Em entrevista à Ultimate Beauty, Biscaia Fraga, o cirurgião que trouxe o equipamento para Portugal, explica como é feita a aplicação do dispositivo, desmistifica a alegada perigosidade dos lasers e das iluminações LED e ainda explica por que homens e mulheres reagem de modo diferente aos feixes de luz emitidos pelo dispositivo. «Os resultados no homem são mais espectaculares mas a mulher tem um sentido de apreciação estética diferente», assegura o especialista da clínica com o mesmo nome.

Porque é que é este tratamento é revolucionário face à grande evolução que a área da conservação capilar tem vindo a sofrer nos últimos anos?

É revolucionário, fundamentalmente, pela pesquisa que foi feita e pela experiência que foi demonstrada. Hoje em dia, há uma grande variedade de lasers. Há o laser cirúrgico, que corta. Há o laser que coagula, há o laser que retira pele.

Neste caso, os tais feixes de laser têm uma ação estimulante, uma ação física. Aquilo que se comprovou com este tipo de laser específico para o couro cabeludo é que, feito de acordo com a situação clínica, por isso é que este aparelho tem vários programas, ao fim de três meses está comprovado que estimula os folículos capilares.

O fabricante diz que há um resultado de 40%. Eu ainda não tenho essa experiencia, uma vez que tenho cá o aparelho há muito pouco tempo. A análise científica diz que este [dispositivo] tem uma capacidade de estimular objetivamente o couro capilar. No caso de uma pessoa que tenha um cabelo bastante fino e que tenha uma acentuada perda de cabelo, aquilo que ele faz é tornar o cabelo, ao fim de três meses, mais espesso, com uma textura, uma firmeza e uma consistência muitíssimo superior.

A parte inovadora deste laser é que é um tratamento totalmente indolor. É um tratamento conservador, que deve ser feito entre uma a duas sessões por semana, de acordo com a situação clínica do paciente, durante cerca de 20 a 25 minutos. E, ao fim de três meses, a pessoa vê resultados.

Aqui a particularidade é que, ao contrário da estimulação que atua a nível hormonal, quando é retirado o produto, o minoxidil, a situação começa a regredir, ao passo que a estimulação com o laser, como atua a nível do tecido e do próprio couro cabeludo, tem uma ação muito duradoura. É essa a grande diferença. Por isso, é que é muito inovador. 

iGrow

O iGrow é apenas a primeira fase do tratamento. Em termos mais práticos, como é que se processa essa intervenção inicial e como é que se conjuga e coordena com as fases seguintes?

Não é a primeira fase. É, digamos, um complemento do tratamento. Hoje em dia, um tratamento conservador é feito com laser. Depois, deve ser feita mesoterapia estimulante com minoxidil. E, depois, as vitaminas. O tratamento consta de três etapas e pode ser concumitante.

A pessoa faz o laser, de seguida é aplicado o minoxidil e um cocktail vitamínico ou, por exemplo, numa semana faz o laser e na semana seguinte faz a mesoterapia ou faz logo esse tratamento passados três dias, de acordo com a situação clínica. Em princípio, são três fases de tratamento, que inclui o laser, o choque vitamínico e a aplicação do minoxidil.

O fabricante do equipamento garante que, em 16 semanas de tratamento, consegue-se um crescimento de cabelo na ordem dos 40%. Uma pessoa que faça metade do tratamento em oito semanas regista um aumento de 20% e uma outra que o faça durante 32 atinge um crescimento na casa dos 80%. Há aqui uma proporcionalidade?

Neste tipo de tratamentos, o mínimo adequado são três meses. O ideal são seis meses de tratamento. Ao fim de seis meses, obtém-se um resultado sustentado. Ao nível do couro cabeludo, há autores que apontam para seis a nove meses de tratamento. Eu, para mim, acho que ao fim de seis meses a pessoa que se submete ao tratamento já tem um resultado consolidado.

Muitas pessoas ouvem falar em lasers e em iluminação LED e ainda se assustam ou, pelo menos, receiam este tipo de tratamentos. São mesmo seguros?

