A consciencialização – treino mental de desenvolvimento da atenção plena que pode mudar as formas de pensar, agir e sentir – pode reduzir os sintomas de stress e depressão e promover o bem-estar entre as crianças e os jovens em idade escolar, de acordo com um novo estudo publicado online pelo British Journal of Psychiatry.

 

Com a época de exames em pleno andamento, as crianças os adolescentes em idade escolar vivenciam níveis de stress mais elevados do que em qualquer outra época do ano. A investigação mostrou que as intervenções para reduzir o stress em crianças têm maior impacto nesta época do ano. Há evidências crescentes de que as abordagens baseadas em técnicas de consciencialização para adultos são eficazes na melhoria da saúde mental e bem-estar; no entanto, até agora têm sido poucos os estudos controlados que avaliam a sua eficácia entre os jovens.

 

Uma equipa de investigadores liderada por Willem Kuyken, da Universidade de Exeter (Reino Unido), em associação com a Universidade de Oxford, a Universidade de Cambridge e o Projeto Consciencialização nas Escolas, recrutou 522 alunos, com idades entre os 12 e os 16 anos, de 12 escolas secundárias, para fazerem parte no estudo. A 256 alunos de seis escolas foi aplicado o Projeto de Consciencialização nas Escolas, com uma introdução à consciencialização adaptada à sala de aula, durante nove semanas. Os restantes 266 alunos das outras seis escolas não receberam as lições de consciencialização e funcionaram como grupo de controlo.

 

Richard Burnett, co-criador do projeto, disse que «Os conteúdos do projeto de consciencialização procuram envolver até o público adolescente mais cético nos fundamentos da atenção plena. Utilizamos recursos visuais marcantes, excertos de filmes e atividades para despertá-los, sem perder a experiência e a integridade do ensino clássico da consciencialização».

 

Todos os alunos foram acompanhados após os três meses de aplicação do projeto. O acompanhamento foi programado para coincidir com o período de exames – que é um momento de potencial alta tensão para os jovens. Os investigadores descobriram que as crianças que participaram no programa de consciencialização relataram menos sintomas depressivos, menor stress e maior bem-estar do que os jovens do grupo de controlo. Cerca de 80 por cento dos jovens afirmou continuar a usar práticas ensinadas no projeto de consciencialização após a conclusão do programa de nove semanas. Professores e escolas também avaliaram o projeto como meritório e muito agradável de aprender e ensinar.

 

Willem Kuyken também afirmou que «Os nossos resultados fornecem evidências promissoras da eficácia do projeto de consciencialização. Descobrimos que os jovens que participaram no programa tinham menos sintomas depressivos, tanto imediatamente após a conclusão do programa como nos três meses seguintes. Esta é uma descoberta potencialmente muito importante, uma vez que os sintomas depressivos podem prejudicar o desempenho de uma criança na escola, e são também um fator de risco para o desenvolvimento de depressões em adolescentes e adultos.»

 

Katherine Weare, também da Universidade de Exeter e que tem sido instrumental na promoção do ensino da resiliência nas escolas, relatou que «Estes resultados parecem ser de grande interesse para as nossas escolas, sobrecarregadas, que tentam encontrar maneiras simples, rentáveis e envolventes para promover a resiliência dos seus alunos – e das suas equipas também – numa altura em que a adolescência está a tornar-se cada vez mais desafiante, em que o pessoal das escolas está sob um stress considerável e em que as próprias escolas têm de dar respostas em várias frentes. Este estudo demonstra que a consciencialização mostra uma grande promessa na promoção do bem-estar e na redução de problemas – o que está em linha com o nosso conhecimento de como é útil a delineação e a implementação de uma aprendizagem emocional e social. O próximo passo é a realização de um ensaio clínico aleatório do projeto, envolvendo um maior número de escolas e de alunos, com um acompanhamento mais longo.»

 

Felicia Huppert, da Universidade de Cambridge, concluiu que «Os resultados também apoiam o argumento de que o treino da mente pode melhorar o bem-estar psicológico de todos os alunos e não apenas daqueles que têm sintomas associados a problemas de saúde mental. O bem-estar psicológico tem sido associado a uma melhor aprendizagem, a uma melhoria das relações sociais e a um melhor desempenho académico, de modo que o aumento do bem-estar é suscetível de melhorar uma série de resultados em contexto escolar».

 

 

Maria João Pratt