E agora falemos de tabus. Morte, drogas, danças folclóricas… ou que tal um dos maiores tabus: admitir que há alturas em que gostaria que os seus filhos desaparecessem?

 

É claro que é estritamente proibido admitir que os seus queridos filhinhos possam assemelhar-se a pequenos bárbaros. Você pode brincar a esse respeito, recriminando-se ao mesmo tempo, mas não consegue levar a sério que há alturas em que só queria poder ir para longe deles.

 

Como seria capaz de uma coisa dessas? O seu dever é amá-los, e se os ama tem de amar tudo neles. Tem de sorrir com benevolência quando querem que lhes leia a mesma história enfadonha todas as noites durante três meses, tem de os contemplar com adoração quando eles andam a correr de um lado para o outro aos guinchos, e tem de rir quando eles repetem a mesma piada sem graça pela vigésima quinta vez – está errado.

 

É engraçado: considera-se natural que as pessoas se sintam irritadas com os filhos dos outros (embora não devendo dizer-lhes tal coisa cara a cara). Assim sendo, todos sabemos que as crianças podem levar-nos ao desespero. O que significa que os seus filhos também podem, por vezes, exasperá-los. E não há nada de mal nisso.

 

De facto, eles até são muito bons a exasperar-nos. E começam pouco depois de nascer. O choro de um recém-nascido parece estar programado para nos dar cabo da cabeça se não formos tratar de o acalmar. E isso dá realmente trabalho. A partir daí ele passa a fazer a mesma coisa de forma rotineira.

 

Às vezes nem tem culpa. E, na verdade, aquilo que mais nos deixa um sentimento de culpa é sabermos que ele não tem culpa. Mas quando passamos três noites seguidas sem dormir porque ele tem os dentes a romper, é difícil ser compassivo. Bem sabemos que o devemos ser, mas o que queremos mesmo é que ele se cale e nos deixe dormir. Afinal, é só um dente.

 

Bem, temos uma notícia para lhe dar. Todos os pais sentem o mesmo de vez em quando. Há fases em que sentimos isso 50 vezes por dia, outras pelo meio em só sentimos uma ou duas vezes por semana.

 

Limite-se a aceitar que é uma coisa natural, e qualquer pai ou mãe que não o admita é porque está a mentir. Não podemos impedir que os filhos nos façam sentir exasperados, mas também não temos de nos sentir culpados por isso.

 

Não se esqueça de que a questão é recíproca. Lembra-se de quando era criança? Por muito que os seus filhos o façam desesperar, o mais provável é que você também vá desesperá-los a eles, pelo menos tanto quanto eles a si. Por isso, estão quites.

 

Ideia-chave:

Considera-se natural que as pessoas se sintam irritadas com os filhos dos outros. Assim sendo, todos sabemos que as crianças podem levar-nos ao desespero.

 

Texto adaptado por Maria João Pratt

Fonte: 100 regras para educar o seu filho (2009), de Richard Templar – Editorial Presença

 


Leia também

8ª regra: Tem o direito de se esconder dos seus filhos

9ª regra: Os pais também são gente