Vivi a enorme bênção de a minha mãe ter sido, quase sempre, fantástica. Extremamente presente, muito carinhosa, bastante preocupada. Mas, ali na entrada daquela idade parva que se chama adolescência, comecei a aperceber-me de que o “quase sempre” da frase anterior implicava algumas lacunas que me incomodavam. E irritavam, assumo.
Acho que todos já pensámos (ou dissemos) que nunca iríamos ser como os nossos pais. Eu confesso que, logo em tenra idade, defini uma série de princípios para a minha eventual condição de mãe, tendo jurado a mim mesma que nunca repetiria uma série de coisas que saíam da boca da mulher que me deu à luz:
- Enquanto viveres nesta casa, fazes o que eu te mandar!
- Quando fores mãe, logo entendes o que é educar um filho!
- Onde é que pensas que vais assim vestida?
- Esta casa não é um hotel, para só vires comer e dormir!
Tudo coisas que, pelas conversas que na altura eu tinha com as minhas amigas, pareciam ser uma realidade na maioria das casas. Mas estas (e outras) frases, que eram proferidas incontáveis vezes por dia, fizeram-me (ainda hoje) ganhar uma aversão enorme a este tipo de abordagem.
Até que ouvi a minha filha mais velha dizer-me:
- És igual à avó!
O choque! O drama! Eu, uma mãe tão liberal, compreensiva, companheira e brincalhona, sou igual à minha mãe? Mas como é que isso é possível?
Mas, sim, estou a ficar (cada vez) mais igual à minha mãe nesta mania castradora que parece ser comum às pessoas que, feliz ou infelizmente, nascem com os desígnios do signo virgem: a mania compulsiva das limpezas e das arrumações. E convenhamos que, com quatro filhos pequenos em casa, isto é mais que um tiro nos pés. É um verdadeiro cocktail molotov atirado às profundezas da minha alma.
“Mafalda, a colcha da cama não está bem esticada!”. “Matilde, não deixes cabelos no lavatório!”, “Tomás, aspira as migalhas das bolachas que acabaste de comer!”, “Tiago, os talheres não estão alinhados com os pratos!”. Uma seca diária e constante.
Reconhecermos que estamos a ficar iguais às nossas mães é um verdadeiro pau de dois bicos: por um lado, agradecemos aquilo que de bom foi herdado; por outro, entramos num quase estado de autopunição por tudo aquilo que preferíamos que tivesse ficado apenas no ADN dos nossos irmãos.
(ah pois, está explicado. Eu sou filha única…)
Foto: Horror Hot House
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