O amor incondicional significa exactamente aquilo que descreve: amar sem condições, amar independentemente de como o outro seja ou do que faça, simplesmente gostar da pessoa porque ela existe e é importante para nós.

Amar incondicionalmente uma criança significa amá-la independentemente de ela se portar bem todos os dias (porque as crianças testam os nossos limites como forma de testar o nosso amor), significa amá-la mesmo quando ela tem más notas na escola, indo com ela perceber o que se está a passar para o seu desempenho ser desta forma e explorar com ela as suas capacidades e competências, elogiando-as e não criticando aquilo que ela não consegue fazer.

Vivemos numa sociedade que coloca as pessoas dentro de rótulos, que as compara ao nível académico, profissional, sexual, familiar, físico, intelectual, que tem dificuldade em lidar com a diferença, com o “fora da caixa”, onde todos tentam agradar e ser gostados. Nem toda a gente tem as mesmas competências e capacidades, não temos de ser todos iguais e as nossas crianças (e os seus pais) precisam de ouvir isso mais vezes.

Da próxima vez que alguém lhe expressar frustração ou zanga, oiça o que essa pessoa tem a dizer para além da emoção que está a expressar. Pode ficar surpreendido/a com a forma como se pode aproximar dela se a aceitar e se a vir simplesmente como pessoa, para além daquilo que ela comunica. Tendemos a querer que as crianças sejam bem comportadas, boas alunas, sociáveis, líderes, esperamos que desenvolvam uma determinada sexualidade, colocamos-lhes as nossas expectativas, aquilo que muitas vezes não conseguimos fazer ou atingir… e isso é demasiada pressão para tão tenra idade. Muitas vezes, é uma pressão que os acompanha uma vida inteira e que se “resolve” no consultório de um/a psicoterapeuta quando descobrem que “podem ser como elas quiserem ser, sem precisar da aprovação dos outros ou de corresponder às expectativas destes”.

Tente dar às suas crianças (e a si mesmo) a oportunidade de viver fora de listas pré-feitas, segundo as quais somos bem ou mal sucedidos, bonitos ou feios. Olhe para dentro e pergunte-se “O que é que eu quero fazer?”, “O que é que me faz feliz?”. Acredite, se perguntar isto a uma criança, ela irá responder-lhe de forma mais imediata do que um adulto, porque está mais directamente conectada a si mesma e ao bem-estar que sente ou que precisa. Se perguntar isto a uma criança, está a passar-lhe a mensagem de que a opinião e a vontade dela são importantes, estará a contribuir para a sua confiança em si mesma e para que tenha voz no mundo.

Amar incondicionalmente é também aceitar que a criança pode ter a forma dela de fazer uma determinada tarefa ou atingir um determinado objectivo e que pode ser diferente da sua forma de fazer as coisas enquanto adulto. Saber aceitar os seus filhos passa por aceitar-se a si mesmo, por se permitir seguir as suas paixões, mesmo que os pressupostos da sociedade apontem noutro sentido. Eles nem sempre vão gostar de si ou concordar consigo e ainda assim podem e devem ser amados da mesma forma, exactamente por poderem ser quem são.

Aceite-se como é e aceite os seus filhos e as crianças à sua volta por aquilo que eles são (e não por aquilo que eles deveriam ser). Vai agradecer-se por tê-lo feito e surpreender-se no processo!

Ana Sousa - Psicóloga Clínica

Psinove – Inovamos a Psicologia