Segundo vários estudos internacionais, as onicomicoses atingem cerca de 20% da população adulta. O sexo feminino é o mais atingido devido à maior utilização dos serviços de manicures e pedicures. Mas se, por um lado, os sapatos abertos utilizados pelas mulheres facilitam o contacto com os fungos que se encontram no solo, por outro lado também os sapatos fechados e o microclima húmido que proporcionam estão na origem deste tipo de patologia.
A onicomicose é uma infeção da unha que é provocada por um de três fatores. Pode ter origem no contacto com o agente, pode ser provocado pelo contacto prolongado com um microclima húmido que facilita a instalação do agente fúngico e que permite que este se desenvolva e sobreviva ou ainda devido a uma falha nos mecanismos de defesa. A doença fúngica onicomicose pode ser causada por fungos filamentosos como por leveduras.
Uma delas é a cândida. Discutiu-se durante muitos anos se determinadas leveduras poderiam estar na origem das onicomicoses ou se simplesmente se aproveitavam de um determinado terreno propício, chamemos-lhe assim, à sua sobrevivência e desenvolvimento, mas não tendo qualquer efeito etiopatogénico. Hoje é ponto assente que algumas leveduras estão de facto na origem de certas onicomicoses.
As patologias dermatológicas que alteram as unhas
Os diabéticos são doentes mais suscetíveis às infeções por fungos ao nível da pele, e também o são ao nível das unhas, sendo habitual terem mais do que uma unha atingida por determinado fungo ou levedura. Algumas patologias dermatológicas com alterações ao nível das unhas, como é o caso da psoríase, podem propiciar também um terreno favorável à instalação de uma onicomicose.
Pode dar-se, ainda, o facto de um determinado doente ter simultaneamente alterações das unhas pela sua patologia dermatológica de base mas também uma onicomicose associada, de instalação secundária. Poderemos afirmar que estamos diariamente em contacto com fungos e que só na referida percentagem de 20%, cerca de um quinto da população adulta, há ocorrência da doença.
Os sinais a ter em conta
Os sinais clínicos são muito variados e poucas vezes poderemos ter a certeza de que determinadas alterações das unhas correspondem a onicomicoses. Há uma tendência generalizada de interpretar toda e qualquer alteração das unhas como onicomicose. Assim, na maior parte dos casos, é necessária a análise de material colhido da ou das unhas atingidas para exame micológico direto e cultural.
Este exame cultural, em que o material colhido é implantado num meio especial e introduzido, em seguida, numa estufa a determinada temperatura, a fim de se obter o crescimento de colónias, um processo que pode demorar cerca de seis semanas. Muitas vezes, uma simples hemorragia por baixo da unha pode simular uma onicomicose. Uma situação muito comum que gera equívocos em muitas situações.
Estas hemorragias, mais ou menos acentuadas, ocorrem em situações muito diversas. Por vezes, basta andar um pouco mais numa viagem turística ou exagerar um pouco mais na prática de ginástica ou ainda na ingestão de medicamentos antiagregantes plaquetários, como uma simples aspirina 100 mg ou alguns anti-inflamatórios não esteroides, entre outros.
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Os sintomas que exigem atenção
Quanto aos sintomas, eles só existem se houver processo inflamatório associado ao nível dos tecidos que rodeiam a unha, isto é, localização peri-ungueal, o que é raro e consiste logicamente no aparecimento de dor. A esse processo inflamatório peri-ungueal dá-se o nome de perioníquia e acontece com frequência nas empregadas domésticas que molham muito as mãos ou nas cabeleireiras, por exemplo.
A terapêutica recomendada
A terapêutica das onicomicoses, como acontece na maior parte das terapêuticas, é um exercício de técnica correta e bom senso, e deve ser de aconselhamento médico. Em primeiro lugar, ter a certeza quer pela clínica quer pela análise, que se trata de facto de uma onicomicose e não de outra qualquer patologia ungueal é fundamental. Ainda hoje, em certos locais, gente mal preparada arranca unhas.
Depois de confirmada a onicomicose, há que ensinar em primeiro lugar aos doentes determinadas regras com a finalidade de alterar o microclima das áreas em que elas ocorrem. Molhar as mãos o mínimo possível e, ao nível dos pés, secar muito bem após o banho diário e/ou usar meias de algodão e calçado não muito oclusivo são outras das recomendações. Quanto à medicação, existem dois grupos de medicamentos.
Os medicamentos tópicos, como o verniz Amorolfina, medicamento eficaz que pode ser utilizado isoladamente em casos de lesões distais, isto é, confinadas à extremidade da unha. Além dos medicamentos tópicos, temos também os medicamentos sistémicos, como o Itraconazol, a Terbinafina e o Fluconazol. O Cetoconazol deixou praticamente de ser utilizado desde que apareceu o Itraconazol, dada a sua toxicidade hepática relativamente frequente.
Outros cuidados a ter
Mesmo quando se utiliza a medicação sistémica deve associar-se a medicação tópica com a Amorolfina. Os outros tópicos que atualmente se encontram no mercado, alguns deles há longos anos e outros mais recentes, que passam na televisão, indicando que basta uma única aplicação são puro folclore! Há ainda que ter em conta que determinados medicamentos não podem ser utilizados com outros que se destinam a outras patologias.
Um dos exemplos mais típicos é o da utilização do Itraconazol em doente que estejam medicados com estatinas para uma hiperlipidémia. A duração da terapêutica é em média de seis meses para onicomicoses ao nível das mãos e de um ano para as onicomicoses ao nível dos pés. Ao nível dos pés e após obtenção da cura opto habitualmente pela continuação da aplicação de Amorolfina, uma vez por semana, dada a tendência para recorrências que estes doentes apresentam.
Texto: Luíz Leite (dermatologista)
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