Não há como contornar a questão: cada vez mais crianças consomem pornografia e correm o risco de deixar que as ideias feitas – e falsas – dessa indústria deformem a sua aprendizagem social e emocional.

Uma mega investigação, que reuniu 44 estudos feitos entre 1995 e 2015 e analisou os riscos do uso de pornografia entre adolescentes, concluiu que há uma massificação deste fenómeno em todo o mundo. Um estudo levado a cabo com adolescentes alemães revelou que 98 por cento dos rapazes e 81 por cento das raparigas admitiu já ter visto um filme ou vídeo pornográfico. Outro estudo, com adolescentes de Taiwan, concluiu que 71% dos adolescentes tinham sido expostos à pornografia.

Nos dois casos citados, o consumo de conteúdos pornográficos foi principalmente acidental, o que implica que ‘tropeçaram’ em fotografias, vídeos e filmes pornográficos sem precisarem de ir atrás deles.

“Muitas crianças que têm aparecido no meu consultório, e que foram apanhadas nas malhas do vício da pornografia, foram expostas a esse tipo de conteúdo através de um amigo, anúncios de roupa íntima ou vídeos da Internet que, com um simples clique, por vezes acidental, lhes mostraram este mundo”, revelou o médico Daniel P. Huerta à Focus on the Family. “Após essa visão não intencional, a que normalmente se seguem sentimentos como a culpa e a vergonha, os miúdos começam a procurar , secretamente imagens ou filmes semelhantes. Aí, as buscas já são intencionais”.

O artigo da Focus on the Family explica que os fornecedores de pornografia sabem que os espectadores mais jovens são mais fáceis de viciar. “Como a adolescência é um estado de formação e desenvolvimento, o cérebro é permeável a uma série de estímulos. Durante este período, a via de recompensa está no estado mais reativo e sensível de sempre”. Complicado? Nem por isso: “O que acontece é que o cérebro liberta um poderoso neurotransmissor, a dopamina, no centro de recompensa, criando um efeito alerta de memória e motivação. Isto é, os adolescentes rapidamente desenvolvem uma atração forte por qualquer coisa que estimule essa parte do cérebro, e nunca o esquecem. E há uma motivação para repetir esse prazer as vezes que forem precisas”.

Os especialistas explicam que há três coisas que acontecem quando a dopamina é liberada na zona da recompensa: os impulsos aumentam, a pessoa torna-se hipersensível a recompensas e a sua capacidade de ver o cenário de forma global fica seriamente afetada. Por outras palavras: “As recompensas imediatas tornam-se muito mais importantes do que as consequências a longo prazo”.

A Focus on the Family dá um exemplo prosaico para explicar o fenómeno: “A primeira vez que alguém vê pornografia é varrido por uma onda de dopamina. Naquele momento, cria-se uma espécie de parque de estacionamento no cérebro com espaço suficiente para arrumar todos os carros de dopamina gerados pelo estímulo inicial. Entretanto, a dopamina vai ordenando sem cessar: faz de novo, faz de novo, faz de novo! Se o processo continuar, pode realmente alterar o funcionamento do cérebro. É nessa altura que a pornografia pode tornar-se viciante”.

O que devemos fazer, então, se percebermos que os nossos filhos foram apanhados nesta armadilha?

  • Sente-se com eles e ajude-os a entender porque é que a pornografia é algo verdadeiramente perigoso, sublinhando o seu caráter viciante.
  • Explique que cair neste logro é como tentar saciar a sede num dia de calor tórrido através de uma bebida morna.  “Ela não mata a sede, deixa-nos é com vontade de beber mais”.
  • Mostre que a pornografia transforma o ser humano num consumidor de pessoas, em vez de alguém que pode amar e apreciar genuinamente o outro. Um consumidor tende a livrar-se do objeto e a trocá-lo por um novo assim que fica satisfeito.
  • Conte-lhes que pessoas que veem pornografia têm maior probabilidade de enfrentar a depressão. Está provado por vários estudos. “A pornografia torna difícil ter um relacionamento amoroso genuíno.”
  • Explique-lhes a importância do autocontrolo, tão necessário para a alcançar a maturidade e a liberdade.
  • Em vez de proibir simplesmente, explique o prejuízo real que a pornografia pode causar nas suas mentes, relações e rotinas.