A reabertura progressiva das creches arranca na próxima semana, depois de encerradas durante cerca de dois meses como forma de conter a propagação do novo coronavírus, e, na Creche Paço de São Francisco, em Lisboa, ultimam-se os preparativos para o regresso.
Entre as mais de 40 crianças que em março estavam inscritas nesta creche, apenas 14 vão regressar já em maio e a diretora, Inês Cancela, admite que este número reduzido facilitou a adaptação dos procedimentos e dos espaços à nova realidade, um trabalho que envolveu um grande esforço da equipa.
“Foi literalmente calçar os sapatos e tentar perceber o que é isto aplicado à creche, ou seja, que orientações é que a Direção-Geral da Saúde (DGS) nos deu, que nós tínhamos de aplicar aqui na nossa escola”, contou a diretora à Lusa.
Segundo Inês Cancela, a principal alteração foi na entrada e saída das crianças. No espaço exterior, as linhas verdes no chão indicam a distância de segurança que os pais devem manter enquanto esperam para entregar os filhos a uma educadora, que fica à porta a receber as crianças, uma vez que a entrada aos pais passa a estar interdita, para não comprometer a “zona limpa”.
Esta “zona limpa” é todo o espaço interior da creche, onde não entram brinquedos ou calçado do exterior, conforme as indicações da DGS, que preveem também que o número de crianças por sala seja reduzido para maximizar o distanciamento entre elas.
Na Paço de São Francisco não vai ser necessário dividir as turmas, uma vez que, para já, só vão regressar 14 crianças, desde os quatro meses aos três anos.
“Em termos de distanciamento das crianças, nós vamos tentar garantir aquilo que a DGS e a Segurança Social nos pedem, sendo que com 14 crianças agora é mais fácil, mas quando em junho tivermos a lotação das crianças que esperamos ter vai ser um desafio maior”, admite a diretora, explicando que nessa altura espera voltar a receber pelo menos cerca de 32 crianças.
Além da dinâmica mais rigorosa à entrada, também a monitorização das crianças vai ser maior nesta fase e uma das novas medidas passa pelo controlo da temperatura de manhã, ao final do dia e depois da sesta.
Tanto as educadoras de infância como a diretora concordam que nesta fase será essencial introduzir as novidades de forma lúdica e divertida, para que as mudanças não causem tanta estranheza e para que as crianças até possam achar piada à experiência.
“É como se estivessem a entrar numa missão a Marte”, exemplifica a diretora, sugerindo também que as crianças que se sentem nas mesas individuais do refeitório sejam nomeadas o rei ou a rainha da sala naquele dia.
“Eles vão ver uma nova realidade, mas eu acho que nós vamos pintar com arco-íris essa realidade e o que queremos é que eles se sintam bem”, afirma Inês Cancela, sublinhando que esta é uma fase para as educadoras se reinventarem, seja nas atividades, seja nos afetos, com abraços diferentes e sorrisos tapados por máscaras e expressos pelo olhar.
A última semana foi dedicada à higienização, à definição dos novos procedimentos e à reorganização dos espaços.
Nas paredes dos corredores, os desenhos feitos pelas crianças estão agora intercalados com as orientações da DGS para a covid-19 e com as novas regras. Nas várias salas, os brinquedos mais pequenos e de difícil limpeza foram arrumados e no recreio sobrou apenas o escorrega.
“Retiramos tudo aquilo que é difícil de higienizar, mas nós somos de hábitos e acho que facilmente as crianças se vão adaptar a uma nova vivência diária”, disse à Lusa uma das educadoras, explicando que também houve um esforço da equipa para não fazer alterações no espaço demasiado drásticas.
Célia Faustino acompanha crianças entre os dois e três anos e, com base na sua experiência, acredita que a adaptação nestas idades não será tão complicada, uma vez que antes as crianças já brincavam em grupos pequenos.
“São crianças que já percebem toda a dinâmica, e antes de toda esta realidade já brincavam nas várias áreas e muitas vezes individualmente”, recorda, admitindo que o regresso, depois de um período em que estiveram cerca de dois meses afastados, possa ser mais complicado.
“Quer queiramos quer não, têm saudades dos amiguinhos, independentemente de nós fazermos chamadas no grupo e de as crianças irem sempre vendo a cara uns dos outros. Agora vêm com vontade de tocar e de abraçar, mas vai correr tudo bem”, considera a educadora.
Na reabertura, só cinco das 10 educadoras vão regressar à creche, uma decisão que se justifica com o número reduzido de crianças e também com a necessidade de manter algumas delas em ‘lay-off’ para assegurar a continuidade dos apoios da Segurança Social.
Por isso, também o horário de funcionamento da creche será reduzido nesta fase inicial, para que as mesmas educadoras possam acompanhar, durante todo o dia, o mesmo grupo de crianças.
No entanto, todos os membros da equipa da Paço de São Francisco realizaram testes de diagnóstico da covid-19 e estão prontas para regressar ao trabalho, se necessário.
Portugal entrou no dia 03 de maio em situação de calamidade devido à pandemia, depois de três períodos consecutivos em estado de emergência desde 19 de março.
Esta nova fase de combate à covid-19 prevê o confinamento obrigatório para pessoas doentes e em vigilância ativa, o dever geral de recolhimento domiciliário e o uso obrigatório de máscaras ou viseiras em transportes públicos, serviços de atendimento ao público, escolas e estabelecimentos comerciais.
Veja o vídeo: O que acontece ao vírus quando entra em contacto com o sabão?
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