As dificuldades começam logo na definição de amor, algo que é tudo menos fácil, pelo menos para a maioria. "Todos temos uma ideia do que é, mas é difícil encontrar duas pessoas como a mesma definição", diz Nuno Amado, psicólogo e investigador na área da psicologia do amor. Donatella Marazziti, psiquiatra e especialista em biologia das relações afetivas, caracteriza o amor como "um sistema biopsicossocial, um processo que tem uma componente biológica, psicológica e social", afirma.

"O que quer dizer que é semelhante a um organismo vivo. Muda com o tempo. Inicia-se num determinado momento, torna-se mais relevante porque passa da fase enamoramento para o amor, que pode durar para toda a vida se nos empenharmos muito", refere. "É necessário haver intimidade, paixão e compromisso, como dizem alguns autores. E eu acrescentaria também o fascínio, ou seja, poder hipnótico que os membros do casal exercem um sobre o outro", explica Nuno Amado, psicólogo.

Os mistérios da paixão inicial

Na maior parte dos casos, a paixão é o primeiro passo para o amor. Quem não sentiu já o acelerar do batimento cardíaco, um suor súbito, as mãos a tremer e uma energia que parece não querer diminuir na altura em que vê ou pensa no tal. Estas reações físicas são sinónimo de paixão, no entanto, o cérebro também denuncia este sentimento.

"É este que nos diz se estamos apaixonados e diferencia essa tempestade de sentimentos de reações de medo, que podem ter características semelhantes", explica a psiquiatra e investigadora da Università di Pisa, uma das mais prestigiadas de Itália.

No livro "Diz-me a verdade sobre o amor", publicado pela Academia do Livro, Nuno Amado refere que as análises feitas a pessoas apaixonadas mostram que as áreas cerebrais que se acendem são as mesmas que são associadas à recompensa e ao prazer, como sucede com o núcleo caudal e área ventral tegmental.

O papel dos neurotransmissores

Acende-se uma espécie de circuito no cérebro com a ajuda dos neurotransmissores. "Temos verificado que quando estamos enamorados temos um alto nível de serotonina, um neurotransmissor (que dirige o nosso pensamento para uma só pessoa), de dopamina (que nos torna mais curiosos, predispostos a encontrar uma pessoa e nos faz sentir nas nuvens) e de adrenalina, que provavelmente está na base desta índole de agitação comum na fase de enamoramento", descreve Donatella Marazziti.

Fase esta que consome muita energia e, como tal, não pode prolongar-se para sempre. "Dura entre seis meses e três anos, tempo mínimo para que um casal se forme e tenha um filho", refere a psiquiatra.

"Mais do que isso seria complicado, pois estar apaixonado tem um efeito semelhante à toma de anfetaminas, ou seja, tem efeitos negativos no nosso organismo a longo prazo", acrescenta o psicólogo. "Verificámos que nesta fase da paixão e da atração, há um aumento da hormona do stresse, o cortisol, no nosso organismo", confirma também Donatella Marazziti.

Afeto e calma

Com o evoluir da relação, essa agitação inicial dá lugar à calma e à segurança, isto é, ao amor e ao afeto. "Para que um casal se forme é preciso disponibilidade mental para o fazer, logo a pessoa não pode estar sempre a pensar na outra como acontece na paixão", esclarece Nuno Amado. "O cérebro volta às condições precedentes de estabilidade e, aqui, a libertação de oxitocina (hormona que é libertada durante as relações sexuais, durante o parto e a amamentação) tem uma palavra a dizer", diz Donatella Marazziti.

"Serve como uma espécie de cola entre os parceiros e talvez seja a base da alegria profunda que as relações de longa duração proporcionam", salienta ainda a psiquiatra. Mas o efeito benéfico da oxitocina vai mais além. "Vários estudos indicam que uma relação afetiva feliz e duradoura consegue reduzir o risco de doenças cardiovasculares e depressões e a oxitocina pode estar a associada a isso, já que promove o bom funcionamento do sistema imunitário", garante Donatella Marazziti.

O imperativo de aprender a amar

Estes mecanismos biológicos não diferem muito de indivíduo para indivíduo, o que muda é o tempo que decorre entre as várias etapas e a forma como se ama e se mostra ao parceiro. Para Nuno Amado, isso está associado "à relação que se teve com os pais, às primeiras experiências amorosas e às crenças que se vão construindo sobre o amor". Mas aprender a amar é possível.

"Podemos sempre melhorar a nossa performance emocional", sublinha. "Embora a paixão seja algo instantâneo porque entram em jogo áreas subcorticais, que regulam as relações primordiais, para amar precisamos do córtex cerebral. A natureza ajuda-nos, mas tem de haver vontade e empenho nosso para amarmos", revela Donattela Marazziti.

E será que homens e mulheres vivem a paixão e o amor de formas diferentes? No que diz respeito ao enamoramento, a psiquiatra afirma que "não foram verificadas diferenças, as características são idênticas, tal como nas emoções básicas como a ânsia e o medo".

As diferenças entre mulheres e homens

Na escolha dos parceiros, os homens, segundo Nuno Amado, "privilegiam a beleza, a saúde, a juventude e o corpo ampulheta de forma a assegurar a reprodução, enquanto as mulheres valorizam a experiência, preferem homens mais velhos e que tenham uma posição social elevada, o que lhes dá a segurança necessária para educar os filhos". Já o amor, "é provavelmente muito diverso nos dois sexos e parece que o feminino é muito focalizado, altruísta e generoso", refere a psiquiatra.

Mas são precisos mais estudos científicos para o provar. Apesar disso, Nuno Amado realça que várias sondagens demonstram que o sexo masculino é mais romântico que o feminino. "Embora já seja mais comum as mulheres abordarem os homens, grande parte das vezes ainda é o homem que tem a iniciativa, logo tem de seduzir e, por isso, ser o mais romântico", diz.

Texto: Rita Caetano com Amir Levine (psiquiatra e neurocientista), Donatella Marazziti (psiquiatra), Nuno Amado (psicólogo), Paula Szuchaman (jornalista) e Pedro Maia Gomes (economista)

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