O Palácio Ca'Bragadin de Pierre Cardin viu pela primeira vez uma retrospectiva das suas peças futuristas e uma nova coleção ecológica desenvolvida pelos seus ateliers.

A nova coleção retoma as silhuetas emblemáticas de Cardin, como o vestido trapézio e os detalhes geométricos, e aposta na responsabilidade ambiental. As peças são confeccionadas com stocks de tecidos da casa, poliéster reciclado ou fibras naturais de lótus ou bananeira de uma fábrica do Camboja.

O estilista, que morreu no fim de 2020, aos 98 anos, não gostava "que lhe desejassem feliz aniversário", mas queria comemorar o seu centenário, disse à Agência France-Presse (AFP) Rodrigo Basilicati-Cardin, seu sobrinho-neto e diretor-geral da empresa gestora.

Não houve celebridades no desfile, mas 120 dos 300 convidados eram donos das licenças que produzem mundialmente sob a marca Pierre Cardin.

O modelo construído pelo estilista, que a partir dos anos 1960 multiplicou excessivamente o número de licenças, é aquele que o seu herdeiro quer preservar, tentando controlá-las melhor.

Semana da Moda em 2023

"Continua a ser um pequeno império económico com estas licenças que ainda funcionam bem", mas "Cardin é um nome que foi marginalizado", explicou Arnaud Cadart, da sociedade de gestão de património Flornoy Ferri, à AFP.

"Continua a ser vendido, mas mais em países emergentes e entre clientes com pouca formação em luxo", acrescentou. Em Paris, "não é nada comparado à Louis Vuitton ou Saint Laurent. É muito diferente em termos de reputação e dinâmica comercial".

Após o desfile de homenagem ao pé de um foguete em Le Bourget, perto de Paris, em janeiro, e o que aconteceu no passado sábado em Veneza, a casa será incorporada oficialmente no calendário da Semana da Moda de Paris em fevereiro-março de 2023, 25 anos depois de Pierre Cardin a ter abandonado.

Rodrigo Basilicati-Cardin apoia-se na sua equipa “unida” do estúdio para enfrentar este novo desafio. "O meu trabalho é garantir que não saímos dos trilhos", afirmou. Não tem intenção de convidar um estilista externo para não "minar  a Pierre Cardin".

No entanto, "hoje é preciso um diretor artístico, uma personalidade. É correndo esse risco que o potencial" de uma marca pode ser ampliado, disse Olivier Gabet, diretor do Museu de Artes Decorativas, durante uma retrospectiva sobre a designer Elsa Schiaparelli (1890 -1973), cuja casa foi um grande sucesso com o diretor artístico Daniel Roseberry.

Algumas das peças de Roseberry foram usadas por Beyoncé e Lady Gaga.

O projeto de Pierre Cardin, que "foi baseado numa visão de futuro que era cósmica na época", pode hoje ser traduzido em "materiais inteligentes que recarregam baterias de telefones, regulam a temperatura do corpo ou são autolimpantes", imagina Ariane Bigot, vice-diretora de moda do salão Première Vision. "ADN e um nome forte" podem permitir que a casa se reinvente", disse à AFP.

No entanto, Arnaud Cadart tem as suas dúvidas. "Não há um legado criativo dos últimos 30 anos. Pierre Cardin assinou contratos de licenciamento, comprou casas, às vezes cidades inteiras (...) Não há comparação, a menos que o traço do sobrinho seja incrível", garantiu.