Hoje em dia, os lasers são cada vez mais seguros. Eu todos os dias utilizo o laser e vários tipos de laser. Só para dar um exemplo, o primeiro laser que surgiu foi devido à guerra. O grande objetivo do laser era dirigir com precisão cirúrgica misseis com capacidade altamente destrutiva. Mas o laser, hoje, é utilizado num dos órgãos mais sensíveis do corpo humano, que é a retina. Já ouviu seguramente dizer pessoas dizerem que foram fazer uma cirurgia com laser à retina.

O laser faz a fotocoagulação minuciosa dos vasos patológicos da retina, que podem romper. E, se houver um deslize ou um desvio desse laser, a pessoa pode ficar cega. Portanto, imagine a delicadeza que é. Hoje em dia, os lasers têm um rigor e uma precisão incríveis. Compreendo que existam pessoas que possam ter dúvidas mas o laser, hoje, é muito utilizado, por exemplo, nas neurocirurgias.

E calcula-se que, dentro de poucos anos, se vai deixar de abrir o crânio para se ir dentro do cérebro com o laser. Na cirurgia plástica, um dos dramas que existia era que o laser destruía a camada superficial da pele. Hoje em dia, tenho lasers que me permitem fotocoagular um vaso que está dois milímetros abaixo da pele e que não tocam na epiderme.

A epiderme fica intacta e vai fotocoagular o vaso. Esta tem sido uma das áreas que tem evoluído vertiginosamente. Em relação à cirurgia plástica, têm sido a física e a química que, nos últimos anos, têm dado um impulso à cirurgia estética de uma forma brutal.

Em relação à iluminação LED também não há motivo para preocupação?

Não. Têm é que, em primeiro, se saber utilizar. Isso é indiscutível! E, em segundo, tem que se dominar a matéria e têm que ser usados muito criteriosamente e por pessoas que sabem, como é evidente. Tenho apanhado muitos casos, por exemplo, dessa pandemia… Não foi uma epidemia, foi uma pandemia, do laser dos pelos.

"O laser dos pelos não foi uma epidemia. Foi uma pandemia..."

Biscaia Fraga, cirurgião plástico

Tenho visto aqui senhoras que parecem autênticas zebras, porque o laser foi utilizado com uma intensidade ou com um cumprimento de onda superior ao que deveria ter sido na realidade.

E, então, na zona onde foi aplicado o laser, a pessoa ficou despigmentada. Ficou uma autêntica zebra. E, depois, dá trabalho para se conseguir fazer pigmentação naquela pele, porque o laser não foi utilizado de forma criteriosa.

Se essa utilização tivesse sido criteriosa e se o laser tivesse sido regulado com rigor, isso não teria acontecido. Por exemplo, o laser dos pelos atua no folículo piloso, porque este tem uma pigmentação escura. Se o laser for utilizado com uma intensidade superior, destroi o folículo piloso e tira o pigmento da pele. Foi isso que aconteceu. Mas sucede o mesmo com todo o tipo de equipamento e material e, na medicina, ainda acontece muito mais.

Com uma determinada intensidade, obtém-se um bom tratamento. Com uma determinada dose, um medicamento é muito útil. Com uma dose exagerada, esse mesmo medicamento pode matar. Só para lhe dar um exemplo mais caricato, eu quase todos os dias faço toxina botulínica, o chamado botox. O botox é uma substância letal. Mata! Hoje em dia, conseguem-se tirar as rugas da face a uma pessoa com ele mas, se se aplicar uma dose exagerada, é um produto que é letal.

Nos EUA, o iGrow foi homologado pela Food and Drug Adfministration (FDA) para uma utilização caseira e pode ser facilmente adquirido na internet. Quais são as vantagens de fazer o tratamento com este aparelho numa clínica e quais os perigos de o fazer sozinho em casa sem qualquer supervisão?

A diferença fundamentalmente é que, como digo, o tratamento deve ser uma tríade terapêutica. Deve ser resultado da ação do laser, da ação medicamentosa e de uma ação antagonista hormonal. O laser veio dar um grande reforço ao tratamento conservador mas, se a pessoa só utilizar exclusivamente o laser, não tem o mesmo resultado que tem com este conjunto e com esta tríade terapêutica.

Existem diferenças entre homens e mulheres na utilização do aparelho e desta tríade de tratamentos no que se refere a resultados? A maneira de conseguir atingir objetivos no homem e na mulher é diferente?

