O aviso vem de Adena Bank Lees, psicoterapeuta, autora e consultora especializada em stress traumático e abuso sexual na infância. Adena diz que ter uma mãe que é a melhor amiga pode criar um sentido de responsabilidade pouco saudável, fazendo a adolescente acreditar que deve ser ela a cuidar das necessidades e sentimentos do adulto e passando a ignorar os seus próprios problemas. “Toda a gente precisa de uma mãe. E uma mãe não pode ser duas coisas ao mesmo tempo. Além disso, sem uma mãe, uma filha não tem um modelo saudável para se transformar numa mulher adulta.”
O termo BFF, muito popular entre as adolescentes e que significa “melhores amigas para sempre” (Best Friends Forever), implica uma partilha de segredos e informações que não é adequada na relação entre mãe e filha. “Uma mãe não é filha da filha. Ela é uma adulta, a filha é uma criança. As crianças precisam de saber quem manda. É assim que se sentem seguras, e daí vem muita da sua autoestima”, defende a psicoterapeuta. “O papel da mãe implica uma posição de autoridade. Ela tem o poder de tomar decisões pela família. É da sua responsabilidade cuidar da filha e estar lá sempre, não importa para quê. E isso não pode ser recíproco”.
Obter e manter a confiança de uma filha é fundamental para cultivar um relacionamento saudável. “Isso implica ser capaz de discernir as informações secretas das privadas”, explica Adena, prosseguindo: “Privada é a informação que só interessa ao próprio. Mas que não compromete a segurança. Por exemplo, o privado para uma criança ou adolescente pode ser a paixão que tem por um colega”.
Já os segredos, nem sempre podem ser mantidos. Por exemplo, “a sua filha conta que já teve um episódio de autoflagelação e pede-lhe que não conte a ninguém. Manter essa informação só para si e não procurar ajuda é ridículo, certo? Porque interfere na segurança e proteção da sua filha.”
Eis o que a terapeuta aconselha a fazer. “Diga algo como: se perceber que estás em perigo vou ter de falar com alguém e encontraremos ajuda para isso”. Esta atitude, sublinha, “reforça o papel de autoridade, mas não leva a uma quebra de confiança”.
Por falar em segredos, obrigar uma adolescente a partilhar os de um adulto não faz bem a ninguém. “Pense no fardo que representa para a sua filha guardar um segredo que ela sabe que põe em risco o bem-estar ou equilíbrio da mãe – situações de conflito com o pai, depressão, ideias suicidas. Uma criança ou adolescente não está preparada para lidar com os problemas dos adultos, nem é suposto”.
E, quando a filha cresce, já pode ser a melhor amiga? Não. À medida que ela amadurece, os papéis esbatem-se. Mas partilhar informações pessoais e íntimas e pedir a uma filha que seja o apoio de uma mãe continua a ser algo inadequado. “Sabemos que muitos pais vivem em situações que os impedem de cuidar de si próprios, seja relativamente a questões económicas ou de saúde. Isso força uma inversão de papéis e é aconselhável procurar apoio para não sobrecarregar o filho ou filha”.
Motivos para uma mãe querer ser a tal “BFF” da filha
Solidão. O seu casamento está por um fio; é mãe solteira ou o seu marido não está emocional ou fisicamente disponível para a apoiar; tem poucos amigos.
Carência. Gostava de ter uma relação mais próxima com a sua própria mãe e tenta compensar isso com a sua filha. Ou teve esse tipo de relação com a sua mãe “e não tem consciência da sua natureza destrutiva”.
Abandono. Ter uma filha independente, que contruiu seu núcleo e não vive para a mãe, não é sinónimo de falta de amor. “Esse tipo de mãe interpreta a separação saudável e natural do desenvolvimento como abandono”.
Lidar mal com o conflito. Faz parte e, a certa altura, é natural. Ser capaz de engolir acusações de uma filha quando estabelece limites ou impõe regras não deve levar nenhuma mãe a fazer tudo o que a filha quer.
Caraterísticas que fazem uma boa mãe, mas não a “BFF”
É clara sobre o seu papel de mãe e toma medidas apropriadas para dar segurança à sua filha.
Consegue gerir os seus dramas com a ajuda de amigos, colegas ou profissionais.
Conhece os interesses da sua filha e discute-os com ela, mas não quer ser igual. Pode ir com ela a um concerto, mas não tenta sair à noite com ela todos os fins de semana.
Fala com ela de temas complexos sem moralismos, como sexo, drogas e relações, mas dá a sua opinião quando não concorda ou tropeça em comportamentos de risco.
É capaz de ouvir e tolerar as alterações de humor e as variações sentimentais de sua filha, especialmente a raiva e ambivalência em relação a si.
Ri e diverte-se com sua filha.
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