Setembro é normalmente mês de recomeços e de regressos. Para as crianças e famílias é o tempo do regresso às aulas. A par com o entusiasmo do novo ano está também o receio normal associado a muitas coisas novas: novos professores, novos colegas, novas matérias ou atividades ou nova escola. Por várias razões pode ser um período de grande ansiedade para as crianças.

Nesta fase, somos nós, pais, como adultos que somos, que temos a responsabilidade de “manter a calma”, estar presentes para ouvir os receios das crianças, não desvalorizando porventura a sua insegurança, mostrar-lhes confiança e ajudar no regresso à rotina e a horários tantas vezes sobrecarregados. Não é fácil mudar do registo despreocupado das férias para uma rotina traçada a régua e esquadro. Ainda pior será se as crianças tiverem que carregar o nosso stress nas mochilas já pesadas que levam para a escola.

O que podemos fazer para que este ano letivo, que agora começa, corra de forma fluída e descontraída?

Para que este seja um ano sereno e vivido em harmonia familiar, deixamos-lhe algumas dicas de Fátima Gouveia e Silva baseadas na prática de uma parentalidade consciente:

1. Converse com os seus filhos sobre a escola

Pergunte-lhe sobre os seus receios, dúvidas e inquietações e incentive-o a escrever sobre os seus medos. Conte-lhe como era a sua escola, os receios que sentia e como os ultrapassava.

Peça ao seu filho que mencione todas as coisas divertidas que acontecem na escola e que não podem acontecer em nenhum outro lugar. Folheie com ele os manuais novos, diga-lhe o que vai aprender em cada disciplina, arranje etiquetas bonitas para os cadernos.

Ajude a transformar pensamentos de preocupação em pensamentos positivos (Por exemplo: não conheço ninguém na turma – pensamento positivo: vai ser bom fazer novos amigos; E se a professora não gostar de mim? – pensamento positivo: a minha nova professora vai ensinar-me muitas coisas novas e ajudar-me sempre que preciso).

Pratice uma escuta ativa, isto é, ouça atentamente o que o seu filho tem para lhe dizer. Quando tenta perceber quais são os seus receios, não desvalorize o que sente, observe sem julgamento e encoraje-o a verbalizar as suas emoções e a aprender a identificá-las. Estará igualmente a ajudá-lo a desenvolver a sua inteligência emocional.

Relembre os seus filhos que estão prontos para o ano e, se tiverem dúvidas ou dificuldades, estará lá para os ajudar e orientar.

2. Gira as suas expetativas e mostre que confia

Aceite o seu filho por quem é e não pelos resultados que tem. Estará a contribuir para uma auto estima muito mais saudável. Quanta responsabilidade colocamos nas crianças com as nossas expetativas de sucesso escolar? O que acontece quando os resultados não são aqueles que queríamos ou esperávamos? Conseguimos aceitar os nossos filhos da forma como são? Acharemos que se os resultados escolares não forem fantásticos estamos a hipotecar o futuro dos nossos filhos? Será essa a realidade do mundo de hoje?

Não se foque demasiado nos resultados escolares. Quando nos focamos demasiado nos resultados escolares, as crianças habituam-se a medir o seu valor na medida dos seus resultados e por barómetros externos. Se nos focarmos no processo de aprendizagem, incutindo a vontade de aprender e deixando que gozem e desfrutem das várias atividades, estamos a ajudá-los a viverem verdadeiramente o processo de aprendizagem.

Mostre-lhe que tem confiança nas suas capacidades para enfrentar mais um desafio e que se tiver dificuldades, está tudo bem, estará lá para o ajudar.

Evite comparações com colegas ou com outras crianças da família. O seu filho tem um ritmo próprio e único, é importante aprender a conhecê-lo.

