“O difícil hoje é encontrar uma escola a funcionar”, afirmou hoje o secretário-geral da Fenprof, Mário Nogueira, em conferência de imprensa em frente ao Liceu Passos Manuel, em Lisboa, para fazer um primeiro balanço dos impactos da greve nacional dos Trabalhadores da Função Pública.

Segundo Mário Nogueira, “as escolas encerradas no país inteiro são mais de 90%”, uma taxa de adesão que se deve, em grande parte, aos trabalhadores não docentes. Entre os professores, a adesão deverá rondar entre os 75 e os 80%, segundo números avançados pela Fenprof.

Além da proposta de aumento salarial de 0,3% feita pelo Governo, Mário Nogueira lembrou outras razões para o protesto de hoje tais como a precariedade das carreiras e o envelhecimento dos profissionais.

Escolas encerradas

Várias escolas dos ensinos básico e secundário de Faro e de Portimão, no distrito de Faro, encerraram hoje e outras funcionam condicionadas por motivos de greve da função pública, deixando milhares de alunos sem aulas.

Junto à entrada dos estabelecimentos de ensino, cartazes afixados alertavam para a eventualidade do encerramento e do condicionamento das atividades letivas.

“Informam-se os alunos e encarregados de educação que o funcionamento da escola poderá ficar condicionado devido ao pré-aviso de greve da Função Pública no dia 31 de janeiro”, lia-se num cartaz afixado nos portões da Escola Básica e Secundária da Bemposta, em Portimão.

Vários pais e alunos disseram à reportagem da Lusa que “alguns professores informaram antecipadamente” os alunos de que iriam fazer greve, mas ainda assim decidiram deslocar-se à escola na expectativa de existirem algumas atividades letivas.

Vítor Gomes, que trabalha como vigilante, disse à Lusa que a greve prejudica “não só os alunos como os pais que têm de trabalhar, e que ficam sem saber onde deixar os filhos”.

“Vou entrar ao serviço e terei de deixar o meu filho com pessoas amigas, pois a minha esposa também está a trabalhar. Se deixar a criança sozinha em casa posso ser acusado de abandono. É complicado”, lamentou.

Carla Serôdio, funcionária numa pastelaria, enfrentava o mesmo problema: “Onde é que irei deixar a minha filha?”, questionou.

“Vou ter de a levar para o trabalho, mas ter uma criança de 7 anos no local de trabalho, dentro de uma pastelaria, durante várias horas, é impensável, mas é a única solução que tenho”, apontou.

Os encarregados de educação disseram compreender a razão da greve dos funcionários públicos, mas lamentaram que “a paralisação “afete a vida profissional das pessoas que acabam, muitas delas, por ter de faltar ao trabalho para ficarem com os filhos”.

Nas escolas secundárias Poeta António Aleixo, Engenheiro Nuno Mergulhão os portões estavam encerrados, bem como na Escola Básica do 1.º Ciclo e Jardim de Infância Major David Neto onde não se verificam atividades letivas.

No concelho de Faro, a situação é idêntica, com várias escolas encerradas e outras em funcionamento, mas com as atividades letivas condicionadas.

As escolas secundárias Tomás Cabreira, João de Deus, e as do ensino básico de São Luís e Joaquim de Magalhães estão abertas mas com atividades reduzidas, enquanto as da Penha, São Luís, Afonso III e Neves Júnior estão encerradas.

Em declarações à Lusa, Rosa Franco, dirigente regional do Sindicato dos Trabalhadores em Funções Públicas e Sociais do Sul e Regiões Autónomas disse que a maioria das escolas algarvias se "encontram encerradas ou sem atividades letivas".

"Estão sem atividades letivas porque os diretores entendem que não estão reunidas as condições para assegurar o funcionamento das escolas", frisou.

A Frente Comum da Administração Pública, da CGTP, convocou em dezembro uma manifestação nacional para 31 de janeiro contra a proposta de aumentos salariais de 0,3%, a que se seguiu o anúncio de greves nacionais por parte das estruturas da UGT - a Federação Nacional dos Sindicatos da Administração Pública (Fesap) e a Frente Sindical liderada pelo Sindicato dos Quadros Técnicos do Estado (STE).

Entretanto, várias organizações setoriais marcaram também greves para 31 de janeiro, como são os casos da Federação Nacional dos Professores (Fenprof), afeta à CGTP, da Federação Nacional dos Sindicatos dos Enfermeiros (FENSE), da Federação Nacional dos Médicos (FNAM) e do Sindicato Nacional dos Técnicos Superiores de Saúde das Áreas do Diagnóstico e Terapêutica.