
Sob o tema da biodiversidade e combate à desertificação da Pereira, pequena aldeia do concelho de Constância com 30 habitantes, duas dezenas de jovens de vários países europeus realizaram a “Festa Rural”.
Durante três dias, e à semelhança dos últimos anos, Pereira encheu-se de vida e cor para uma festa de “celebração do conceito de ruralidade”, um evento organizado pela associação juvenil “Os Quatro Cantos do Cisne”, nome inspirado pela geografia da aldeia situada num vale que faz um losango e que vive a ameaça da desertificação, e que ali juntou cerca de três mil pessoas durante o fim-de-semana.
“O nome da associação vem da analogia aos quatro cantos do losango em conexão ao canto dos cisnes quando estão a morrer”, contou à agência Lusa o presidente daquela associação, Daniel Martins.
“O conceito é o de combate à desertificação da aldeia e, com base na atitude e iniciativas dos mais jovens, preservar as fontes naturais, recuperar as noras, construir fornos comunitários, ajudar os mais velhos a recuperar as suas casas, enfim, um trabalho focado no desenvolvimento e afirmação da Pereira”, disse o dirigente.
Em virtude dos intercâmbios internacionais e dos campos de voluntariado que a associação promove, este ano vinte jovens oriundos da Eslováquia, Roménia, Alemanha, Áustria e Estónia participaram num campo de trabalho que visou recuperar infraestruturas rurais e preparar a festa da aldeia da Pereira, além de conhecerem o trabalho desenvolvido em ambiente rural e em prol do desenvolvimento das regiões de interior.
A ação inseriu-se na aposta que a associação tem vindo a fazer na “interculturalidade e na valorização do património e da comunidade” local, bem como na promoção dos valores do “respeito, igualdade, participação cívica, liberdade e espírito crítico”, realçou Daniel Martins.
Mónica Bartal, uma húngara de 25 anos, disse à Lusa que o grupo de cinco jovens que a acompanha está na Pereira para “ver como trabalha” a associação local, “como aplicam as suas metodologias e como é organizado o festival rural, numa base de troca de experiências e cooperação”.
Kati Juurik, natural de Tallinn, Estónia, por sua vez, afirmou estar há três meses em Pereira “não só pela natureza envolvente mas pelo respeito, carinho e solidariedade para com um trabalho de defesa e afirmação de uma identidade rural”.
Num português escorreito, esta jovem de 27 anos sublinhou ainda o facto de a aldeia não estar referenciada no Google e não haver rede de telemóvel. “E, no entanto, neste sítio no meio do nada, tanta coisa está a acontecer”, observou.
Segundo Daniel Martins, “a grande motivação destes jovens entre os 18 e os 30 anos é sem dúvida a vontade enorme de aventura, conhecer a nossa cultura e raízes tradicionais, sentirem-se úteis e recompensados socialmente e contribuir para um entendimento justo da globalização a todos os níveis”.
Maria do Carmo Deus, 78 anos, concorda: “Esta é uma terra pequena mas nestes três dias de festa torna-se grande”.
Constituída em 1994 para promover o desenvolvimento da aldeia de Pereira, a instituição particular de solidariedade social conta com 50 funcionários e 300 associados.
Lusa
29 de agosto de 2011
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