3. Não os sobrecarregue com atividades

Dê tempo à criança para brincar. Quando sobrecarregamos as crianças com atividades, aproveitando qualquer tempo livre, na tentativa de que desenvolvam competências em muitas áreas, esquecemo-nos dos interesses das próprias crianças e da importância do brincar e relacionar-se livremente com os outros. Da escola para o futebol, a ginástica, o inglês, o ballet e muitas outras atividades, as crianças ficam demasiado ocupadas e sem tempo, nem liberdade para fazerem as suas próprias escolhas, desenvolverem a criatividade, ou simplesmente para brincarem. E brincar é como oxigénio para os mais pequenos.

Dê tempo à criança para não fazer nada. As crianças precisam de tempo para brincar e para se aborrecerem também (é quando se tornam mais criativos). Nesta tentativa constante de ocuparmos os miúdos, nem sempre lhes proporcionamos verdadeiro tempo de qualidade em família, ou tempo para, pura e simplesmente, não fazer nada. A maioria das crianças não está habituada a parar. Não fazer nada, é fazer alguma coisa. Pára-se, respira­‑se, ou descansa­‑se. E dá-se asas à imaginação e aos sonhos. Deixe as crianças brincar, correr, brigar, cair, esfolar os joelhos, sujar-se.

4. Promova momentos de conexão

Promova momentos de partilha em que esteja verdadeiramente presente para ouvir o seu filho, sem julgar, criticar, aconselhar, corrigir, interrogar. Simplesmente dar afeto, amor, aconchego, oferecer um colo e um abraço sempre que necessário (ou sempre que apeteça).

Ouça as suas preocupações, tranquilize-o e debata com ele como poderá lidar com esses problemas. Sem mostrar sabedoria e superioridade. É aqui que se conecta, quando está mesmo presente. Presente e em sintonia.

Se o seu filho tem dificuldade, de manhã, em dizer adeus, desenvolva rituais de despedida. Para muitas crianças, o maior desafio será dizer adeus. Então e que tal desenvolver um ritual de despedida: um abraço especial, uma frase inspiradora, um ditado, uma canção. Faça a mesma coisa, na mesma ordem, todos os dias, como um ritual. Irá ajudar o seu filho a saber o que esperar e a sentir-se mais confiante.

Para manter a conexão, durante o período em que estão na escola, pode deixá-los com algo físico que mantenha a presença: uma foto, uma pulseira, um coração recortado, um pequena pedra apanhada na praia.

5. Implemente rotinas saudáveis

Defina limites para a hora de deitar. A altura de ir para a cama deve ser controlada. Deitar cedo e dormir uma boa noite de sono é fundamental para as crianças. Os especialistas falam numa média de 10 a 12 horas de descanso diário, o que significa que pelas 21h00, os seus filhos já devem estar deitados, dependendo da idade.

Crie rotinas de boa noite em conjunto com as crianças. A história da noite, para as crianças mais novas, é um momento de conexão fundamental.

Prepare as manhãs na noite anterior. O que pode deixar preparado, definido para a manhã seguinte? Quanto tempo antes dos seus filhos se deve levantar para garantir que tudo corre bem? Será que todos dormiram tempo suficiente?

Se dormir pouco, ficará impaciente com os seus filhos. Se todos estiverem rabugentos, vai ser complicado começar o dia num clima de agitação emocional. Nos dias em que não se pode atrasar, talvez seja bom levantar-se um pouco mais cedo, de forma a ficar relaxada enquanto despacha os seus filhos.

Faça refeições a horas certas. Isso ajuda a alinhar as restantes rotinas, como a hora do estudo, da brincadeira ou do banho.

Aproveite o regresso à escola para praticar uma dieta mais saudável e equilibrada em casa, melhorando hábitos e práticas alimentares.

Promova a prática de exercício físico. Se os seus filhos não praticam nenhuma atividade física extra, perceba o que poderão gostar de fazer. Se não for possível pode optar por fazer deporto em família. Defina um dia da semana para andar de bicicleta, fazer uma caminhada, ir ao parque, andar de patins.


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