Educar não implica impor regras a qualquer custo e gritar a toda a hora. Pelo contrário. É um ato de desespero que provoca medo e promove um modelo de educação disfuncional e emocionalmente pobre.
Claro que todos os pais perdem a paciência com os filhos – quem nunca se ouviu berrar com as crianças? “O peso da responsabilidade e o ritmo acelerado da vida atual fazem com que os pais caiam no erro de gritar. Mas quando se torna uma prática habitual, e não corrigida, acaba por ser uma péssima forma de educação”, defende um artigo do El Pais.
Que não haja hipocrisia. “Mais cedo ou mais tarde, todos os pais acabam por gritar com os filhos, e quem disser o contrário, mente. Isso é quase inevitável, mas não significa que seja correto. Portanto, se for apropriado pedir desculpas, explique com calma as razões pelas quais perdeu o controlo e admita que não conseguiu gerir a situação, mas vai tentar que isso não se repita”, explica Iván Carabaño Aguado, pediatra no Hospital Universitario 12 de Octubre, em Madrid, ao mesmo jornal.
Carla Valverde, psicóloga clínica e especialista em adolescentes, fala na herança familiar como justificação para este comportamento: “Se os pais ouviam gritos constantes dos próprios pais, quando eram pequenos, é possível que encarem essa atuação como uma maneira normal de lidar com a falta de obediência ou outras situações de tensão com os filhos”.
“Quando queremos que nossos filhos cumpram certas regras, devemos usar um tom firme, seguro e decidido (diferente do grito) para que compreendam certos limites inegociáveis.” Portanto, treine o volume certo de voz e lembre-se que, excepto em circunstâncias muito específicas, não se justifica gritar. Quais são as exceções? Situações em que haja risco para a saúde ou integridade da criança, como, por exemplo, se ela atravessar a estrada sem confirmar se vêm carros.
Perceba porque não deve gritar com os seus filhos
- Os gritos provocam stress
E acabam quase sempre em choro. Procure escolher as palavras apropriadas, o tom e o volume de voz adequados à mensagem que quer passar – pode juntar gestos e olhares. - Confundem os miúdos
As crianças perdem algum discernimento quando ouvem os pais gritar e, por isso, é natural que nem entendam o que desencadeou a fúria dos mesmos. - Geram mais berros
Os miúdos aprendem principalmente por imitação. “Se não queremos receber uma resposta igual, é preferível controlar o volume de voz que usamos para adverti-las. Os pais são um espelho das crianças, onde recebem de volta a expressão das suas emoções, neste caso, da sua raiva”, defende Carla Valverde. - São uma ameaça à autoestima
A criança pode desenvolver uma imagem pouco favorável de si própria. A autoestima desenvolve-se, sobretudo, no relacionamento com os pais. Quando o grito é comum (especialmente se vem acompanhado de mensagens negativas), ela sentirá que tudo o que faz é errado e que é perfeitamente natural – e justo - que gritem com ela. - Gritos geram sentimentos de angústia e ansiedade
Se a criança é muito sensível e avessa a exteriorizar emoções ou a verbalizar os seus medos, quando os pais gritam com ela, a tendência é para se fechar ainda mais. No futuro, quando em situações de tensão com outras pessoas, vai experimentar uma enorme ansiedade e tornar-se impenetrável. - Desencadeia raiva
A criança começa a sentir raiva com facilidade porque percebe que o grito é um recurso habitual e eficaz dos adultos para atingirem rapidamente os seus objetivos. Também é possível que se entender isto e for mais rebelde possa começar a fazer ainda pior. - Provoca sentimentos de vulnerabilidade
Se a regra é o tom de voz elevado em situação de confronto, a criança pode chegar à conclusão de que os seus sentimentos ou necessidades não são atendidos e, no futuro, tenderá a ocultá-los.
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