Qualquer mãe já foi assolada pela sensação de que deveria ter feito mais pelo filho, de que não é suficiente o que faz, de que falhou aqui ou ali, ou até mesmo de que não é uma boa mãe de todo, ponto final. Essa sensação é também conhecida como “culpa de mãe”.

Seja culpa por ir trabalhar, por ir ao cabeleireiro ou por passar um fim de semana fora deixando a criança com familiares ou amigos, tudo é motivo para se ganhar uma consciência pesada, que não só faz mal à mãe como a todos à sua volta. Lembre-se de que ter tempo para si também é uma vitória para a família.

Em julho passado, a conhecida tenista Serena Williams escreveu no Twitter que a sua filha, Alexis Olympia Ohanian Jr., tinha dado os primeiros passos e que tal aconteceu quando estava a treinar. Um mês depois, colocou uma foto no Instagram e escreveu na legenda que estava a sentir que “não era uma boa mãe”. “Trabalho muito, treino e estou a tentar ser a melhor atleta possível”, escreveu. “Mas isto significa que, apesar de estar com Olympia todos os dias da vida dela, não sou tão presente quanto gostaria”.

Williams recebeu mais de 3000 respostas, muitas de mães confessando que também perderam momentos marcantes das vidas dos filhos e que entendiam o que a tenista estava a sentir.

Seja por causa do tempo que não passa com as crianças (devido ao trabalho ou por outro motivo), pela comida extraordinariamente saudável que não está a servir-lhes ou pelas fotografias perfeitas que não está a publicar no Instagram, hoje é fácil pensarmos que de alguma maneira estamos em falta com os seus filhos.

O Huffington Post pediu a mães e a especialistas que explicassem este sentimento de culpa tão comum e fornecessem pistas para combatê-lo.
Quando o jornal perguntou a Ardenia Gould qual tinha sido a última vez em que se sentira em falta com as suas crianças, esta “coach” para mães admitiu que estava a senti-lo naquele preciso instante. Ia viajar com amigos no dia seguinte e estava a culpabilizar-se por causa das perguntas da filha, de sete anos. No entanto, explicar à criança a razão da ausência ajudou a própria a entender que tirar um tempo para si mesma seria uma vitória para ambas, pois voltaria com as baterias recarregadas.

Em agosto, Maya Vorderstrasse, conhecida pelas suas mensagens humorísticas sobre maternidade, contou no Instagram que ficou 19 meses sem ir ao cabeleireiro porque, de cada vez que pensava no assunto, sentia-se culpada. Quando finalmente decidiu ir, lembrou-se da importância de cuidar de si mesma, por ela e pelas crianças. “Cheguei a acreditar que deixar os meus filhos para fazer algo para mim era negligência”, escreveu. “Tinha ficado invisível para mim mesma, e essa é uma armadilha perigosa”.

Questionada sobre a pressão que as mulheres colocam sobre si mesmas, Liz O'Donnell, autora de Mogul, Mom & Maid: The Balancing Act of the Modern Woman (Magnata, Mãe e Empregada: o Equilibrismo da Mulher Moderna, em tradução livre), sugere que se dê uma olhadela para o retrato da mãe “perfeita” popularizado pelos media. “Somos bombardeadas por essa imagem. Se reparar bem nas sitcoms, as mães são sempre perfeitas”, diz O'Donnell.

Mais recentemente, Hollywood tem-se afastado da imagem da mãe perfeita que não trabalha e, em vez disso, vem difundindo a ideia da mulher que “consegue tudo”, ou seja, alcança o equilíbrio perfeito entre família e carreira. Katrina Alcorn, autora de Maxed Out: American Moms on the Brink (No Limite: Mães Americanas à Beira do Precipício, em tradução livre) e do blog Working Moms Break, diz que sempre teve problemas com essa frase. “Parece que estamos a pedir algum tipo de indulgência maluca, como se o plano fosse ficar no sofá a fazer maratona do The Americans comendo bombons, quando na verdade só queremos conseguir trabalhar e cuidar da família”, disse ao Huffington Post. “O problema de ‘conseguir tudo’ é que, para muitas mulheres, isso significa ‘fazer tudo’. E o facto é que ninguém consegue fazer tudo sozinho. Precisamos de apoio”.

Nicole Rodgers, fundadora e diretora executiva da Family Story, uma organização que promove as várias maneiras de viver a família, dá um conselho parecido, que ouviu da própria mãe. “A minha mãe dizia sempre que a melhor maneira de sobreviver e avançar é aceitar o facto de que não se vai conseguir dar tudo o tempo todo. Lembre-se de que 80% é suficiente”, afima Rodgers. “Basicamente trata-se de deitar fora a ideia de perfeição”.