Médicos e investigadores australianos conseguiram, pela primeira vez no mundo, ajudar um a mulher a engravidar sete anos após os ovários terem sido removidos antes de um tratamento oncológico, por enxertia, na parede abdominal, de tecido ovárico congelado.

 

Investigadores do Royal Women’s Hospital e da Melbourne FIV, ambos na Austrália, acabaram de dar esperança a sobreviventes de cancro que desenvolveram menopausa precoce em seguimento do tratamento oncológico, depois de conseguirem a primeira gravidez a partir de tecido ovárico criopreservado.

 

Pouco antes de ser submetida a uma cirurgia para remover o segundo ovário, aos 24 anos de idade, Vali (cujo apelido não foi divulgado) pediu aos médicos que conservassem algum do tecido ovárico para o caso de ser possível, no futuro, ser enxertado na parede abdominal.

 

A doente declarou que «foi um choque» descobrir aos 20 anos que não lhe seria possível ter filhos. «Realmente não percebi bem a minha situação até que fiz 24 anos e tive de tomar algumas decisões sérias sobre aminha saúde, na altura», disse Vali. «Tive muita sorte com os meus médicos. Tive esta oportunidade, embora realmente não soubesse nada sobre o assunto.»

 

Kate Stern, responsável pela preservação da fertilidade na clínica Melbourne FIV, afirmou: «Verificámos novamente o tecido, falámos com o cirurgião de Vali, fizemos com que tudo estivesse bem e, finalmente, conversámos com o oncologista e com a doente sobre os riscos deste procedimento.» «O tecido foi colocado na parede anterior do abdómen, o que significa que está sob a pele e o músculo, mas não dentro do abdómen», explicou a especialista. «Queríamos ver se este procedimento poderia ajudá-la a engravidar. De seguida, demos-lhe alguma estimulação hormonal muito suave – não uma fertilização in vitro completa.»

 

O processo produziu dois óvulo que foram, então, fertilizados e implantados no útero de Vali, que agora está à espera de duas meninas. Kate Stern afirmou que a probabilidade de sucesso quando começou o processo era baixa e que seria improvável que Vali engravidasse. «Em todo o mundo já nasceram 29 bebés, mas todos a partir de tecido ovárico que foi enxertado de novo no ovário ou perto do ovário. Mesmo assim, com estes 29 bebés houve múltiplas tentativas», afirmou a também professora no Royal Women’s Hospital.

 

«Não podemos considerar que este foi um processo de rotina ou que o sucesso estava garantido. Não podemos garantir sucesso, mas podemos garantir que tudo faremos para que a probabilidade de sucesso seja cada vez mais elevada.» Este procedimento é potencialmente aplicável a outras mulheres que tenham tido tecido ovárico retirado.

 

De acordo com as estatísticas mundiais, uma em cada 570 mulheres jovens irá desenvolver um cancro e, Kate Stern afirmou, «muitas destas doentes estarão em risco de desenvolver uma menopausa prematura devida ao tratamento oncológico. Este grande avanço é uma esperança para as mulheres que desejam ser mães.»

 

 

Maria João Pratt