida que tem toda a componente erótica", refere Penélope, responsável pelo MEL, sobre este preâmbulo do espaço.
Consoante aquilo que a sorte lhe reservar para o resto da noite, o cliente tem duas opções: “pode virar as costas” e ir embora ou entrar e descobrir o que se esconde no interior do MEL. "Eu costumo dizer que a partir daqui não tenho nada a ver com aquilo que acontece ali dentro", diz, entre risos, durante o evento de apresentação aos jornalistas.
Cicciolina e Jeff Koons, os protagonistas da decoração erótica e provocante
As passarmos as cortinas de veludo vermelhas do MEL, somos transportados para outro ambiente. Iluminado por uma vez vermelha, o espaço conta mais de uma dezena de mesas redondas e duas cadeiras transparentes elevatórias que podem ser usadas pelos clientes ou nas noites de espetáculos. Mas o que chama mesmo à atenção é o extenso mural que percorre as paredes deste bar e restaurante e os seus dois protagonistas: o artista americano Jeff Koons e a estrela pornográfica italiana Ilona Staller, conhecida por Cicciolina, em momentos que deixam pouco à imaginação.
Ao artista plástico Diego Muñoz coube a responsabilidade de recriar as icónicas fotografias do ex-casal que deram origem ao projeto ‘Made in Heaven’ que gerou grande controvérsia nos anos 1990 devido ao seu cariz sexual e pornográfico. Mas mais do que a simulação de atos sexuais, com este trabalho o artista pretendeu transmitir "a ideia do Adão e Eva, da Criação e do início da Humanidade. Por isso é que a parte sexual é um pouco mais hardcore e intensa, mas depois tinham todas essas alusões à natureza e uma certa delicadeza", explicou a responsável do MEL sobre esta pintura.
O Museu Erótico é um projeto que estava na calha há já alguns anos. Inicialmente a ideia era que este espaço fosse integrado nos pisos superiores da 'Pensão Amor' mas acabou por se autonomizar e abrir portas em novembro no número 18 da Rua de São Paulo, localizada no Cais do Sodré. Apesar de estarem a metros de distância um do outro, são espaços completamente distintos. "O erotismo da ‘Pensão Amor’ é diferente. É um erotismo muito mais do corpo feminino e aqui remete muito mais para o ato sexual", clarifica Joana Gomes, colaboradora do grupo Mainside que detém a 'Pensão Amor' e o 'Box Lodge', uma nova forma de alojamento que conta com um espaço no Porto e outro em Coimbra.
A componente dos espetáculos surpresa
Desde a sua inauguração, que teve lugar a 11 de novembro de 2021, o Museu Erótico de Lisboa só teve um espetáculo, mas a ideia é que estes aconteçam de forma regular. Sem calendarização fixa e divulgação nas redes sociais, os espetáculos do MEL pautam por não serem convencionais: atuações com cadeira, leituras, performances e artes circenses são alguns dos formatos possíveis e que prometem surpreender o público. "Os espetáculos são surpresa. As pessoas vêm para estar no espaço e tanto podem ter ou não", refere Joana Nunes.
Para além das cadeiras elevatórias, o MEL conta ainda uma sala privada, localizada no piso superior, que poderá funcionar como um anfiteatro e auxiliar nos espetáculos. Outra das vantagens deste espaço é o facto de poder ser utilizado para outros fins, como é o caso de jantares de grupo privados. Existe ainda um DJ que, todos os dias, vai por música neste espaço noturno que de museu só tem mesmo o nome. "É um museu no sentido nos transportar, a nível mental, para certas emoções e certas experiências", clarifica a responsável do espaço.
Uma carta feminina e explosiva onde os talheres são as mãos
"A nossa carta é feminina, delicada e erótica. Os nossos cocktails têm uma base muito doce. Não é muito forte nem muito fraca, é balanceada", explica o cocktail master deste espaço sobre o conceito por detrás da carta das bebidas. White Cosmo (vodka, licor de Eldelflower Cointreau, Xarope de açúcar, Lima, Bitter de limão e água lisa), Lavender Daiquiri (Rum branco, leite de coco, lima, sumo de ananás e espuma de lavanda) e Blubble Bath (Gin, Chambord liqueur, água lisa, sumo de maçã, lecitina de soja e gelo seco) são apenas três dos 11 cocktails disponíveis e onde todos os detalhes fazem a diferença. A base dos copos são um jogo que, os casais, podem jogar entre si enquanto esperam pelo jantar ou pelo espetáculo.
David Joudar, chefe executivo do grupo Mainsite, é o responsável pela criação da ementa do MEL que, tal como esclarece, pretende brincar com as papilas gustativas do cliente incorporando elementos afrodisíacos e algum erotismo na confeção dos pratos e sobremesas. As combinações improváveis entre o doce, o salgado e o picante são a estrela desta carta.
"O objetivo é agarrar em produtos que não são prováveis, fazer testes, ver receitas de outros países e depois é tentativa erro. Também tento trabalhar com a equipa que dá os seus imputes. Toda a carta tem um bocadinho de cada [um dos elementos da equipa]", refere o chef sobre este menu que será renovado de seis em seis meses. Para além da comida e da loiça invulgar onde é servida os pratos, o mais surpreendente é a inexistência de talheres, algo que obriga o cliente a usar as mãos e a imaginação na hora de comer. "Todos os pratos foram pensados para complementar os cocktails e tudo é comido à mão. Não há talheres. As pessoas podem lamber os dedos, lamber pratos… Isto é uma forma de irmos buscar a sensualidade, brincar com o lamber dos dedos e sentirmos o sabor das coisas."
Mas será que os clientes mais tímidos conseguem desinibir-se na hora de comer? David Joubar explica que, parte do seu papel, é tentar pôr o cliente à vontade para explorar o menu sem qualquer preconceito e tabu. "Existem pessoas que chegam aqui e ficam com algum receio do que é que poderão encontrar. Quando estou cá tento sempre ir à mesa, explicar o conceito dos pratos e brincar com o cliente. E depois a partir daí já fica à vontade, já põe os dedos, já lambuza, já diz ao marido ‘Olha lambe, come’ e é muito giro quebrar esse gelo," conclui.
Comentários