É. É diferente. Até porque, por via de regra, o maior número de casos de alopecia e de falta de cabelo na mulher tem, sobretudo, a ver com a rarefacção. As mulheres apresentam um cabelo mais raro. Chegam aqui e geralmente dizem «Senhor doutor, vejo aqui umas grandes clareiras em determinadas zonas». Ao passo que o homem, por via de regra, tem zonas específicas sem cabelo, que são a região frontal e a região occipital, que podem ter uma ausência completa.

"O botox é uma substância letal. Mata!"

Biscaia Fraga, cirurgião plástico

Em ambos os casos, estamos perante uma situação de queda de cabelo mas, morfologicamente, esta tem características completamente distintas.

Essa é, portanto, a razão por que a própria estimulação do couro cabeludo da mulher é diferente qualitativa e quantitivamente, mesmo em relação ao laser. No homem, utiliza-se o laser num programa com uma maior intensidade e a quantidade de minoxidil que se aplica chega a ser o dobro da da mulher.

É, então, mais fácil resolver o problema na mulher do que no homem?

Hoje em dia, com a nova técnica cirúrgica, o homem tem resultados mais espetaculares, porque tem uma zona completamente sem cabelo e, passados seis meses, exibe um couro cabeludo com cabelo. Mas a mulher tem um sentido de apreciação estética diferente do homem. Para ele, o que interessa é ter cabelo. Para a senhora, o que lhe interessa é ter o cabelo mais denso.

Evidentemente que o tratamento acaba por ser mais fácil na mulher, quer o cirúrgico quer o conservador. O cirúrgico nas senhoras, na grande maioria, por vida de regra, implica apenas uma fase cirúrgica. No homem, habitualmente, são necessárias duas a três. O tratamento conservador no homem também é mais prolongado e, qualitativamente, mais intenso do que na mulher.

No que se refere aos implantes capilares, uma solução para pessoas com problemas de calvície que os tratamentos a laser não conseguem tratar, a técnica FUE, a sigla de Folicular Unit Extraction (Extração de Unidade Folicular), mais recente, tem vindo a afirmar-se face a uma mais antiga, que recorria à implantação de tiras de cabelo. Quais as principais diferenças entre as duas e que mudanças é que se têm operado a este nível?

Foi uma mudança radical, pode dizer-se. Foi uma mudança radical, fundamentalmente, na qualidade do implante. Hoje em dia posso garantir-lhe que, se um implante capilar for bem executado, o maior especialista desta área não conseguirá distinguir se está perante um implante ou perante cabelo natural. Ao contrário da tira, que até um leigo na matéria reconheceria de imediato. Diria logo algo como «Mas que cabelo tão esquisito!».

Nota-se a diferença. É uma diferença abissal. Quando vir alguém com cabelo implantado tipo piaçaba, tipo vassoura, tipo linha ou tipo boneca, estará perante um implante antigo, feito com tira. Além de haver uma cicatriz linear, o que não sucede no FUE. O que acontece é que essa tira era dividida em macrofolículos que tinham, por exemplo, quatro, cinco ou seis foliculos ou minifolículos que tinham dois ou três ou ainda em microfoliculos, que tinham um ou dois.

Isso é o que dá o tal aspeto de cabelo de boneca. A diferença, em termos qualitativos, é abissal. E, depois, também em termos quantitativos. Hoje em dia, fazem-se transplantes de 2.000 ou 3.000 folículos, ao passo que a outra técnica permitia muito menos. E o tempo, quanto a mim, ainda vai melhorar parte do tratamento, porque um implante capilar feito com todo o rigor neste momento leva entre cinco a oito horas.

Mas eu penso que, dentro de algum tempo, graças à evolução tecnológica, esse processo vai passar a demorar menos tempo. Nesta técnica de FUE, não se fica com nenhuma cicatriz na zona dadora bem como na zona receptora. E há também uma outra particularidade.

Pode passar perfeitamente despercebido um implante desta natureza, a não ser que a pessoa seja observada à lupa. Fica com um picotado de tal maneira ligeiro que não se apercebe que foi feito um implante. Aliás, houve aí senhores políticos e governantes que o fizeram e que ninguém percebeu. Escapou até aos jornalistas…

Texto: Luis Batista Gonçalves