“Mesmo quando chego aos pontos mais altos, para além do frio que apanho dentro da carrinha do meu pai, a ligação está sempre a cair e por isso perco muita matéria, como é caso de hoje, durante a aula de História, porque não consigo ouvir os professores”, descreveu à Lusa Leonor, que frequenta o 7.º ano.
A aluna tem de se adaptar ao trabalho do pai na agricultura, para assim os dois tirarem rendimento do dia e das deslocações, tentando manter o equilíbrio e a concentração mediante a “complicada” tarefa de apreender à distância naquela aldeia do concelho de Vimioso, distrito de Bragança, onde falta cobertura da rede de internet das várias operadoras nacionais.
“Não consigo fazer os trabalhos que me são marcados, porque não consigo ouvir os professores em boas condições. Para além deste problema, tenho de me deslocar quatro ou cinco vezes por dias para cada um dos pontos da aldeia onde consigo apanhar rede, o que é muito desgastante, stressante e complicado”, vincou a aluna do Agrupamento de Escolas de Vimioso.
Leonor indica que muitas vezes são os seus colegas que lhe manda os trabalhos devido às várias falhas na ligação à internet.
Leonor Miranda é tida pelos seus professores como uma boa aluna e disse à Lusa que se levanta muito cedo e tem de percorrer cerca de um quilómetro desde a sua casa, até conseguir apanhar rede de internet, nos pontos mais altos da aldeia onde reside, para poder acompanhar as aulas à distância, o que se torna “stressante ” para a jovem estudante.
Na aldeia transmontana de Serapicos, há mais duas alunas de 1º ciclo que estão nas mesmas circunstâncias.
Vitor Miranda, pai de Leonor, explica que tem de mudar várias vezes de sítio para conciliar o seu trabalho na agricultura com os estudos da filha, “o que por vezes não é uma tarefa fácil”.
“A minha filha tem de sair do conforto da minha casa e onde poderia estar mais concentradas nos seus estudos, mas a fraca qualidade da ligação à internet não o permite, o que nos causa grandes transtornos familiares”, frisou.
Segundo Vitor Miranda, com o rigor do inverno e chuva dos últimos dias, “não é fácil estudar”.
“Ainda tentei arranjar uma alternativa na casa da tia, mas como tem filhas pequenas, a situação é ainda mais complicada para a Leonor, por isso anda comigo dentro da carrinha onde o espaço não abunda “, contou.
O pai da jovem Leonor disse que esta situação mudou a sua vida profissional, porque tem algumas centenas de cabeças de gado e lavoura e estas tarefas também requerem muita atenção e trabalho.
Para a diretora do Agrupamento de Escolas de Vimioso (AEV), Ana Paula Falcão, a menina fica bastante triste já que se trata de uma excelente aluna.
“Esta situação é constrangedora, porque a Leonor é uma excelente aluna. Ter de andar de uma lado para o outro, à procura de rede móvel para fazer a ligação à internet e muitas vezes não consegue assistir às aulas, certamente é uma grande tristeza para a menina. E nós, direção das escolas, não ficámos alheios a esta situação”, explicou a também docente.
O AEV tem 229 alunos que frequentam o ensino até ao 9.º ano de escolaridade, visto que para continuarem os seus estudos têm de se deslocar para outros concelhos e
Na segunda-feira os alunos do 1.º ao 12.º ano retomaram as atividades letivas através do ensino a distância.
No total, são cerca de 1,2 milhões de alunos que voltam a ser obrigados a trocar, por tempo indefinido, as salas de aula pelas suas casas, quase um ano depois de, em março, o Governo ter encerrado as escolas e implementado o ensino a distância para conter a pandemia de covid-19.
Em Portugal, morreram 14.885 pessoas dos 778.369 casos de infeção confirmados, de acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde.
A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro de 2019, em Wuhan, uma cidade do centro da China.
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