A informação disponível acerca da COVID-19 está a evoluir rapidamente e as diretrizes vão mudando à medida que essa informação aumenta e varia. Nesse sentido, múltiplas organizações têm vido a atualizar e a expandir as suas recomendações também acerca das vacinas.
A prevenção de todas as mulheres, incluindo aquelas em idade fértil e as já grávidas, passa pelo distanciamento social, uso de máscara apropriada, desinfeção das mãos e etiqueta respiratória. A outra arma preventiva é a vacina.
Numerosas vacinas estão a ser avaliadas para a prevenção da COVID-19. Porém as mulheres grávidas e a amamentar foram excluídas dos ensaios clínicos iniciais. Esse facto afastou esta população do acesso à vacina numa primeira fase e até fabricantes houve que aconselharam um intervalo de dois meses entre a toma da segunda dose da vacina e uma potencial gravidez.
Os sucessivos meses de pandemia vieram mostrar que as grávidas têm maior risco de desenvolver doença grave, pelo que muitas instituições recomendaram a vacinação de grávidas em profissões de alto risco, mesmo na ausência de provas da sua segurança.
Para clarificar verdadeiramente esta questão e já na segunda metade de fevereiro de 2021, a Pfizer Inc e a BioNTech SE iniciaram um estudo internacional com 4.000 voluntárias para avaliar a segurança e efetividade da sua vacina em mulheres grávidas saudáveis com mais de 18 anos. O estudo decorre nos Estados Unidos, Canadá, Argentina, Brasil, Chile, Moçambique, África do Sul, Reino Unido e Espanha.
Enquanto os resultados dos estudos em grávidas não são publicados, teremos de nos basear apenas nos dados disponíveis relevantes:
- As vacinas não contêm vírus infeccioso e os dados disponíveis não indicam efeitos deletérios significativos.
A título de exemplo, as vacinas Pfizer-BioNTech e Moderna mRNA-1273) são feitas à base de mRNA ou uma subunidade da spike protein e não contêm vírus (nem o SARS-CoV-2 nem um vírus vetor). A vacina da AstraZenecausa contém um adenovírus como vetor mas também não contém SARS-CoV-2.
- Os dados escassos decorrentes de estudos animais e da vacinação inadvertida de mulheres grávidas não mostraram efeitos deletérios.
Vários organismos mundiais de relevo como o American College of Obstetricians and Gynecologists, o CDC e muitos outros a nível mundial recomendaram o acesso das grávidas e mulheres a amamentar à vacina. A DGS recomenda que se avalie individualmente o risco/benefício.
Uma atitude sensata envolve começar por avaliar o risco de exposição (profissional e não só) de cada grávida/lactante, fatores de risco (diabetes, obesidade, doença cardíaca, etc), as suas preferências e valores. De seguida, fornecer a informação limitada disponível e terminar o processo com uma decisão partilhada de tomar ou não a vacina.
Quanto à pergunta inicial que motivou a elaboração deste pequeno texto, e de acordo com o que se sabe até ao momento, creio que a resposta é:
Certezas absolutas não há. A informação é limitada, mas parece não haver complicações se engravidar imediatamente à toma da vacina. Na verdade, as recomendações perante uma mulher que engravida após a primeira dose da vacina contra o SARS-CoV-2 vão no sentido de lhe ser administrada a segunda dose na altura indicada, independentemente de estar grávida ou não.
Um artigo da médica Elsa Milheiras, ginecologista e obstetra na Clínica de Santo António.
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