A litíase (cálculo nas vias urinárias) é uma das patologias mais frequentes do foro da Urologia, estimando-se que atinja até cerca de 10% da população geral. A sua presença pode passar despercebida, mas quando se manifesta pode originar dor intensa ou quadros de infeção grave, sendo responsável pela maioria dos episódios de recurso ao serviço de urgência desta especialidade.

Os significativos avanços tecnológicos, que passam pela robótica, lasers mais eficazes e a utilização de Inteligência Artificial, aliados a um conceito de seguimento com equipa multidisciplinar, motivaram a criação da Unidade de Litíase do Hospital Cruz Vermelha, que permite oferecer um tratamento diferenciado e multidisciplinar.

Impacto das cólicas renais

A litíase renal pode, nas crises agudas, ser extremamente debilitante. As cólicas renais, que são uma manifestação comum dessa condição, caracterizam-se por uma dor súbita e intensa que pode variar de moderada a insuportável. São também sinais de alarme o registo de temperatura elevada (febre) ou vómitos incontroláveis.

Esta dor ocorre quando uma pedra bloqueia o fluxo de urina, causando pressão e inchaço nos rins. Estes episódios de dor podem durar horas e frequentemente exigem uma observação em contexto de urgência hospitalar para alívio efetivo da dor.

Um utente com produção de cálculos renais pode ter múltiplos episódios de cólica ao longo da vida, vivenciando várias interrupções significativas nas suas atividades diárias. O medo de um novo episódio de dor pode levar à ansiedade e ao stress, afetando o bem-estar emocional e social. A dor recorrente pode comprometer o desempenho profissional, a participação em atividades sociais e a capacidade de cuidar de si mesmo e da sua família.

A imprevisibilidade do aparecimento da dor e as idas frequentes e recorrentes ao hospital podem também originar uma sensação de desamparo e depressão.

Além do impacto imediato, as cólicas renais não tratadas ou indevidamente orientadas podem provocar complicações graves, como infeções do trato urinário e lesões renais permanentes, com perda do órgão.

Compreendendo a gravidade desta condição clínica, e reconhecendo as múltiplas carências associadas ao seu tratamento, a nossa equipa médica multidisciplinar constituída por especialistas de Urologia, Medicina Interna e Nefrologia está empenhada em disponibilizar um tratamento eficaz, individualizado e centrado em cada pessoa. O nosso objetivo passa por tratar estas situações em duas fazes distintas: na fase aguda de cólica, com alívio da dor e de controlo da situação; nos restantes momentos, pretendemos atuar na prevenção e diminuição do risco de cólica, de aparecimento de novos cálculos e na preservação da função renal. Assim, abordamos todas as fases da doença contribuído para a melhoria da qualidade de vida.

Além disso, oferecemos suporte educacional para que os nossos utentes possam compreender melhor a sua situação clínica e adotar medidas proativas para prevenir a formação de novas pedras.

Cirurgia para a litíase renal

Do ponto de vista cirúrgico, a equipa de Urologia atua em cada fase com uma abordagem cirúrgica direcionada. Na fase aguda, a fase de dor e mal-estar, pode ser necessária a realização de uma derivação urinária urgente, habitualmente com a colocação de um cateter ou stentureteral. Nesta fase, em casos devidamente selecionados, pode ainda proceder-se diretamente à destruição e remoção do cálculo com recurso a um laser de alta frequência.

Nas fases sem dor nem obstrução ativa, a utilização da Inteligência Artificial permite um aumento significativo da qualidade diagnóstica e tem um impacto importante no planeamento cirúrgico. Atualmente já é possível realizar esta cirurgia com recurso a um robô que aumenta de forma muito marcada a segurança para o utente e a eficácia do tratamento.

O grande objetivo desta equipa é, portanto, o tratamento dos cálculos renais, atuando de forma preventiva e impedindo o aparecimento das cólicas renais, com todo o desconforto e riscos a elas associados. A adoção desta tecnologia, associado ao know-how e à perícia dos urologistas, permite-nos oferecer hoje condições de excelência cirúrgica que anteriormente não existiam.

Quando procurar a ajuda de um nefrologista?

A litíase renal, conhecida como “pedras nos rins”, pode ser abordada por urologistas e nefrologistas. No entanto, há situações específicas em que a intervenção de um nefrologista é fundamental:

1. Recorrência frequente de “pedras nos rins”

As pessoas que desenvolvem repetidamente “pedras”, podem ter uma predisposição subjacente que requer avaliação metabólica detalhada. O nefrologista investigará as causas metabólicas como, hiperparatiroidismo, distúrbios do metabolismo do cálcio, oxalato ou ácido úrico.

2. Histórico de doenças renal crónica ou deterioração da função renal

Quando o doente apresenta uma história de doença renal crónica, alterações anatómicas ou evidência de deterioração da função renal associadas à formação de cálculos, a avaliação nefrológica é essencial. O nefrologista pode ajustar o tratamento para proteger a função renal ao longo do tempo.

3. Complicações associadas à litíase renal

Em casos de nefrocalcinose (depósito de cálcio nos rins) ou infeções urinárias recorrentes relacionadas com as “pedras”, o nefrologista pode ajudar a gerir essas complicações, bem como a prevenir futuras ocorrências.

Tratamento da litíase renal

O tratamento consiste, na fase aguda, no controlo sintomático da crise de cólica (que pode implicar intervenção urológica), mas normalmente não trata a doença a longo prazo.

Se não forem corrigidas as condições metabólicas e se a pessoa não alterar os seus hábitos de vida, nomeadamente alimentares, sendo muitas vezes necessária terapêutica farmacológica coadjuvante, ao fim de um ou dois anos, pode repetir-se nova crise.