O seu avô, Mario Buccellati, fundou a maison Buccellati em 1919. Alguma vez pensou que o seu futuro passaria pelo negócio da família?
Eu? Não. O meu sonho era ser baterista. Atualmente ainda toco, mas desde os 25 anos que queria ser músico, mas depois disse a mim próprio: "Não és um grande baterista." E o meu pai disse-me: "Queres tentar entrar para a empresa? Tenta. Dou-te um mês." E, passados 35 anos, ainda estou na empresa.
E como é que correram os primeiros meses?
Foram muito difíceis. Fui estudar para os Estados Unidos da América, tirei o meu curso, voltei e pensei que era um génio, mas o meu pai disse-me: "Está bem, Luca. Sabes que mais? Vai ver as pessoas a trabalhar, a gravar as peças e a colocar as pedras". Passei sete anos a trabalhar ao lado deles e achava que era o maior.
Somos uma das últimas empresas a fazer tudo à mão
A maison está sediada em Milão e ficou famosa por criar o estilo Buccellati. Como é que o descreve para alguém que não está familiarizado com a marca e não conhece as suas criações?
Por vezes é tão difícil porque temos de explicar que, em primeiro lugar, tudo é feito à mão. Somos uma das últimas empresas a fazer tudo à mão. Em segundo lugar, todas as pessoas que quiserem encomendar uma peça da Buccellati têm de esperar, pelo menos, um ano por uma peça, seja ela qual for.
Há uma longa lista de espera...
Sim, uma lista de espera muito longa e depois temos de esperar que a peça seja produzida. O colar Il Giardino demora um ano e meio a fazer. Quando dizemos que é feito à mão, é mesmo feito à mão. Isto faz sempre sentido para as pessoas porque quando temos a oportunidade de, juntamente com os nossos parceiros, trazermos um artesão e mostramos às pessoas a forma como fazemos as nossas joias, os clientes compram mais e ficam à espera. Tento sempre explicar que a Buccellati é totalmente diferente no que diz respeito ao design e ao estilo.
A marca é conhecida por manter a tradição italiana de goldsmithing. Que tipo de técnicas e materiais utilizam nas vossas criações?
Para o goldsmithing é sempre algo mais casual. Utilizamos ouro amarelo, ouro branco e, por vezes, fazemos algo com platina, mas é muito raro, porque a platina é muito difícil de trabalhar. O que é interessante é que tentamos sempre combinar ouro branco e ouro amarelo. As grandes marcas trabalham apenas ouro branco e diamantes, fazendo peças super cintilantes e super brilhantes. Na Buccellati os clientes nunca irão encontrar diamantes de cinco quilates e G-flawless. Nem pensar. Encontram pedras diferentes, como água-marinha, turmalina ou turmalina paraíba, mas nunca uma pedra grande.
Então a mistura de dois tipos de ouro é algo muito específico da marca?
Sim. Isso pertence à identidade da Buccellati.
A Macri, Étoilée e Hawaii são algumas das vossas coleções mais icónicas. Na sua opinião, o que é que as torna tão especiais e qual é a sua favorita?
Para ser sincero, não tenho uma coleção favorita porque gosto de todas. Não é por terem o meu nome escrito no interior, mas é porque cada coleção é diferente embora o estilo, o sabor e o cheiro das joias seja sempre o mesmo. Algo fantástico na Buccellati é que ainda fazemos peças únicas. Cerca de 90% das peças aqui expostas são únicas. Só existe um exemplar. A senhora sortuda que a comprar, vai ser a única dona.
[A mistura de ouro branco e amarelo] pertence à identidade da Buccellati
É como na alfaiataria, com as peças bespoke...
Absolutamente, são peças bespoke [feitas por medida]. Digamos que se alguém vier ter comigo e disser: "Luca hoje vendi determinado colar, mas gostaria de ter um igual para mim". Eu respondo: "Nem pensar." Não produzimos peças repetidas.
Alguns dos vossos designs mais emblemáticos são desenvolvidos em torno de pedras diferentes. De que forma é que o estilo e os designs da Buccellati evoluíram ao longo das últimas décadas?
Em termos de design existem três grandes designers na Buccellati: o Mario Buccellati, o Gianmaria Buccellati e o Andrea Buccellati. Os três são muito diferentes, apesar de as suas criações parecerem iguais. O Mario fazia esboços muito rápidos e ainda temos cerca de mil esboços feitos por ele. O Gianmaria desenhava com mais precisão, mas continuava a desenhar rápido. O Andrea é mais geométrico, é mais empenhado. Vê-se exatamente, a partir do esboço do Andrea, o produto acabado.
