É linda aquela sua memória de quando, aos dois anos e meio, correu para abraçar o seu irmão mais velho. Pena que seja falsa. “Se guarda na memória alguma cena passada antes dos três anos, saiba que o seu cérebro está apenas a juntar bocadinhos de realidade apreendida durante o processo de crescimento”, afirma uma nova investigação publicada na Psychological Science e que se anuncia como a maior algumas vez realizada sobre falsas recordações.
O estudo envolveu 6.641 participantes. Os investigadores perguntaram a estas pessoas qual a sua lembrança mais antiga e em que idade acreditavam ter acontecido. Perceberam que muitas jugavam lembrar-se de episódios ocorridos nos primeiros anos de vida. Na verdade, quase 2500 disseram que a sua primeira memória remontava a antes dos 2 anos de idade e perto de 900 garantiram ter memórias anteriores ao primeiro ano completo de vida.
A comunidade médica acredita que o cérebro humano não está desenvolvido o suficiente para guardar memórias antes dos três anos de idade. Porque será, então, que tanta gente insiste em dizer que tem recordações de períodos anteriores a essa idade? Foi o que a Psychological Science tentou perceber.
As respostas dos participantes foram analisadas por idade, língua, conteúdo da memória e natureza da memória descrita. “Quando olhamos para as respostas, descobrimos que muitas dessas primeiras ‘memórias' eram frequentemente associadas à infância”, revelou Martin Conway, professor no principal centro para a memória da Universidade de Londres e co-autor do artigo, citado pelo New York Post.
Os investigadores concluíram que muitas memórias fictícias são construções da mente, uma espécie de bolo que mistura o que sabemos sobre os bebés e o que sentimos como quando éramos assim. Os cientistas descobriram ainda que as pessoas mais velhas tinham mais probabilidade de relatar falsas memórias.
“Com o passar do tempo, esses fragmentos tornam-se uma lembrança e, muitas vezes, a pessoa começa a adicionar coisas como uma construção de Lego”, diz Conway.
O estudo não conseguiu apurar por que é que o cérebro fabrica estas falsas recordações, mas sugere que isso pode ser fruto da necessidade de apresentar uma narrativa completa de vida. E sublinha que uma auto-narrativa positiva pode ajudar a ter uma vida melhor. Assim, “ao invés de nos enganar, os nossos cérebros podem estar subconscientemente a preencher a memória, tentando ajudar-nos a sermos os nossos melhores ‘eus’”.
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