Achamos sempre que as nossas crianças vão sofrer horrores quando se veem numa situação nova. Pensamos que as abandonamos à sorte. Que não vão saber fazer amigos. Que vão ter vergonha de pedir para ir à casa-de-banho. Que vão passar fome à hora de almoço, porque não gostam da comida servida no refeitório...

Enquanto levava o Afonso pela mão até ao portão da escola, via-me a mim própria, na idade dele, de grandes olhos envergonhados, agarrada à perna na minha mãe – e a chorar baba e ranho quando ela me deixou entregue à Dona Júlia, a minha professora da 1ª classe...

O SOM PARA ESTE MOMENTO

Estava eu nestes pensamentos, e já o Afonso tinha entrado pela sala de rompante, todo orgulhoso da sua mochila nova e a sentir-se muito crescido.

- Bom dia, professora. Eu chamo-me Afonso e estou muito contente por vir à escola. Mal posso esperar para começar a ler sozinho! Sabe, é que costumo ver filmes com o meu pai e às vezes ele tem de me ler as legendas. Quando eu souber ler ele já pode descansar um bocadinho...

A professora, com a boca aberta de espanto, ia dizer qualquer coisa, mas o Afonso não lhe deu hipótese.

- Ah, e eu sei que a minha mãe não vai estar aqui para fazer a comida que eu mais gosto, mas se o almoço hoje pudesse ser massa, daqueles laços, isso era mesmo muito fixe!

A verdade é que o Afonso está a crescer e a ganhar confiança no mundo. E a escola vai ser uma aventura que ele vai adorar, porque cada dia vai descobrir e aprender algo diferente. E vai brincar. E vai fazer novos amigos. E vai comer bem, mesmo que eu não esteja lá. Não tenho de me preocupar.

Como o próprio Afonso disse, quando o fui buscar à escola ao fim da tarde, ao me ver emocionada:

- Vês, mamã? Eu estou aqui e correu tudo bem.

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