Que imagem lhe ocorre quando pensa numa criança com défice de atenção e hiperatividade? Provavelmente, a de um rapazinho irrequieto e turbulento que é incapaz de se concentrar no que quer que seja. Esse é, com efeito, o retrato mais comum. Mas não quando se aplica às raparigas. “Poucas pessoas descreveriam como cliché uma menina com borbulhas, muito estudiosa e cheia de amigos”, disse a canadiana Meadow Schroeder, professora da Universidade de Calgary, à CNN.

Sim, uma rapariga sociável e aplicada nas aulas pode sofrer de défice de atenção e hiperatividade (TDAH). O problema, quando não diagnosticado, tem consequências a longo prazo, incluindo “maior probabilidade de adotar comportamentos de risco – como prática de sexo desprotegida e dependências –  assim como baixo desempenho escolar e fraca autoestima”. O mais alarmante, porém, diz a mesma especialista, “é que as raparigas que se debatem com o TDAH durante muito tempo sofrem de doenças mentais”.

As crianças que padecem deste problema exibem três grandes sintomas: hiperatividade, impulsividade e desatenção. Ainda que a deteção de TDAH durante a infância seja três vezes superior nos rapazes, as taxas de diagnóstico nos adultos equiparam-se entre os dois sexos. Ou seja: as raparigas passam mais despercebidas.

“Um miúdo hiperativo pode ter dificuldades em manter-se sentado na sala de aula, por isso assenta um joelho na cadeira e um pé no chão. É provável, que as pernas traseiras da cadeira se levantem e o desequilíbrio do assento faça com que caia”, explica Meadow Schroeder, prosseguindo: “Já uma rapariga hiperativa tenderá a assumir o papel de ajudante, deslocando-se de mesa em mesa na sala de aula”. Com este tipo comparação é mais fácil perceber porque é que o rapaz é mais facilmente identificado do que a rapariga como alguém que sofre da doença.

Os sintomas de TDAH não apenas parecem diferentes nos rapazes como, já de si, os rapazes em geral tendem a ser mais ativos e impulsivos do que as raparigas. “Uma vez que esses comportamentos são mais perturbadores no ambiente da sala de aula, os professores são mais propensos a diagnosticar os rapazes”, defende Schroeder, frisando ainda que os sintomas de TDAH nas raparigas são mais mascarados porque elas esforçam-se mais por corresponder às expectativas dos adultos. “Os adultos têm expectativas diferentes em função do sexo das crianças”, assegura a especialista. Por exemplo, esperam que eles questionem mais e sejam mais descontraídos e que elas “tendam a obedecer mais facilmente às regras e a evitar problemas.”

A CNN reuniu aqueles que são os principais sintomas de TDAH nas raparigas, e que vão desde o tempo excessivo que demoram a fazer os trabalhos de casa às oscilações de humor, passando pelos atrasos e esquecimentos constantes.

Sinais de défice de atenção e hiperatividade nas raparigas

  1. Demoram muito tempo a fazer os TPC. Distraem-se na internet ou a trocar mensagens e acabam por ficar acordadas até muito tarde para finalizar as tarefas.
  2. Apresentam resultados escolares fracos, embora pareçam estudar afincadamente.
  3. Têm fraca compreensão de leitura. Sentem dificuldade em fazer ligações entre as ideias apresentadas num texto. Queixam-se de falta de detalhes nas instruções dos testes ou fichas.
  4. Encaram a amizade como um trabalho árduo, visto que sentem dificuldade em ler os sinais do outro ou em seguir conversas. Por vezes, são rejeitadas por causa disso.
  5. Esquecem-se frequentemente de levar ou trazer alguma coisa (por exemplo, o equipamento desportivo).
  6. Mexem constantemente nas suas coisas – telefone, chaves, canetas – e, ao mesmo tempo, falam muito.
  7. São as principais ajudantes das professoras ou dos colegas.
  8. Têm muitos amigos porque são divertidas e prestáveis mas, quando tentam organizar atividades, ficam indecisas e ansiosas. Normalmente, os amigos ajudam-nas a tomar decisões.
  9. Têm ótimas ideias e atacam-nas com entusiasmo, mas dificilmente levam-nas até ao fim.
  10. Atrasam-se constantemente. Têm dificuldades em cumprir horários.
  11. Canalizam a hiperatividade para múltiplas atividades extracurriculares.
  12. Parecem não aprender com as consequências de certas decisões menos acertadas.
  13. Apresentam oscilações de humor significativas. São muito suscetíveis à crítica e até a pequenos comentários.