Quando descobrem que os filhos estão a ser alvo de agressão é frequente os pais recorrerem aos mais variados lugares-comuns.

«Ignora-os e eles vão-se embora», «Basta dizeres ao professor e isso vai acabar», «Ele vai parar de te incomodar se aprenderes a lutar»...

A realidade é que este é um problema cada vez mais recorrente na escola e merece especial atenção. Em causa estão situações muito fortes, graves, repetidas, que vão muito além de agressões esporádicas ou de brincadeiras pontuais.

A violência física ou psíquica entre estudantes começou a ser investigada nos Estados Unidos da América, na Grã-Bretanha e nos países nórdicos no princípio dos anos 70. Recebeu o nome de bullying, ou seja, «assédio físico e emocional continuado que geralmente é realizado por mais de uma pessoa jovem a outra (cujas características passam por ser diferente) e que procura sempre a humilhação». A definição é de Javier Urra, psicólogo clínico e autor do livro «O Pequeno Ditador» (A Esfera dos Livros).

Perfil de risco

É na escola, nos locais de menor vigilância por parte de professores ou auxiliares, que se registam a maior parte dos casos de bullying. Estes ocorrem principalmente «nos tempos de ócio, tais como o recreio», explica Javier Urra, e «quanto maior é o centro escolar, maior o risco de bullying uma vez que há menos controlo físico».

O agressor, também conhecido por bully, sente satisfação em magoar as pessoas que considera mais fracas, de forma a construir a sua própria noção de poder. A idade das vítimas pode variar entre os oito e os 15 anos.

«São jovens introvertidos, com poucos amigos, escassa assertividade e algo que os diferencia», aponta o psicólogo. Ou porque são mais frágeis, mais tímidos ou simplesmente porque usam óculos, roupas fora de moda ou têm alguma deficiência. No dia a dia são frequentemente alvo de furtos ou de destruição de objetos pessoais.

Código do silêncio

Apesar de contacto diário em família, muitas vezes as situações de agressão são detetadas muito depois de ter ocorrido o primeiro incidente. «Normalmente os pais dos agressores e das vítimas não estão ao corrente da situação e isto torna o caso ainda mais problemático», refere o psicólogo.

A partir do momento em que a vítima não reage, torna-se um alvo fácil.

Tende a fechar-se em si própria, não se queixa por vergonha ou medo de retaliação e as agressões são cada vez mais frequentes. O facto de ser colocada numa situação de embaraço perante os colegas contribui para aumentar os níveis de insegurança, tristeza e depressão, pelo que os pais devem ficar atentos a estas situações de forma a evitar casos mais graves que podem chegar ao suicídio.

Apoio familiar

No livro «Bullying, Guerra na Escola» (Sinais de Fogo), a pedagoga Nora Ethel Rodríguez aponta aos pais a melhor forma de ensinar o filho a lidar com a situação. «Se desconfia que o seu filho foi vítima de intimidação, peça-lhe que lhe conte o que aconteceu e faça saber que ele não teve culpa do sucedido».

De seguida dá alguns exemplos práticos, por exemplo, «se um miúdo disser a outro que tem cara de maçã reineta, às vezes dá bom resultado dizer algo como estou a ver que gostas de maçãs reinetas».

«O agressor pode responder: Não gosto de maçãs reinetas nem gosto de ti. Uma resposta possível seria: Não acredito! Se não gostasses de mim não andavas sempre à minha volta!», sublinha. Ensine o seu filho a ignorar a agressão ou inclusive a tomá-la como um cumprimento.

Medidas pacificadoras

Com uma vasta experiência com jovens conflituosos no Centro Nacional de Reeducação de Cuenca (Espanha), o psicólogo clínico diz que a melhor forma de lidar com o bullying passa pelo diálogo. «Os pais devem falar com os filhos e ensinar-lhes que têm de denunciar o problema, o que não deve ser interpretado como o queixinhas».

Em casos mais graves, «há que falar com os professores e se possível com um amigo da escola ou mesmo com psicólogos escolares, que poderão indicar quando é necessária a intervenção de um especialista». Javier Urra chama a atenção para o comportamento dos jovens que observam situações de bullying e que, por cobardia, se colocam no lugar do agressor e não da vítima.

«É neles que está a solução. Temos de fazer estes jovens compreender que da sua atitude, quando tomam conhecimento ou vêem estes factos, depende que estes cessem ou continuem. Se o conjunto entende que uma pessoa é maltratada injustamente e assume uma postura firme e conjunta face aos agressores, os maus-tratos cessarão», conclui.

Bullying na pista do problema

Javier Urra, psicólogo clínico, aponta os sinais que indicam que o seu filho pode estar num dos lados da batalha:

Agressor

- Tem atitudes mais obstinadas.
- Quer sempre impor os seus desejos ou ser dominante.
- Grita ou gaba-se das suas ações de intimidação.

Vítima

- Não quer ir à escola.
- Não recebe telefonemas dos amigos.
- Mostra sinais de tristeza.
- Perde objetos ou tem a roupa rasgada.
- Muda os padrões de sono ou de alimentação.
- Tem notas mais baixas ou alterações de humor.

 

Texto: Sónia Ramalho com Javier Urra (psicólogo clínico)