A insuficiência renal crónica (IRC) na infância e na adolescência é uma situação pouco frequente mas que, quando presente, exige um grande envolvimento da família e dos profissionais de saúde. Em Portugal são diagnosticados anualmente 10 novos casos de insuficiência renal crónica em cada 10000 crianças menores que 18 anos de idade. O sexo masculino é mais afetado porque apresenta maior prevalência de malformações congénitas, doenças poliquísticas e outras doenças renais hereditárias.

 

Insuficiência renal aguda versus crónica

 Fala-se em insuficiência renal, quando a função dos rins se encontra muito deteriorada, podendo ser um processo agudo ou crónico. A insuficiência renal aguda pode ser devida, por exemplo, a desidratação grave, infeções sistémicas, tóxicos ou lesões vasculares. Habitualmente desenvolve-se rapidamente, mas na maioria dos casos desaparece com a resolução da causa subjacente, embora podendo deixar sequelas importantes a longo prazo. A insuficiência renal crónica costuma desenvolver-se lentamente e, embora o tratamento possa contribuir para diminuir a progressão e as complicações, os doentes virão a necessitar de diálise e/ou transplante.

 

Causas da IRC nas crianças

 As principais causas na criança são: as malformações congénitas (refluxo vesico-ureteral, obstrução ao fluxo urinário, agenesia ou disgenesia renal); as doenças renais hereditárias (doenças poliquísticas, síndrome de Alport) e as doenças glomerulares. Os sinais e sintomas são pouco relevantes e desenvolvem-se quando a função renal já está muito deteriorada. Os doentes renais crónicos têm também risco aumentado de desenvolvimento de doença cardiovascular (10 vezes mais).

 

Como lidar com a IRC

 O sucesso da gestão da insuficiência renal crónica na criança e no adolescente depende da colaboração entre os diversos profissionais de saúde (médicos, enfermeiro, nutricionista, assistente social e psicólogo), o doente e a sua família. A IRC, como toda a doença crónica, necessita de um tratamento contínuo e implica um controlo frequente, o que se traduz em repetidas deslocações ao hospital. A necessidade de manter um tratamento farmacológico e dietético adequado representa um fator acrescido de limitações e restrições que contribuem para alterar os hábitos e a rotina familiar diária. Por outro lado, o atraso de crescimento que se verifica com frequência nestas situações é outro fator que induz um sentimento de diferença, principalmente nos adolescentes, que têm tendência para desenvolverem atitudes de frustração e não aceitação da doença, dificultando a adesão ao tratamento.

 

É possível uma vida normal

Apesar das limitações próprias da doença, as crianças e os adolescentes com IRC não devem ser consideradas diferentes nem retiradas das suas atividades habituais. Pelo contrário, deverão ser estimuladas a manter a sua vida normal, na medida do possível, e a participar no dia a dia familiar, bem como nas atividades escolares habituais, de forma a sentirem-se integradas no seu meio, participantes e ativas, não marginalizadas. É fundamental estimular os jovens para o desenvolvimento de atitudes positivas face à doença. A necessidade dos vários componentes do tratamento e as implicações do seu não cumprimento deverão ser explicadas, e o seu sentido de responsabilidade e autonomia incentivados, obtendo assim a sua colaboração.

 

 

Maria João Pratt