O nosso mundo parece estar, cada vez mais, confinado num aparelho que cabe na palma de uma mão. Se houvesse coragem, muitos adultos iriam verificar que despendem mais horas na sua própria companhia a fazer scroll no seu telemóvel, do que a conversar com os seus filhos, cônjuge, amigos ou simplesmente em silêncio.
O instinto leva as mãos e os olhos na direção do telemóvel, sendo a primeira e a última ação do dia. É uma tentativa de não perder ‘o fio à meada’.
Os adolescentes são muitas vezes recriminados, contudo, será que têm nos seus educadores um exemplo? É fácil repreender, comparar ‘no meu tempo….’, mas existe uma incongruência gritante: são oferecidas às crianças as últimas edições dos aparelhos tecnológicos, há uma tentativa de controlo absoluto através dos mesmos, e é um dos companheiros à mesa, nas refeições.
Muitos educadores dizem que o importante é as crianças atenderem as chamadas telefónicas, porém não se trata de um telemóvel sem acesso às apps das redes sociais da moda, ou sem câmara fotográfica que lhes induz a partilharem a própria imagem sem limites e cuidados, que lhes é dado. Não se dão telemóveis às crianças: é-lhes oferecida uma caixa na qual ficam confinados, hipnotizados e em consequência acabam frustrados. É um free pass para o isolamento.
Poucas crianças têm capacidade e acompanhamento adequado, convenhamos. É natural que estas vivam uma montanha russa de emoções, faz parte do processo natural de crescimento. Então, não seria suposto que fosse através dos smartphones que procurassem encontrar a estrutura emocional que precisam para responder às crises emocionais? Contudo poderá ser o caminho mais fácil, ágil e impessoal. Perdem assim os educadores uma oportunidade para estarem mais próximos, presentes e conscientes da realidade que os seus filhos vivem.
De uma perspetiva mais otimista, a tecnologia está cada vez mais ágil, e nos dias que vivemos é mesmo possível fazer tudo através de um dispositivo móvel ligado à Internet e com as apps certas. Controlar a qualidade do sono e os passos diários, ouvir uma meditação guiada, ter um treino físico personalizado, sinalizar um acidente na companhia de seguros, marcar uma consulta numa instituição de saúde, comprar viagens, fazer as compras domésticas nos hipermercados, transferir dinheiro que fica disponível na hora, levantar dinheiro no multibanco, ler livros, realizar cursos e exames ou falar com pessoas de outro continente são algumas das maravilhosas possibilidades.
Numa ótica menos otimista, podemos apontar o acesso facilitado aos nossos dados, as horas diárias despendidas que diminuem as oportunidades de conviver no offline, o desemprego face à robotização, a facilidade com que as fake news são disseminadas, a impessoalidade com que se vivem as relações virtuais, o facilitismo com que se recorrem aos aparelhos para 'distrair/entreter' as crianças ao invés de explorar as suas capacidades através da brincadeira humanizada.
Existe, e sempre existirão, benefícios e desvantagens associados à evolução tecnológica.
O apelo é que não nos refugiemos nestes aparelhos, pois há uma vida lá fora, que tem algo insubstituível: a humanidade que através de um olhar, um abraço, uma palavra outro ser humano nos pode fazer chegar.
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