Há cerca de meio milhão de analfabetos em Portugal, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), baseados no Censos de 2011. A maioria é idosa e vive em zonas do interior. Mas existem outros 30 mil que ainda estão em idade ativa, ou seja, com idades compreendidas entre os 18 e os 65 anos.
Apesar do atraso em relação à média europeia, a situação melhorou muito nas últimas décadas. “Em meados do século passado, Portugal encontrava-se numa situação mais desfavorável do que a dos países do norte europeu em meados do século XIX”, refere o estudo do INE sobre “50 anos de Estatísticas da Educação”, sublinhando o atraso de um século em relação aos países mais desenvolvidos.
Durante a ditadura, cantar o hino e rezar faziam parte do dia-a-dia dos alunos. Todas as salas de aula tinham a fotografia de Salazar e todos sabiam a tabuada "de cor e salteado" assim como as terras que apareciam no mapa com as ex-colónias. Mas esta era uma realidade conhecida por poucos.
Nos anos 50 do século passado metade das raparigas nunca chegou a entrar numa sala de aula, assim como 30% dos rapazes, apesar de a lei definir que elas eram obrigadas a frequentar a escola até à 3.ª classe e eles até ao 4.º ano.
A situação foi melhorando com campanhas de educação para adultos, a telescola a chegar às aldeias mais remotas, a redução do abandono escolar e o aumento da escolaridade obrigatória.
Foi ainda nos anos 50 que surgiram as primeiras campanhas de educação para adultos mas, na década 60, saber ler e escrever ainda era um privilégio de poucos: quatro em cada dez mulheres eram analfabetas assim como 26,9% dos homens.
É nesta altura que o ensino chega às aldeias mais remotas através da Telescola, usando a mais avançada tecnologia daquele tempo: a televisão.
Dez anos depois, no dia da revolução de Abril, 25% dos portugueses continuavam afastados dos saberes da escola.
Ainda no tempo do Estado Novo, o último ministro da Educação do regime, José Veiga Simão, desenhou um sistema de ensino que valorizava a educação pré-escolar, a formação dos professores e obrigava as crianças a estudar durante oito anos.
Uma das bandeiras da revolução foi a aposta na educação: em 40 anos a taxa de analfabetismo desceu de forma contínua, mas nunca atingiu o objetivo constitucional de uma escolarização universal.
Hoje, Portugal tem dez vezes mais alunos no ensino secundário do que a 25 de Abril de 1974. A taxa de analfabetismo chegou aos 9% em 2001 e, em apenas dez anos, desceu quase para metade (5%), mas Portugal continua a estar entre os países europeus com mais pessoas sem saber ler nem escrever.
O Alentejo é a região mais problemática, com uma taxa de analfabetismo superior a 9%. Em Borba, por exemplo, um em cada dez habitantes não sabe ler nem escrever.
O contraponto é a região de Lisboa. Ainda assim, não é a capital que apresenta a taxa mais baixa de analfabetismo (3,19%). Por todo o país existem cidades com taxas de analfabetismo inferior, como Valongo ou a Maia (ambos com 1,79%), Braga (2,62%), Vila Nova de Santo André (1,81%) ou Albufeira (2,77%).
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