O adiamento da maternidade para uma fase mais tardia, de maior estabilidade profissional, tem levado a que se pense na fertilidade depois dos 35 anos na mulher. Nessa altura, a reserva ovárica das mulheres já começou a diminuir, caindo a pique aos 40 anos. Para além disso, tem-se verificado um declínio da fertilidade masculina, como conclui uma metanálise publicada por Shanna Swan, uma das líderes mundiais em epidemiologia ambiental e reprodutiva, que reporta uma diminuição de 0,7 milhões de espermatozoides por mL por ano, refletindo-se numa redução de 50-60% da contagem de espermatozoides entre 1973 e 2011.
Apesar dos tratamentos de procriação medicamente assistida terem evoluído bastante, continuamos a ter taxas de gravidez na fertilização in vitro abaixo dos 5%, após os 43 anos de idade da mulher.
Mas quais são as causas? O que pode reduzir a fertilidade? O tabaco, o álcool, o exercício em excesso, a obesidade e os hábitos alimentares inadequados podem condicionar a redução da fertilidade. Existem também disruptores endócrinos, como é o caso do bisfenol, que alteram o equilíbrio hormonal e, consequentemente, levam a uma diminuição da fertilidade. Este composto está presente em vários plásticos que nos rodeiam e até nos simples tickets de impressão a quente que manipulamos todos os dias.
Como podemos combater a infertilidade?
É importante haver uma política social e laboral que não prejudique a mulher grávida que trabalha. Países desenvolvidos têm essas preocupações e condições. Será que não deveríamos replicar estas medidas num país que queremos desenvolvido? Apostar na sustentabilidade da segurança social futura?
Para além das questões sociais a que devemos estar atentos, nos dias de hoje, assistimos à evolução científica de diferentes tipos de tratamento para as pessoas inférteis. Esta evolução permitiu reduzir a carga que estes tratamentos acarretam, tanto física como psicológica, nomeadamente na redução dos dias de medicação injetável. Por sua vez, o aperfeiçoamento das condições em laboratório em que são mantidos os embriões da fertilização in vitro também tem tido um papel fundamental no sucesso destes tratamentos.
Para contrariar o envelhecimento do ovário, a ciência tem para oferecer a preservação de ovócitos, que deverá ser feita preferencialmente até aos 35 ou37 anos. Esta técnica implica a realização de uma estimulação ovárica, após a qual são colhidos e preservados os ovócitos a serem utilizados futuramente. Apesar de claramente definida a sua utilidade no contexto de doenças oncológicas, foi alargado o âmbito da sua utilização num contexto de preservação social.
Quando se esgotam as possibilidades de gravidez, a ciência tem para oferecer a doação de gâmetas em que, no caso das mulheres, se restabelecem as taxas de gravidez com base na idade das dadoras.
Em resumo, é importante que passe uma mensagem de alerta, uma vez que a fertilidade não dura para sempre. É preciso cuidar da fertilidade e preservá-la, de forma a contrariarmos a tendência crescente da necessidade de tratamentos de procriação medicamente assistida.
Um artigo do médico Luís Vicente, especialista em Ginecologia e Obstetrícia e vice-presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina da Reprodução.
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