Os exemplos mais extravagantes vêm dos Estados Unidos da América (EUA) desde o final da década passada, com muitas celebridades mundiais aproveitam as chamadas divorce parties para dizerem ao mundo, de sorriso aberto, que voltaram a estar disponíveis para amar e que o casamento já lá vai... O mercado norte-americano está tão evoluído neste sector que se pode encontrar de tudo um pouco para festejar o final do matrimónio e fazer a apologia da liberdade.
Assim, numa verdadeira festa de divórcio americana não podem faltar balões, cartões e um bolo alusivo ao ex-marido, todos eles atrevidos e cheios de humor. Nestes encontros, por norma exclusivamente femininos, são contadas muitas histórias sempre acompanhadas de uma banda sonora selecta, bem ao jeito do «I Will Survive», de Gloria Gaynor. Num gesto final e simbólico, são, por vezes, queimadas as certidões de casamento...
«And it’s the end», gritam! No Japão e na Austrália, estes eventos só ganharam maior popularidade a partir de 2014, atingindo o pico em 2016, o que tem motivado muitas críticas. «O conceito de divorce party é, além de completamente desnecessário, uma falta de respeito», critica Corrine Barraclough, colunista da edição local do jornal The Daily Telegraph. «Se o casamento não funciona, não temos que andar por aí aos pulos», insiste. Mas, e por cá, o que acontece?
Para curiosos e foliões
No nosso país, as celebrações de divórcio não são, para já, uma moda massificada, embora já existam há vários anos. Apesar do número deste tipo de festas ter vindo a aumentar, ainda não são muitos os espaços que providenciam eventos do género. Os interessados aumentam, ainda que de forma tímida e um pouco conservadora. Muitos procuram informações não resistindo à curiosidade que o tema lhes suscita.
No entanto, se fizer uma atenta pesquisa online, conseguirá encontrar alguns hotéis, restaurantes e empresas de eventos que já se especializaram neste tipo de festas. Foi o que fez Celeste Matos de 35 anos. «Foi por coincidência, andava navegar na internet e encontrei referências a estas festas. Achei muito engraçado e decidi fazer uma festa surpresa para as minhas amigas», assume, sem qualquer tipo de pudor.
Para Celeste Matos, o nome fictício que preferiu usar na entrevista, que apesar do divórcio mantém uma boa relação com o ex-marido, esta foi uma forma de comemorar um marco na sua vida, tal como celebra os aniversários e tal como celebrou o seu casamento. «Fiz um lanche com as amigas, cantámos karaoke e no final partimos o bolo!», revela. «O noivo, obviamente, foi deitado abaixo», conta ainda a anfitriã.
Programa de festas
É precisamente este tipo de evento que é mais comum em Portugal. Um salão, bebida e comida à discrição, música alegre, muita dança e karaoke. Há depois quem opte por celebrações diferentes, querendo recordar os bons tempos da vida de solteiro. E, nesses casos, o striptease e as danças mais sensuais são a eleição dos mais ousados. Nos EUA e na Austrália, esta é, pelo menos, a prática mais comum.
Apesar deste tipo de festa ser uma invenção feminina, segundo garantem autoras norte-americanas, alguns homens também já aderem a este ritual. Muitos deles optam mesmo por uma versão mais aventureira, convidando os amigos para um fim de semana radical, onde a sensação de liberdade poderá ser potenciada. Em vez de mulheres, há, sobretudo, muita bebida e atividades radicais e desportivas.
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Psicologia do divórcio
O aparecimento destes eventos reflete o facto de, hoje em dia, o divórcio estar a deixar de ser encarado como uma fatalidade. No entanto, a verdade é que para que uma separação não deixe marcas emocionais e seja superada da forma mais equilibrada possível é preciso seguir algumas estratégias e dar tempo ao tempo. Na opinião de Edgar Pereira, psicólogo clínico e psicoterapeuta, a realização deste tipo de eventos pode tornar «a questão superficial».
O especialista sublinha a importância e a necessidade de se fazer o luto da pessoa que se perdeu e de ser essencial um bom diálogo assim como o apoio dos amigos. «A partir daí, acaba por ser uma comemoração das novas opções de vida», acrescenta. Foi o que aconteceu com Celeste Matos, para quem esta celebração só foi possível por não terem ficado mágoas. «Acho que apenas se deve celebrar se as coisas ficarem bem resolvidas», considera.
«Mais tarde, o meu ex-marido soube da festa e não levou a mal!», afiança a portuguesa. É pois essencial que, tal como alerta Edgar Pereira, «haja sempre muito respeito pelo outro bem como por si próprio, de modo a não desrespeitar tudo aquilo em que se acreditou e se desejou anteriormente». «Mesmo que as coisas tenham acabado mal, não há razões para grandes euforias vingativas», acrescenta Corrine Barraclough.
O que fazer para evitar uma separação traumática
6 passos para superar, de forma equilibrada, um divórcio, segundo Edgar Pereira:
1. Enfrente o problema
O diálogo é essencial. Mantenha a comunicação pautada pelo respeito mútuo. «Se quer que as suas ideias sejam respeitadas, também tem de ter imenso cuidado com as ideias do outro», afirma Edgar Pereira.
2. Não use os filhos como arma de arremesso
Deixe os filhos fora da discussão e nunca recorra a eles para atingir o seu parceiro.
3. Desdramatize a situação perante os filhos
É necessário dar segurança à criança e explicar-lhe a sua importância. A desdramatização é essencial, tanto para ela, como para o casal.
4. Diga não ao isolamento
Nestas situações a pessoa tende a isolar-se, o que é um erro. O apoio dos amigos e familiares é muito importante para ultrapassar esta fase.
5. Procure apoio profissional
Não tenha medo de pedir auxílio. «A ajuda de profissionais experientes, quer psicofarmacológica (numa primeira etapa), quer psicoterapêutica (num caso mais intenso), pode ser indispensável», refere o especialista.
6. Faça uma viagem
Vá para fora, nem que seja cá dentro. O ato de parar e recarregar energias pode ser muito positivo e extremamente útil.
Espaços onde se organizam eventos para assinalar a separação
Há empresas especializadas em saltos de paraquedas e outras atividades radicais que podem converter-se numa forma de marcar uma nova etapa da vida. O Hotel Turismo da Covilhã, a Estalagem Cruz da Mata em Mangualde e a empresa de eventos Get High são algumas das que, nos últimos anos, promoveram este tipo de festas. Apesar de não existirem muitas em Portugal, no estrangeiro não faltam.
Basta fazer uma pesquisa na internet para as descobrir, sobretudo em Las Vegas, nos EUA, a par do Reino Unido, caso não queira ir tão longe. Christine Gallagher, uma empreendedora que se especializou neste tipo de celebrações, criou mesmo um site que reúne preciosas dicas e informações. «Uma festa destas pode ser uma maneira fantástica de uma pessoa recém-divorciada agradecer aos amigos o apoio que tem recebido», diz.
Texto: Raquel Pires e Luis Batista Gonçalves com Edgar Pereira (psicólogo clínico e psicoterapeuta)
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