“Mãe, o mano tirou-me a boneca!”, “Pai, a mana disse uma palavra feia!”, “Professora, o Manel empurrou-me!”, “Avó, os meninos estão a fazer asneiras!”. Todas as crianças, a dada altura, fazem queixas e reclamam quando algo não é do seu agrado. Barafustam, exigem a atenção dos adultos e mostram-se aborrecidas se as coisas não se resolvem a seu contento.
Todas estas situações são absolutamente normais e fazem parte do desenvolvimento emocional. Antes de aprenderem a lidar com a frustração e a conquistarem ferramentas sociais, os mais novos passam por fases mais ou menos narcísicas que, à medida que a maturidade se instala, vão sendo cada vez menos frequentes.
Há crianças, porém, que parecem não conseguir ultrapassar este patamar e continuam a manifestar tendência para as chamadas “queixinhas”. Tudo lhe serve para chegarem junto dos adultos com reparos e mostram-se incapazes de resolverem as situações incomodativas ou de conflito sem chamarem terceiros - crianças mais velhas ou adultos – à colacção.
Prestar atenção
Perante uma criança queixinhas, é fácil ceder ao desejo de lhe prestar pouco crédito. As situações multiplicam-se e, às tantas, pensa-se que é mais um lamento injustificado, perante o qual não há nada a fazer ou a dizer.
No entanto, por mais que custe um pouco de paciência aos adultos, vale sempre a pena prestar atenção. É que no meio de tantas reclamações e dedos apontados, pode acontecer que a criança tenha razões de queixa.
Trata-se do fenómeno da história “Pedro e o Lobo”: tantas vezes o jovem pastor lançou alarmes falsos sobre a fera que lhe atacava as ovelhas que, no dia em que o alarme era verdadeiro, ninguém creditou. O mesmo pode acontecer com as crianças que têm por hábito fazer queixas.
Mas prestar atenção e avaliar cuidadosamente a situação não significa aceder a todos os queixumes. Significa perceber o que está a acontecer e tomar uma de duas atitudes: desvalorizar as queixas, porque estas não têm razão de ser, ou fazer ver à criança que se vai intervir porque tal é justificado e apenas por isso. E deixar tudo muito claro, seja qual for a decisão.
Imaturidade
Uma criança que, para além dos quatro ou cinco anos, persiste em fazer queixas injustificadas merece a ajuda dos adultos. Isto porque está com dificuldades em perceber que esta estratégia não é sustentável.
Pode tratar-se de uma questão de imaturidade e de incapacidade de sair da fase egocêntrica que caracteriza as idades mais precoces. Aos dois ou três anos, a criança não consegue perceber que não é o centro do mundo e que deve levar em conta a presença e as emoções dos terceiros. E, por isso mesmo, é incapaz de perceber como “ser queixinhas” é desagradável.
Um dos melhores sinais de um desenvolvimento equilibrado é a crescente capacidade que ela tem de resolver situações por si própria. Se isso parece não acontecer, a criança está a braços com dificuldades de relacionamento social.
É nessa altura que pais e educadores devem intervir, até porque ela corre o risco de cair num círculo vicioso. Ou seja, quanto mais queixinhas for menos amizades faz e com poucos amigos é provável que não adquira boas ferramentas de socialização.
Questão de persistência
Acabar com as queixinhas não é rápido ou fácil. É uma missão que pode demorar algum tempo e ter avanços e recuos. Durante todo o processo, é bom não perder de vista alguns princípios:
• A criança deve perceber que os adultos conseguem “ler” quando ela tem reais motivos de queixa e quando as queixas são injustificadas;
• Os adultos devem sempre explicar que fazer queixas por tudo e por nada leva a que a criança perca a confiança dos seus pares e também dos mais velhos;
• Arrastar as situações não é positivo, por muito que a criança repita as queixinhas. Usar frases tais como “já percebi o que estás a dizer, mas tenho algumas dúvidas. Vou tentar perceber o que se passa e já volto a falar contigo” diz-lhe que os adultos não se contentam com a sua versão;
• Logo que se perceba o que está a acontecer, há que agir, seja dando razão à criança, seja mostrando-lhe que as queixinhas injustificadas não dão bons resultados, nem nessa situação nem em qualquer outra.
Maria C Rodrigues
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