Será que, de um modo geral, valorizamos tudo o que quem nos rodeia tem, faz, diz, revela e/ou pensa de positivo? Aprofundando a questão, será que valorizamos as pessoas que estão ao nosso lado? Por vezes, as pessoas questionam-me a respeito da minha forma tranquila e amigável de estar na vida e a minha resposta é invariável. Foco-me no que todas as pessoas têm de positivo. E, antes que me diga que a minha atitude é utópica, permitam-me que vos diga que, de facto, funciona.

E isso pode acontecer num casal, no seio familiar, entre amigos ou colegas de trabalho, num grupo de jovens ou de pessoas mais velhas ou em qualquer atividade coletiva. No entanto, opto aqui por me focar nos casais, uma vez que, na minha atividade enquanto coach, é uma área em que me têm procurado bastante. É comum o ser humano recordar todos os aspetos negativos de qualquer vivência, relevando os aspetos positivos, como deveria acontecer. Senão, pensemos juntos.

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Se nos concentrarmos, como numa receita de culinária, no objetivo de confecionar a felicidade, que ingredientes iríamos utilizar? O que poríamos na balança ou o que é que iríamos medir para chegarmos ao objetivo? O foco numa boa gastronomia é a utilização de todos os ingredientes que a engrandecem, certo? Mas, antes disso, para que todos os ingredientes estejam nas melhores condições para otimizar o resultado final, é preciso arrumar, limpar e organizar a despensa, o frigorífico, o forno e as bancadas, para tornar a cozinha mais apelativa.

Vamos limpar e arrumar tudo aquilo que pode ser suscetível de estragar a nossa receita, agindo preventivamente. Vamos limpar as discussões que não serviram senão para nos consumir energia e para estragar a convivência, vamos limpar os erros cometidos e, com eles, crescer. Vamos também afastar de nós as pessoas que nos suguem energias importantes e vamos gerir as nossas prioridades. Depois, vamos juntos, em casal, levar tudo isto ao ecoponto, para nos livrarmos do que não interessa.

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Durante o processo, é essencial que ambos se certifiquem que todas estas coisas negativas e destrutivas foram efetivamente aniquiladas. Agora, sim, nesta receita da felicidade vamos então colocar uma boa dose de bons momentos e uma boa medida de gargalhadas e sorrisos. Acrescentemos também aquelas situações de cumplicidade que nos levaram àquele tão almejado objetivo, não nos esqueçamos de tantos momentos de afetos, nem tão pouco de todas as partilhas em momentos menos bons, em que ambos sentiram o apoio e o conforto do outro e que nos ajudaram a dar as mãos e ultrapassar essas dificuldades.

E agora vamos aguardar… Enquanto a felicidade está a crescer no forno, imaginem um forno a lenha, que foi sendo alimentando para conseguirmos a temperatura ideal, vamos sentar-nos no sofá ou numa cadeira no alpendre, vamos dar um passeio, fazer uma viagem, ver o mar ou o que preferirem e focar o pensamento neste novo aroma da relação arrumada. Sentir esta renovada brisa e perceber que sim, que tudo vale a pena quando o que queremos de facto é sermos felizes com quem temos.

Devemos fazer isto ao invés de optar pelo caminho mais fácil, que é descartar logo o outro. Noto, nas sessões de coaching que vou fazendo com vários casais e até mesmo em pessoas individuais, que as pessoas tendem a complicar a simplicidade da felicidade, focando-se nos erros e nunca nos méritos de cada um. São poucos os que felicitam o outro pelos méritos e muitos os que o castigam pelos erros, esquecendo os primeiros e registando na pedra os segundos.

A importância da escolha da temperatura da água

Eu costumo dizer que não se arrefece a água com água quente e, nessa linha, quando não utilizamos o antídoto que temos na mão, estamos a potenciar a progressão do veneno. Numa relação de casal, tal como nas relações sociais, não é diferente. Eu costumo dizer que acredito no funcionamento de qualquer relação que tenha os quatro ingredientes que lhe vou indicar de seguida. Analise a sua relação e perceba se esses quatro requisitos essenciais não estão a ser descurados:

  • Respeito

Com o respeito, conseguimos perceber que cada pessoa é um individuo, com necessidade do seu próprio espaço e com comportamentos, posturas, opiniões e reações diferentes entre si. Para entendermos o outro, temos de o escutar e de o respeitar na diferença, nas limitações, nas crenças e na sua individualidade.

  • Cumplicidade

Esta é uma relação invisível e silenciosa mas, talvez, a mais rica. A cumplicidade permite que o casal comunique apenas com um olhar, com um silêncio, com o tom de voz ou até com um gesto impercetível aos outros. Faz com que a interação seja algo inexplicável e se torne num facilitador para a comunicação.

  • Amizade

Amizade é o ponto de união. Podemos se quiserem, chamar-lhe o berço da relação. É na amizade que tudo começa a acontecer e é também a amizade que faz com que as relações não se baseiem em futilidades como o sexo, quando visto como algo absolutamente primordial, ou, ainda, noutros tantos interesses sem essência ou conteúdo capazes de alimentar uma relação feliz.

  • Comunicação

Outra das grandes chaves de um relacionamento é a comunicação. Quando um casal não é capaz de comunicar, a relação deixa de fazer sentido. Naturalmente que, quando se assume esta perceção, podem-se criar mecanismos para reativar mas se nem assim conseguem não vale a pena. A partir do momento em que as partes do casal começam a falar mais com os confidentes do que com os parceiros, a perda de todas as anteriores torna-se eminente.

A primeira coisa a perder-se é a cumplicidade. Aos poucos, pode ir desaparecendo a amizade e, por fim, o respeito poderá acabar por perecer também. Com tudo isto, devem estar a pensar que me esqueci de referir o mais nobre sentimento, o amor. Mas não, não me esqueci. Apenas entendo que não adianta nada falar de amor se estas quatro chaves não estiverem na algibeira da relação. Com elas, esse tal amor irá também, com certeza, estar lá. Por favor, meus amigos, sejam felizes com quem têm.

Texto: Pedro Quaresma da Silva (coach certificado pela ICU Portugal)