O Ministério da Educação lançou, há dois anos, um projeto de autonomia que veio dar aos professores e diretores a liberdade de decidir o que fazer com 25% do tempo de aulas. O projeto começou a ser aplicado este ano e aderiram 6.832 docentes de quase 220 escolas.

Este ano, há escolas com novas regras na sala de aulas, outras criaram novas formas de ensinar ou de avaliar os seus alunos, explicou o secretário de estado da Educação, João Costa, à margem do encontro nacional sobre autonomia e flexibilidade, que está a decorrer em Lisboa.

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João Costa contou que há escolas que decidiram “fugir à avaliação feita só com testes” e agora os alunos fazem também apresentações orais, desenvolvem projetos interdisciplinares e projetos fora da escola que contam para a avaliação.

Outras escolas decidiram que, uma vez por semana, há um dia em que alunos e professores trabalham em conjunto um projeto e outras escolas que fizeram parcerias com instituições ou personalidades, que pode ser o encarregado de educação de um dos alunos, que são convidados a dar uma aula, até porque “trazer pessoas de fora quebra a rotina”, sublinhou.

Secretário de Estado de visita às escolas

Nos últimos meses, o secretário de estado visitou estabelecimentos de ensino e participou em reuniões de trabalho e garante que o feedback é positivo: “Alguns alunos diziam que achavam a escola aborrecida mas hoje, porque estão a trabalhar de forma diferente e veem os professores comprometidos, dizem que querem aprender”.

Ainda recentemente, João Costa esteve numa sala de aula de Física e Química de alunos do 10.º ano que estavam a construir um pequeno robot. “Um dos alunos dizia-me assim: Eu, no ano passado, fiz isto e não percebi nada e este ano estou a aprender tudo muito rapidamente”, recordou.

O grande objetivo deste projeto é conseguir combater as elevadas taxas de insucesso escolar, criando uma escola onde ninguém fica para trás, sublinhou.

“O problema complexo que temos na origem deste projeto é o problema do insucesso escolar. É saber que há alunos que não apreendem e que a percentagem não é residual e, sobretudo, que o insucesso escolar é um problema de justiça social. São os mais pobres que não aprendem, são aqueles a quem ainda não conseguimos chegar e são aqueles a quem é mais difícil de chegar. É mesmo muito difícil”, afirmou no discurso de abertura do encontro, que reúne em Lisboa especialistas em educação, mas também professores de todo o país e alunos de algumas das escolas envolvidas no projeto.

O secretário de estado lembrou ainda a opinião de vários sociólogos de educação que defendem que “as medidas de caráter geral atingiram o limite da sua eficácia” e agora é preciso trabalhar tendo em conta a necessidade de cada aluno e de cada realidade escolar: "Se nada fizermos, nada piora mas também nada melhora. Ou seja, os excluídos continuam a ser os excluídos e os incluídos a ser os incluídos”.

João Costa salientou ainda a qualidade dos projetos de alguns docentes que são surpreendentes e que não seriam possíveis “nem nos melhores dias de trabalho de gabinete” do ministério.

O projeto que está em curso envolve 46.910 alunos, segundo dados apresentados por José Vitor Pedroso, que apresentou alguns dados de acompanhamento e monitorização do projeto de Autonomia e Flexibilidade Curricular.

A quem acusa este novo projeto de ser facilitista, João Costa responde: "A escola facilitista é a que põe de fora aqueles a quem é difícil ensinar. Isso é que é mais fácil: é excluir a exclusão é o processo mais fácil. Difícil é trabalhar com alunos que chegam à escola sem estímulos, sem motivação, com fome, com frio. Difícil é trabalhar com eles. O facilitismo está na exclusão. É mais fácil dizer: “não aprendeste chumbaste”.