Nunca entendi muito bem esta coisa de o rendimento mensal ser desculpa para o mau desempenho profissional. Desculpem-me, mas defendo que, se aceitámos (mesmo que por necessidade) um determinado emprego, temos então de o exercer da melhor forma possível. Quanto mais não seja porque os outros, sejam clientes, fornecedores, parceiros ou intermediários, não têm qualquer responsabilidade no salário auferido.
Incomoda-me, então, esta displicência com que alguns professores dão aulas. Certo: acabaram, muitíssimos deles, de ser alvo de uma das maiores atrocidades profissionais de que há memória. E, sim, podem estar colocados a quilómetros infindos de suas casas, podem muitas vezes ter de pagar o próprio material que levam para as aulas e têm, como muitos de nós, ordenados que mal justificam o esforço que lhes é exigido. Mas daí a fazerem sistema de um método de ensino fraco e irresponsável vai um passo gigante.
Nunca me hei-de esquecer de uma professora que, infelizmente, passou pela vida de uma das minhas filhas. A viver uma depressão profunda, mas assumindo que não podia entregar-se a uma baixa, aquela senhora ia para a sala de aulas desabafar com 20 crianças de sete anos. Que a vida lhe ia mal, que o homem que amava a tinha largado, que a mãe estava doente. E chorava desalmadamente enquanto os meninos mais emotivos lhe afagavam as lágrimas e a alma. Isto durante meses.
Há uns anos, saiu a sorte grande à minha outra filha: uma professora que, também a viver uma situação emocional complicada, repreendia os alunos de 11 anos com palmadas, estojos atirados às cabeças e asneiras das mais cabeludas que podemos imaginar. Quando senti que tínhamos ultrapassado todos os limites, convoquei uma reunião com a senhora e a sua direção. “Todos temos momentos difíceis e eu estou a passar por um complicado”, disse-me de cabeça baixa. Perguntei-lhe se eu, que tinha acabado de me divorciar e que tinha perdido recentemente a minha avó, podia estar à vontade para descarregar nela com um vómito de ofensas e asneiras e se ela se incomodaria se eu lhe atirasse à cabeça o objeto que tivesse mais à mão. Disse-me que não. Porque ela era adulta. Os alunos eram crianças e, como tal, estariam “menos sensíveis” a tais severidades.
São duas exceções à regra, acredito. Tal como serão os emails que recebo de alguns professores – carregados de erros ortográficos e incoerências gramaticais. Ou tal como as reuniões de turma em que o professor termina o encontro com um “prontos, se não tiverem mais nenhuma dúvida…”.
Compreendo muita coisa. Mas não entendo quando confio os meus filhos a profissionais supostamente competentes que me dizem que “agente vamos tentar o nosso melhor”. Ou quando uma amiga me conta que a professora corrigiu um trabalho da sua filha com um “à quanto tempo te ando a dizer para fazeres a letra mais direita?”.
As escolas insistem em reforçar que a família e o sistema de ensino são uma equipa em que o equilíbrio tem de ser essencial para a educação dos mais novos. Confio e acredito plenamente nesta teoria. Mas não ponham os miúdos a ser (des)ensinados por professores que lhes incutem que, um dia, eles “há-dem de” ser o futuro deste país.
Alda Benamor
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