Em Lisboa, onde participam pelo menos 500, e em mais 20 locais, é um dia “a meias” com a ciência, partilhado com investigadores, geólogos, biólogos ou matemáticos, entre pequenas pedras, plantas e animais.

Como Rodrigo Gil, da escola EB Parque Silva Porto, em Benfica (Lisboa), um dos primeiros a participar na experiência: calçar umas meias brancas e caminhar na terra, para investigar e conhecer depois o que ficou agarrado nelas.

“Encontrei plantas, flores e uma espécie muito esquisita”, mostra à Lusa, sendo que a “espécie esquisita” não é um animal porque desses ainda anda “à procura”. E garante: “depois ainda vou encontrar mais coisas”.

Com mais sorte, André descobriu num jardim no Parque das Nações uma “minhoca bebé, um bocado de planta e uma flor”, tudo já guardado dentro de uma caixa hermética para examinar depois com a lupa e o microscópio. Houve quem encontrasse duas lagartixas mas elas não se deixaram apanhar.

A aula de ciências ao ar livre, para crianças até aos 10 anos (jardins de infância e primeiro ciclo), é uma iniciativa do Pavilhão do Conhecimento/Ciência Viva, que este ano assinala também as duas décadas de existência. Estão envolvidos os 20 centros de Ciência Viva do país.

Rosália Vargas, presidente do Pavilhão do Conhecimento, explica que o objetivo, como sempre foi na Ciência Viva, é desenvolver o ensino experimental das ciências. E no caso de hoje pretende-se perceber a biodiversidade que existe nos parques, nas ruas e nos jardins.

“As crianças aprendem com o corpo todo, mesmo com os pés, e aprendem com as mãos quando recolhem essa biodiversidade, essas diferentes espécies. E depois vão experimentar, medindo, pesando, olhando com instrumentos como a lupa ou o microscópio, para perceber melhor esse mundo que existe debaixo dos nossos pés e às vezes não é assim tão visível”, sintetiza Rosália Vargas.

E depois, além das várias ciências, aprendem ainda “um respeito pela natureza” e adquirem conhecimento, tudo aliado a atividades que fazem as crianças felizes, porque se aprende mais “quando se está mais feliz”.

Estava feliz assim o Martim, à procura de uma rocha, ou a Ana, que já tinha na caixinha uma folha, uma pedra, um bicho-de-conta e uma flor. E não era um bicho-de-conta qualquer: “estava ao pé de uma teia de aranha, ele podia servir de alimento para a aranha, eu salvei-lhe a vida”.

O processo é igual ao longo do dia e nos vários Centros do país: as crianças recebem uma explicação, calçam as meias e vão para o campo, com uma pinça também, recolher elementos, seja os que ficam agarrados nos pés seja outros que apanham com a pinça. Depois, em volta de mesas, examinam o material.

A alguns não corre bem, à Margarida desapareceu-lhe a formiga. A outros corre lindamente, o Ricardo apanhou uma flor que tinha “imensos bichos”. Ou nem tanto, na hora de juntar na caixa o que veio agarrado à meia perdeu duas formigas. “Não a posso abrir, os bichos fogem-me todos”, anunciou.

Acomodada a fauna as crianças juntam-se à volta das mesas, conhecem características das rochas, das plantas e dos animais, ficam a saber nomes e histórias que irão partilhar mais tarde.

“Temos de dar às crianças esta capacidade de olhar a natureza, a diversidade fora da escola, do lado de lá da porta da escola, que também é escola afinal de contas”, diz Rosália Vargas.

Nas mesas, o bicho-de-conta da Ana é examinado, não sem antes ela o avisar: “bicho, não fujas sim?”. É um crustáceo, conta à Lusa orgulhosa, bicho de novo guardado e se calhar a caminho de casa, de um local sem aranhas.