Ao contrário do que se possa imaginar, as crianças parecem ter hoje mais capacidade para aguardar uma recompensa do que, por exemplo, nos anos 60 do século XX.
A conclusão é de um estudo da Associação Americana de Psicologia, divulgado pela revista brasileira Veja, que se baseou num método bem velhinho: o teste do marshmallow, criado nos anos de 1950 e coordenado pelo psicólogo austríaco Walter Mischel.
A experiência é fácil de explicar: é dada a crianças entre os 3 e os 5 anos a possibilidade de comerem um doce imediatamente ou esperar alguns minutos e assim ter direito a uma guloseima ainda maior (ou dois doces). Os investigadores deixam a criança sozinha numa sala, com os doces, e vigiam-na através de um espelho de sentido único, para apurar quantos minutos esperaria pela recompensa.
Foi exatamente este o método agora utilizado pelos cientistas, que fizeram várias réplicas do mesmo nos anos seguintes e assim compararam o tempo que as crianças aguardavam pelo doce maior. Concluiu-se que os miúdos dos anos 2000 são mais pacientes. Em comparação com os testes da década de 1960, os atuais superaram em dois minutos o tempo de espera. Face às crianças dos anos 1980, aumentaram a espera em cerca de um minuto.
Diz o artigo da Veja que a maioria dos adultos estava convicta de que as crianças de hoje seriam mais impulsivas e impacientes. Cerca de 360 norte-americanos foram questionados sobre quanto tempo achavam que elas esperariam por uma recompensa em comparação com as de 1960 e 72% responderam que o tempo de espera seria hoje menor.
A capacidade de adiar a recompensa que as crianças mostraram neste último estudo foi associada a vários fatores positivos, nomeadamente melhor desempenho escolar, aumento da qualidade das relações com os colegas e até um peso mais saudável.
Para explicar o aumento desta paciência infantil e juvenil, os pesquisadores apoiaram-se em fatores como o aumento do QI dos jovens ao longo das últimas décadas (em resultado das alterações económicas, da globalização e das novas tecnologias) e também o incremento do número de crianças que frequentam a escola (nos Estados Unidos, a quantidade de miúdos de 3 e 4 anos matriculadas aumentou 50% entre os anos de 1960 e 2000).
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