E de que forma é que a maison tem tentado atrair as gerações mais novas?
A forma como tentamos atrair os jovens é através de uma nova coleção batizada de Opera Tulle Collection. Remete-nos para o estilo icónico da marca e com preços a rondar os 3.000 euros. Por isso, os jovens que vêm à nossa loja, em vez de gastarem 1.000 euros num telefone, podem comprar uma peça da Buccellati.
Como é que descreve o cliente da Buccellati?
O cliente da Buccellati é, na verdade, toda a gente. Hoje em dia é ainda mais fácil usar uma peça de joalharia Buccellati porque temos coleções mais acessíveis e temos pessoas mais novas a visitar as nossas lojas. Já vi pessoas a usarem a White Collection da Buccellati com uma camisa branca, calças de ganga, ténis e a andar de bicicleta. São peças fáceis de conjugar. Não é preciso ser alguém importante para usar este tipo de joias. Se formos subindo de segmento, é diferente. Uma coisa são joias no valor de 3,5 milhões de euros, mas temos muitas coleções por onde escolher entre os 7.000 e os 15.000 euros. Toda a gente vai à Cartier e a outras marcas, mas quando se compra uma peça Buccellati, fica-se cliente para sempre. Para sempre.
Têm coleções que se adequam a diferentes tipos de clientes e a diferentes gerações…
Exatamente. Quando eu era mais novo, a idade média das pessoas que entravam na loja era de 45, 50 anos. Agora é de 30. Mudou tudo.
De que forma é que a marca encara a sustentabilidade no âmbito da sua atividade?
Prestamos muita atenção à sustentabilidade. Isso significa que, em todas as etapas, temos uma regra para tudo. No caso das pedras, temos todos os certificados, no ouro, compramos apenas um determinado tipo de ouro, ouro reciclado. Por isso, tudo o que usamos é 90% reciclado. Nos dias que correm praticamente ninguém compra ouro puro. Nós compramos ouro usado, derretemo-lo e depois usamo-lo nas peças. É uma questão de sustentabilidade, pois poupa-se muita energia, é menos dispendioso e é bom para o planeta. Para ser sincero, começámos a fazer isso há mais de 10 anos, quando ainda não estava na moda ser uma empresa comprometida em salvar o planeta, mas foi um conceito que o meu pai apresentou a toda a gente, inclusive comprar diamantes com toda a documentação. Precisamos de saber exatamente de onde eles vêm, saber exatamente quem os tirou do lote... Tudo.
Até porque o cliente também está muito mais informado...
Sem dúvida. O cliente pergunta-me e depois temos todos os papéis a dizer que está tudo perfeito.
Hoje em dia é ainda mais fácil usar uma peça de joalharia Buccellati porque temos coleções mais acessíveis
Sendo uma maison fundada e liderada por homens, mas que se dedica a criar joias para mulheres, o que tem em mente quando cria uma peça de joalharia para o sexo feminino?
É algo que se sente. Percebe aquilo que quero dizer? Não importa quem somos. Importa aquilo que sentimos quando colocamos as peças. Quando o Andrea desenha peças, depois de terminadas, nós experimentamo-las. Eu experimento-as a todas e olho para mim imaginando que sou uma mulher. Pergunto a mim mesmo se gosto daquilo que vejo e a minha resposta é: "Sim, adoro-o". É difícil ser um homem que faz coisas para mulheres, mas encontramos sempre uma solução. E temos sorte porque vendemos muito, a empresa está a crescer, por isso, está tudo bem.
O segredo é sempre pôr-se no lugar da cliente, certo?
Exatamente.
À semelhança do seu avô, que começou por vender sonhos ao expor os esboços e desenhos das suas joias na montra da sua loja junto ao teatro La Scala di Milano, que sonhos é que a maison vende à mulher moderna?
Essa é uma boa pergunta [risos]. Voltámos ao início do ano porque neste momento não temos stock suficiente para vender ao cliente uma vez que não temos tempo para produzir tudo. Por isso, temos uma grande lista de espera e eu disse à minha equipa: "Pessoal, temos de voltar atrás e começar a vender sonhos". Temos de fazer com que as pessoas percebam que estão à espera, mas que, no final, vamos entregar-lhes uma peça de joalharia lindíssima. Tentamos mostrar-lhes a forma como fazemos as nossas joias, através de vídeos e fotografias de peças semelhantes, e tentamos mimá-las ao oferecer-lhes presentes e jantares para que esperem e fiquem felizes. Cliente feliz, empresa feliz e Luca feliz.
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