Fumar acelera o envelhecimento. Deixar de o fazer atenua as marcas, pelo que é importante saber como cuidar da sua pele nesta fase.

«Um grande fumador de 40 anos tem uma pele semelhante à de um não fumador de 70». Quem o afirma é Fernando Ribas, dermatologista e membro da direção da Liga Portuguesa Contra o Cancro, cuja visão parece ser partilhada pela generalidade da comunidade científica.

É certo que o envelhecimento depende de fatores intrínsecos (idade, genética), mas sabe-se que, a par da exposição solar, o tabaco é o fator extrínseco que mais o acelera, afetando direta ou indiretamente todos os órgãos, incluindo a pele. Os danos podem não ser visíveis durante anos, mas são cumulativos e, quando se manifestam, o rosto é o seu melhor barómetro. A boa notícia é que, ao contrário da passagem do tempo, este fator é controlável por si. Quanto mais cedo se libertar, mais preservará a sua saúde e a sua beleza.

Por que está a envelhecer mais depressa?

Movimentos faciais repetitivos, como franzir os lábios para segurar o cigarro e semicerrar os olhos para evitar o fumo, podem contribuir, de forma mecânica, para a formação de rugas. Mas os principais responsáveis pela aceleração do envelhecimento são processos fisiológicos despoletados pelos constituintes do tabaco.

Vasoconstrição

Devido à ação da nicotina, os vasos sanguíneos, que “alimentam” as células através do sangue, contraem-se. «um só cigarro provoca uma vasoconstrição de cerca de uma hora e meia», refere Fernando Ribas. Este mecanismo faz diminuir a irrigação sanguínea dos tecidos (isquemia), o que afeta a pele de várias formas:

- Défices de oxigénio e de vitamina A

«Um fumador crónico mantém-se hipóxico (falta de oxigénio) durante quase todo o dia e isso acontece não só na pele, mas em todos os órgãos», salienta o dermatologista. Também a vitamina A, um antioxidante, fica diminuída. «Quanto mais vitamina A a pele receber, mais é capaz de neutralizar os oxidantes, substâncias que ficam soltas no organismo e aceleram o envelhecimento», explica o dermatologista.

- Secura

Como explica Fernando ribas, «a hidratação da pele consegue-se impermeabilizando-a com uma camada de gordura que evita a evaporação da água. Assim, uma pele sem gordura (alípica) forçosamente será seca por falta de água.» É o que acontece quando se fuma. «A camada de gordura da pele (filme hidrolipídico) diminui, pois há uma vasoconstrição sobre as glândulas sebáceas, que começam a produzir menos gordura», explica.

Alterações das fibras elásticas

Segundo a Mayo Clinic, «muitos dos mais de quatro mil constituintes tóxicos do tabaco danificam o colagénio e a elastina, fibras que conferem força e elasticidade à pele». A vasoconstrição também «altera o processo de produção de fibroblastos, células na pele que fabricam as fibras elásticas», afirma Fernando Ribas. O resultado, refere informação divulgada pelo site Medscape, são alterações análogas às da elastose solar (ocorre quando há exposição excessiva ao sol), com pele «menos elástica e mais seca, escura e eritematosa do que o normal».

Diminuição dos estrogénios

Segundo Fernando Ribas, fumar faz aumentar o hidroxilo-estradiol, «uma hormona que gasta os estrogénios (hormonas femininas)». A sua diminuição está, possivelmente, associada a um decréscimo do brilho e à reabsorção prematura dos ossos faciais, refere a Medscape.

Rosto de fumadora

Será que a sua pele (já) revela que fuma?

- Lábios e olhos rugas que irradiam em ângulo reto dos dois lábios e/ou dos cantos dos olhos.
- Edema inflamatório da conjuntiva do olho (quemose).
- Maçãs do rosto.
- Atrofia da parte média da face com a pele chupada e aspeto emagrecido.
- Proeminência dos contornos ósseos (maçãs do rosto vincadas).
- Pele tom acinzentado (se tem fototipo escuro), amarelado ou avermelhado (se tem fototipo claro).
- Pele seca e baça.

O que acontece se deixar de fumar?

Evitará a multiplicação e o agravamento desnecessários dos sinais de envelhecimento. Segundo o dermatologista, quando se põe fim ao vício os mecanismos de vasoconstrição e isquemia desaparecem, já que «se não se fuma, não há esse efeito imediato». As marcas de envelhecimento já presentes na sua pele poderão melhorar ligeiramente.

Segundo o dermatologista, «os fibroblastos ficam permanentemente alterados se estiverem muito tempo sujeitos a uma irrigação deficiente», mas alterações hormonais, de hidratação, oxidação e oxigenação são «reversíveis até certo ponto». Assim, «o aspeto da pele vai-se tornando, espontaneamente, mais agradável», sublinha Fernando Ribas, referindo-se a uma «melhoria do brilho», com diminuição do aspeto baço e acinzentado e a uma «ligeira melhoria das rugas».

Soluções da dermatologia:

Laser para as rugas superficiais, a pele baça e a flacidez

Os lasers de CO2 fracionado removem a camada superficial da pele através da abrasão e estimulam os fibroblastos, corrigindo rugas superficiais e flacidez. Os de fotorrejuvenescimento têm efeitos ligeiros de estiramento e atenuação das rugas e promovem a uniformização do tom.

Ácido hialurónico para as rugas profundas

Substância aplicada no sulco das rugas profundas, que se vão tornando mais superficiais devido ao efeito de preenchimento e à ação de estimulação da produção de fibroblastos, elastina e colagénio. É aplicada ao longo de várias sessões, com resultados progressivos.

Peeling para a pele baça e para o tom acinzentado ou avermelhado

Remove as camadas superficiais da pele através de abrasão química. Os superficiais requerem cinco a seis sessões, uma por mês, sem interrupção das atividades diárias. Os médios obrigam a estar em casa uns dias. Os profundos requerem anestesia geral.

Toxina botulínica para atenuar rugas de expressão

Substância injetada nos músculos associados a rugas de expressão na testa, cantos dos olhos ou lábio superior, para os relaxar. Os efeitos mantêm-se seis a oito meses mas podem durar mais. É o que sucede quando se perde o hábito de realizar o movimento que origina as rugas.

Doenças de pele associadas ao fumo

Fumar origina surtos de agravamento de:

- Acne
Devido à vasoconstrição que lhe está associada, fumar conduz a uma diminuição da irrigação das glândulas sebáceas. como resultado, é produzido um sebo muito seco, que é difícil de escoar, e as glândulas sebáceas tendem a inchar e rebentar.

- Psoríase
Não se sabe a que se devem os surtos, mas estatisticamente sabe-se que são muitíssimo mais frequentes nos fumadores. Atenção! Fumar atrasa o processo de cicatrização e aumenta o risco de doença vascular periférica e de cancros da cavidade oral e dos lábios.

Texto: Rita Miguel com Fernando Ribas (dermatologista e membro da direção do Núcleo Regional do Norte da Liga Portuguesa Contra o Cancro)