As mães com cancro de mama têm de enfrentar vários desafios terríveis. Um deles é contar aos filhos que vão conviver com a doença. Mas quando devem fazê-lo? E como devem fazê-lo? Entre o medo, a tristeza e todo o sofrimento, a relação com as crianças é fundamental no processo que envolve a doença.

“Que as pacientes chorem, sofram e estejam nervosas é a reação normal”, explica Cristina Pernaut, oncologista do Hospital Universitário HM Sanchinarro, em Madrid. “É natural que sintam medo – primeiro, em relação ao prognóstico e às sequelas dos tratamentos, e depois quanto à inevitabilidade de terem de contar aos filhos”, afirma a médica, citada pelo El País.

Uma em cada oito mulheres desenvolverá cancro de mama em algum momento da sua vida, sendo este o segundo tipo de cancro com a maior incidência em Espanha e o primeiro a afetar mulheres (com mais de 26 mil casos novos por ano no país), de acordo com estatísticas da Sociedade de Oncologia Médica Espanhola divulgadas já em 2018. Embora estejam a ser alcançadas taxas de cura cada vez mais elevadas (a Associação Espanhola Contra o Cancro indica uma sobrevida de 82%), este tipo de tumores é extremamente assustador.

Saiba como partilhar essas informações com os seus filhos.

É mesmo necessário contar aos filhos?

Os peritos concordam que sim. A psico-oncologista Fátima Castaño, da Fundação Tejerina e da Quálita Psicologia, explica porquê: “Normaliza o processo da doença dizer às crianças que faz parte da vida e que a tristeza é uma emoção normal, mas que também pode ser gerida”.
Convencida de que as crianças são resilientes e se adaptam a tudo, a especialista diz que “a chave é a forma como se comunica, adaptando bem a mensagem e a linguagem à idade de cada criança e à sua capacidade de entendimento”. E prossegue: “É preciso conhecer as ideias que as crianças têm sobre a doença fazendo-lhes perguntas abertas: ‘o que sabes sobre este assunto?’, ‘o que queres saber?’, ‘o que está a incomodar-te?’ Podem banir-se alguns mitos, mas sem criar falsas esperanças”, frisa.

Qual o melhor momento para contar?

Convém respeitar os ritmos de todos, mas especialmente das crianças. “A primeira coisa a fazer é digerir bem a notícia e deixar que os adultos assimilem o que se está a passar”, sugere a especialista. “A segunda é obter informações fiáveis. Só assim se pode elaborar uma mensagem racional”. “O tempo ideal é aquele em que os pais e as crianças estão relaxados, talvez quando estão a brincar ou deitados no sofá”. Para Fatima Castaño, pode contar-se às crianças a partir do momento em que elas percebem o que é ficar doente. “Aos 2 anos, já gerem palavras como médico ou doença. E após os 6 ou 8 anos, o conceito de doença passa a ser familiar.”
Rebecca Guarddon, que foi diagnosticada com cancro da mama apenas dois dias depois de comemorar os seus 40 anos, quase não teve de pronunciar a palavra cancro, pois o seu filho de 2 anos não entendia a gravidade da situação. Como não viu grandes mudanças na mãe, assumiu que era apenas uma coisa passageira. Rebecca, diz que não foi necessário levantar a questão, mas que lhe vai contar quando for mais velho.

Que informação se deve passar?

“É preciso dizer o que a criança quer saber”, recomenda a psico-oncologista. “Não é necessário avançar com informação pouco clara, nem excessiva. Também não é preciso dizer tudo de uma só vez. É preferível dosear e comunicar progressivamente. A ideia é ser honesta, direta e aberta às perguntas das crianças, mas sem alarmá-las”.

Como abordar o tema?

Planeie bem a conversa. “De forma tranquila, porque a informação não tem de ser prejudicial”, observa Fátima Castaño. É importante ser claro sobre o que vai dizer e quando. Use uma linguagem direta. “É melhor chamar as coisas pelos nomes, mas procurando estar consciente do que a criança vai entender. Se for pequena, a palavra cancro não lhe diz nada, mas se disser que ´um bichinho está a provocar uma desordem dentro da mãe, e que só pode ser morto no hospital´, aí ela já percebe”.
É importante abordar a questão das mudanças físicas. Para que a criança compreenda que a mãe está doente, deve avançar-se com a ideia de que vão ocorrer mudanças e dar-lhe ferramentas emocionais para lidar com isso.

Como gerir o dia-a-dia?

É fundamental criar momentos de intimidade. Mãe e filhos precisam de espaço para conversar, brincar, rir. Mas também é possível que, de repente, a mãe queira chorar ou isolar-se. Estimule a criança a participar neste momento: ela está a aprender a ver a mãe a lutar e a superar as dificuldades. Fátima Castaño diz que não se deve privar os filhos desta etapa da vida das mães. “Podem estimulá-los a ajudar nalgumas tarefas da vida quotidiana. Assim, terão memórias de ter ajudado a mãe numa circunstância difícil”, sugere.
Devem manter-se as rotinas tanto quanto possível. Mas com flexibilidade. “É bom manter limites e regras, mas sem ignorar o estado emocional da criança, deixando uma margem para o descanso, a expressão da tristeza, etc”, recomenda a especialista.
Se possível, os professores devem ser informados da situação, para que estejam atentos às reações negativas dos miúdos: irascibilidade (reflexo da tristeza), chamadas da atenção, isolamento ou mau comportamento. Quando as crianças não querem falar sobre o assunto, geralmente é porque não conseguem lidar com a dor. Neste caso, é aconselhável procurar ajuda especializada.