O agravamento da situação epidemiológica em Portugal pode levar a um novo confinamento semelhante ao que aconteceu na primavera, mas as medidas concretas só serão conhecidas na quarta-feira.

O primeiro-ministro afirmou hoje que, entre os peritos, a posição mais consolidada aponta no sentido de manter os estabelecimentos de ensino abertos, sendo também essa a vontade do Governo.

No entanto, nos últimos dias, chegou a ser levantada a hipótese de os alunos mais velhos voltarem ao ensino à distância, deixando pais e encarregados de educação preocupados.

"O ensino à distância não é uma boa solução, porque aumenta ainda mais as desigualdades que já existem entre os alunos mais carenciados", defendeu o presidente da Confederação Nacional das Associações de Pais (Confap) em declarações à Lusa.

Jorge Ascenção lembrou que "as escolas sempre mostraram serem locais seguros, com poucos casos de contágio".

Uma opinião partilhada pelos diretores escolares contactados pela Lusa: "O primeiro período foi relativamente calmo", recordou o presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANADEP), Filinto Lima.

Jorge Ascenção sublinhou ser "leigo na matéria" mas não deixou de "constatar alguns factos": Os casos de contágio não dispararam de forma gritante em setembro, quando começaram as aulas. Pelo contrário, depois das férias do natal e de fim-de-ano, o número de infetados disparou.

"Até agora havia unanimidade em dizer que as escolas eram locais seguros. O que sabemos e temos a certeza é que dentro das escolas os alunos cumprem as regras da Direção-Geral da Saúde. E sabemos também que o perigo de contágio tem a ver com o incumprimento dessas mesmas regras", sublinhou Jorge Ascenção.

"Durante as férias, houve um descuido das regras", concluiu.

Jorge Ascenção lembrou também os estudos que revelaram que o ensino à distância aumenta o fosso entre alunos e agrava a aprendizagem dos alunos, em especial os mais carenciados.

"O eventual encerramento das escolas vai trazer um grave prejuízo principalmente para os mais desprivilegiados", alertou, reconhecendo que esta é uma decisão que terá por base estudos de especialistas.

Caso a opçao seja a suspenção das aulas presenciais, a Confap pede que sejam tidas em conta algumas das sugestões dos pais, tais como serem apenas os mais velhos a ficar em casa e o encerramento "ser temporário".

Em vez da substituição das aulas presenciais pelo ensino à distância, a Confap sugere que se avance para um modelo misto: "Por exemplo, os alunos iriam duas vezes por semana à escola, porque precisam do contacto com os professores mas também com os colegas".

Também os representantes dos diretores escolares sublinharam a importância das aulas presenciais.

"Nada substitui a presença em sala de aula, mas perante a situação que o país atravessa neste momento percebemos que é preciso tomar medidas", disse à Lusa Manuel Pereira, presidente da Associação Nacional de Dirigentes Escolares (ANDE).

Filinto Lima lembrou ainda que "a escola é um elevador social, mas a pandemia mostrou-nos que com o ensino à distância foi para muitos um elevador que só desceu".