O ensino do português no país está centrado essencialmente na Universidade Chulalongkorn, em Banguecoque, com 20 a 30 alunos por ano, e onde o sotaque do continente americano atrai interessados.
Natsima Tandikul, de 20 anos, estuda ciência política e decidiu ter aulas de português depois de um intercâmbio no Brasil, motivada pela possibilidade de falar com os amigos que fez por lá.
“Gosto muito da palavra 'saudade', falava muito essa palavra aos meus amigos do Brasil, que (palavra) fofa. A língua é muito bonita, é boa para explicar como a pessoa se está a sentir, (mas) é difícil porque é muito diferente da nossa”, comenta.
Para Sasidisaya Sasisakulpon foi também o Brasil que lhe despertou o interesse pelo português. “Fiz um intercâmbio no Japão no ano passado. Lá encontrei muitos amigos brasileiros e por isso quis começar a aprender português”, conta à Lusa o estudante de educação musical.
Aos 22 anos manifesta um interesse particular por idiomas: além da língua materna, fala inglês, “um pouco de japonês”, português e aprende espanhol.
Apesar dos tropeções, ao fim de um ano de aprendizagem, Sasidisaya fala fluentemente. Ainda assim, como considera a língua “um pouco difícil”, com “muitas conjugações”, recorre a truques que o ‘obriguem’ a contactar com o idioma fora das aulas. “O meu celular é em português e também jogo jogos em português”, diz.
Se estes dois jovens falam com algum sotaque do Brasil, em Maturin Tanapun reconhece-se o espanhol, língua que estuda na universidade. Foi num intercâmbio à Argentina que a jovem de 21 anos contactou com o português, através de amigos.
“Quando eles falam é muito bonito, por isso quis aprender”, explica.
Antes das aulas, o que sabiam de Portugal – onde nunca estiveram – tinha essencialmente que ver com a centenária relação histórica dos dois países.
Quando questionados sobre o que os motivou, são as razões afetivas que primeiro emergem, mas os três reconhecem que pode ser uma vantagem a nível profissional.
“É sempre melhor saber mais línguas porque se pode comunicar com mais pessoas. Quero trabalhar fora da Tailândia, ainda não sei onde mas talvez num país lusófono porque agora falo português”, diz Sasidisaya.
Já Natsima e Maturin partilham o desejo de voltar à América Latina e esperam que o português as ajude, quer no Brasil, quer num país vizinho.
Nuno Renca é professor dos três estudantes da Chulalongkor e reconhece que o Brasil tem um forte poder de atração, o que considera poder ser ‘aproveitado’ para evidenciar "a riqueza" da “distribuição geográfica” da língua portuguesa.
“O Brasil é o país do mundo lusófono com mais falantes de português e a presença da cultura brasileira é omnipresente. Toda a gente sabe o que é o Brasil. O que tentamos fazer é mostrar que o português é uma língua, apenas uma, com variantes, e isso acontece com todas as línguas internacionais”, explica.
No entanto, nem todos contactam com a língua por via do Brasil: “Há um programa de ensino secundário que promove o intercâmbio de estudantes. Neste semestre há uma aluna que está a fazer ‘minor’ em Português e passou um ano em Sintra com uma família”.
Aos alunos ensina-se que há diferentes formas de dizer as coisas, consoante o país, e “isso capacita o aluno e torna-o apto se um dia surgir uma oportunidade numa empresa brasileira ou europeia”.
O professor, que já deu aulas em Timor-Leste, Pequim e Brasil, acredita que a presença lusófona na Tailândia tem de ser vista de forma “holística”: “A economia está interconectada com a cultura. Quanto mais interesse houver pela cultura, isso gerará trocas económicas, mais empresários virão porque já conhecem e foram cativados por isso”.
Assim, mesmo não havendo uma forte presença de empresas portuguesas na Tailândia, Renca acredita que faz sentido impulsionar a aprendizagem, em que cada aula contém “toda essa diplomacia cultural que consiste nos pequenos momentos do dia-a-dia”.
O ensino do português está centrado em Chulalongkorn, sendo também disponibilizado na Universidade de Thammasat. Segundo o docente, o número de alunos “tem sido sempre muito baixo”, entre 20 a 30 por ano, mas há expectativas de um impulso com a criação do prometido ‘major’ em Português.
Nuno Renca lamenta as reduzidas inscrições, principalmente comparando com países como a China, onde “em dez anos quadruplicou o número de estudantes”, ou Vietname “onde há sempre muitíssimos alunos”. Segundo o embaixador português na Tailândia, 200 alunos aprendem o idioma na Universidade de Hanói.
Atualmente, o português pode ser estudado como disciplina opcional ou através de um ‘minor’.
“O sonho, o objetivo próximo, é a criação de um ‘major’, mas precisa-se de uma professora tailandesa”, que se encontra a concluir o doutoramento em Portugal e é esperada para liderar o programa.
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