Mais de dois terços das mulheres nem sempre atingem o orgasmo quando têm relações sexuais, revela um inquérito da Durex recentemente divulgado. Curiosamente, ainda assim, 95 por cento das inquiridas afirmam estar satisfeitas com o número de vezes que atingem o clímax. O porquê é complexo, como explica Maria do Céu Santo, médica ginecologista obstetra, especialista em medicina sexual.

«O orgasmo é o objetivo máximo da relação sexual. Depende de vários fatores, como a disponibilidade física e psíquica, além da excitação. Sabemos que com a automasturbação se consegue chegar ao orgasmo, o que significa que para o atingir, a técnica é muito importante», afirma a especialista em entrevista. Veja também a galeria de imagens 26 filmes eróticos para ver (preferencialmente) a dois.

Um inquérito recente revela que mais de dois terços das mulheres não atingem o orgasmo quando têm relações sexuais, mas estão  satisfeitas com a sua vida sexual.  Estes dados surpreendem-na?

Não me surpreendem. Vão muitas mulheres às minhas consultas por dificuldade em atingir o orgasmo, mas algumas referem que, mesmo quando não acontece, têm prazer. Muitas vezes, algumas delas sabem que não o atingem por falta de disponibilidade física e mental, mas a principal queixa e preocupação continua a ser a diminuição da libido (desejo).       

Qual é a importância de atingir o orgasmo?

É o sonho de qualquer homem ou mulher no ato sexual. Por isso, muitas mulheres fingem o orgasmo para o parceiro ficar feliz ou para o ato sexual ser mais rápido, porque se sentem cansadas. Tenho também recebido homens em consulta que querem perceber se a culpa da mulher não sentir desejo é, de alguma forma, sua e o que podem fazer para ajudar. Existe uma preocupação mútua, de solidariedade, em satisfazer o outro e, por isso, paradoxalmente, o facto de a mulher colocar a hipótese de fingir o orgasmo pode trair essa lealdade.

Essa é a principal razão que leva a mulher a fingir o orgasmo?   

As causas divergem. Mas deve-se, essencialmente, a quatro razões: primeiro, por insegurança em relação ao parceiro, por recear que este pense que o facto de estar a demorar muito tempo a atingir o orgasmo seja por ela não gostar dele ou que algo não está a correr bem.

Segundo, devido ao cansaço, a mulher quer que a relação termine rápido por estar atrasada para ir dormir. E, terceiro, por dificuldade em conseguir chegar ao orgasmo; e quarto, por saber que vai sentir dor ou desconforto durante a penetração (dispareunia).

Quais os benefícios do orgasmo para a saúde?

O orgasmo melhora o humor, reduz o stresse e isso traduz-se num melhor bem-estar físico e psicológico, e até, em alguns casos, na melhoria da qualidade do sono pois beneficia o relaxamento muscular. Além disso, também queima calorias.

 É, de facto, mais fácil ao homem sentir desejo e atingir o clímax?

A ideia de que o homem está sempre disponível para a atividade sexual, atualmente, já não faz sentido, ainda que os níveis de testosterona (a hormona do desejo) sejam, de facto, mais elevados nos homens do que nas mulheres, o que implica que eles tenham, regra geral, mais desejo sexual.

No universo feminino, existe a questão do foco, da concentração no prazer, para mais tendo em conta que, em média, a mulher precisa de mais tempo para se excitar. Os períodos de orgasmo variam. Oscilam entre os seis a oito segundos para os homens e entre 10 e 20 segundos para as mulheres.

Há diferenças entre o orgasmo atingido durante a masturbação e o resultante da relação sexual?

O primeiro é mais intenso e rápido, o segundo tende a ser mais completo e compensatório, pois tem outro tipo de envolvimento emocional e cognitivo.

Veja na página seguinte: As (várias) razões para as dificuldades femininas

Quais as principais razões para a mulher ter dificuldades em atingir o orgasmo?

A principal razão é a disfunção de vida, não a disfunção sexual. Ao não ter tempo para descansar, anda arrastada pela vida, logo falta-lhe energia física e psíquica para a atividade sexual. Contudo, existem ainda outras questões que condicionam o orgasmo, como é o caso de doenças físicas e psíquicas. A toma de medicamentos é outra das possíveis causas.

A partir de que ponto é que deixa de ser normal o facto de a mulher não conseguir atingir o orgasmo?

Em termos clínicos, considera-se que existe uma disfunção quando a situação se mantém além de seis meses e se provocar ansiedade à mulher ou ao casal. Essa incapacidade pode dever-se a problemas a nível físico ou psicológico, aconselhando-se uma consulta de ginecologia. A primeira observação terá foco na questão orgânica e, caso não se identifique qualquer problema, analisam-se outras possibilidades. Por vezes, identificam-se inibições de ordem cultural, sendo o apoio psicológico fundamental.

Durante a relação sexual, o que tende a armadilhar a capacidade da mulher para atingir o orgasmo?

Essencialmente, o desapego face ao próprio ato.  É fundamental que exista um foco e entrega total ao prazer. E não ter medo de perder o controlo.

Qual deve ser o papel do homem?

Os homens devem entender que é essencial elogiar a parceira. Isso melhora a autoestima e favorece a intimidade e a relação. Assim como os carinhos e o afeto não se devem restringir aos preliminares. Um beijinho ou um abraço na rua aproxima o casal, fortalece o desejo e não leva a mulher a pensar que essas demonstrações de ternura tenham como objetivo único o sexo. A construção dessa intimidade e empenho são, muitas vezes, importante, dando depois frutos quando se faz amor.

O que aconselha que uma mulher com dificuldade em atingir o orgasmo faça durante a relação sexual?

Prefiro encarar uma possível solução a dois. Recomendo que a mulher oriente o parceiro, demonstrando aquilo que lhe dá mais prazer. Como quando se tem comichão e se pede a alguém que nos coce, dizendo para o fazer mais para a direita ou mais para a esquerda. Aconselha-se que a mulher se estimule a si própria durante a penetração.

Isso não deve ser entendido como uma incompetência da técnica masculina, mas, sim, uma prova do conhecimento dos seus ritmos e zonas erógenas. A imaginação é também outro fator desbloqueante e, nesse campo, os brinquedos sexuais podem ser uma mais-valia. O casal deve pesquisar e perceber os que mais se adequam aos seus gostos.

Por norma, opto por prescrever a utilização de bolinhas de Kegel, que têm uma dupla função. Tonificam os músculos vaginais e o pavimento pélvico e aumentam a libido. E existem também alguns preservativos em que o lubrificante tem uma ação vasodilatadora, o que facilita a excitação.

Texto: Carlos Eugénio Augusto com Maria do Céu Santo (médica ginecologista obstetra especialista em medicina sexual)