A chuva que se fez sentir em dezembro deu tréguas para nos receber na Ericeira. Esta foi a primeira de várias surpresas na nossa passagem pela região. Mesmo em frente à praia do Sul, encontramos o nosso destino final, o restaurante de Katharina Grafl, uma austríaca que se apaixonou pelo nosso país de tal forma que por aqui está desde 2017.
O Balagan é um resultado da pandemia. Sem saber, a ideia começou a ser cozinhada por Katharina quando em 2020 se viu sem trabalho, depois do encerramento do Selina, espaço onde estava, no primeiro de vários confinamentos. Em 2020 tudo fechou, a vida ficou em suspenso, mas foi o momento em que pensou: “vou fazer alguma coisa para mim, para me manter ocupada, algo original”, explica.
Inicialmente cozinhava em casa, para amigos, mas o passa palavra funcionou tão bem que acabou por fazer uma proposta ao Selina para usar a sua cozinha. Da casa dos amigos para o take-away na Ericeira foi um pulo. O sucesso deveu-se talvez ao facto de ser um tipo de cozinha único na Ericeira – e arriscamos a dizer em Portugal. “Amo esta cozinha (do Médio Oriente) e os ingredientes básicos também são usados na cozinha portuguesa, conseguimos os ingredientes frescos facilmente”, acrescenta.
Esteve em modo pop-up até janeiro de 2021, também no Selina, e a procura por um novo espaço deu lugar ao edifício que encontramos na praia do Sul. O que já foi lugar de discoteca e de snack-bar de praia, é hoje o Balagan – palavra hebraica que significa caos, mas um caos simpático como elucida Katharina – num restaurante que foi buscar inspiração às ruas de Israel, mas que quer ter um reflexo da comida portuguesa como podemos perceber por um dos best-sellers do menu: camarão à Bulhão Pato com pão pita (12,50€), uma das entradas.
“Foi uma grande surpresa, é um edifício grande com dois pisos, uma grande responsabilidade. Mas é uma oportunidade que não iria aparecer tão cedo”, partilha Katharina, que inaugurou o restaurante em setembro de 2022.
O restaurante está dividido em três espaços. No piso térreo encontramos o Deli Balagan, basicamente um café e esplanada que funcionam como apoio de praia e com um menu reduzido. Aqui podemos comer algo tão simples como um pequeno-almoço ou snacks para o almoço, refeições mais ligeiras num espaço que convida a ficar, que nos abraça e nos faz querer desfrutar da vista à nossa frente. Uma nota: o restaurante é pet friendly e algumas mesas estão reservadas para co-working.
No Deli podemos experimentar pratos como o pequeno-almoço Balagan (8,50€), composto por húmus, labneh, salada picada, azeitonas temperadas, ovos mexidos com za‘atar e pão pita, uma tigela de granola (5€) ou até uma oriental frenchie (7,80€) que é uma babka de chocolate estilo rabanada, labneh doce, tahini, dukkah e molho de frutos vermelhos. No campo dos petiscos há pratos como rosbife (9,80€) com tahini, sementes de tomate, zhug, salada de ervas e picles de cebola roxa, ou um sabich (7,50€) de húmus, beringelas fritas, tomate cereja, grão-de-bico e pepino.
No segundo piso está o restaurante, lugar onde é possível almoçar e jantar, e o rooftop, que para já está destinado aos dias de Sol, assim o tempo o permita. O menu mantém a inspiração mediterrânea e no Médio Oriente, cruzando com a culinária e produtos portugueses. Nas entradas além do já referido camarão à Bulhão Pato, encontramos também borrego temperado e salsa (9,50€). Nos pratos principais podemos degustar choco e batata-doce (12,50€), a clássica shakshuka (7,50€) ou koftas de borrego em pão chato (14,50€) com labneh. Há também alguns pratos vegetarianos como é o grand Balagan mezze com húmus, babaganoush, falafel de pipocas – feito com farinha de verdadeiras pipocas, o que confere uma certa leveza ao prato - e salada que pode ser pedido para uma, duas ou quatro pessoas. Nos doces, temos gelado artesanal de chocolate e tahini (5€).
No menu de bebidas, destaque para os cocktails de autor pensados para fazer pairing com os pratos do menu. Para os apreciadores de cerveja há duas opções artesanais, da Ericeira, a Mean Sardine e a Botão. A seleção de vinhos é feita de marcas independentes, de várias regiões do país, e também diversas referências de vinhos naturais. Na dúvida peça sugestões ao Tiago, chefe de sala, sempre pronto a ajudar na melhor combinação.
A carta de inverno do restaurante tem sobretudo aquilo que chamamos de comida de conforto, com recurso aos estufados, com ingredientes como rabo de boi a combinar com influências da gastronomia libanesa, ou peixe com molho chimixuri. A especiaria mais usada na cozinha do Balagan é cominho e os sabores não desiludem. Uma forma de experimentar ingredientes bem conhecidos da gastronomia portuguesa, mas com combinações completamente diferentes.
Um projeto feito por mulheres
Katharina Grafl é a mentora do projeto, mas com ela está uma equipa de mulheres. É o caso da chef Teresa Silva, que acompanha a própria proprietária na cozinha.
Já o projeto de design de interiores ficou a cargo de Ingrid Aparicio, do Studio Bacana, também localizado na Ericeira, que imprimiu um ambiente minimalista, mas ao mesmo tempo acolhedor e sofisticado. A história entre a austríaca e a espanhola começou precisamente na Ericeira, uma vez que Katharina foi uma das primeiras pessoas que Ingrid conheceu em Portugal, quando ambas trabalhavam no Selina Ericeira.
“A ideia era criar uma casa de praia para todos, onde tanto se possa vir com areia no pé e roupas leves, mas também ter um espaço mais fancy, para a noite”, explica Katharina, em relação à visão que tinha para o restaurante.
A concretização demorou três meses, com um orçamento apertado, mas com um resultado equilibrado. “Eu tento sempre fazer espaços que sejam convidativos e onde consigamos estar todo o dia, que sejam confortáveis”, explica Ingrid Aparicio.
Para além da ideia de casa de praia, uma das coisas que Katharina e Ingrid tiveram em mente foi fazer uma homenagem ao ambiente da Ericeira, onde os pescadores e os toldos às riscas são cartões de visita da região.
“A minha ideia para o Balagan é trazerem os vossos amigos e família e que consigamos servir comida para partilhar entre todos à mesa, mas ao mesmo tempo oferecer boa comida e bons vinhos”, conclui Katharina.
O SAPO Lifestyle visitou o Balagan a convite do restaurante.
Comentários