A pergunta apanhou Carla Venâncio de surpresa. «Mãe, o pai estava a fazer-te mal esta manhã? Porque é que estavas a gemer? Estavas a chorar?», inquiriu Pedro, o filho de cinco anos, durante o almoço a dois. «Por sorte, ele teve esta conversa em casa, só comigo. Se tivesse sido num local público ou à frente de outras pessoas, teria morrido de vergonha», assume a vendedora. Ao longo da infância, a criança interroga-se e vai procurar respostas cada vez mais complexas. Veja como percepcionam a sexualidade em cada uma das idades?
- Até aos 3 anos
Período da descoberta e da fantasia, é a fase das metáforas, em que, como em qualquer outra aprendizagem, podemos criar uma fantasia à volta da sexualidade, recorrendo a conceitos como a cegonha ou a sementinha para dar explicações. Nesta idade, as crianças são muito concretas e literais, pelo que precisam de respostas claras e diretas, sem grande contextualização.
- Aos 5/6 anos
Este período é mais exigente no que se refere à compreensão de termos concretos. Com a entrada na escola, a necessidade de clareza mantém-se mas a informação e linguagem podem ser mais específicas, podendo começar a usar palavras como pénis e vagina. Nesta fase, deve ser esclarecedor mas sendo sempre concreto.
- A partir dos 9 anos
Nesta idade, inicia-se aquilo que muitos especialistas designam como preparação para comportamentos futuros. A capacidade para compreender temas abstratos permite abordar questões menos concretas, como os relacionamentos. É uma boa altura para falar da sexualidade propriamente dita, nomeadamente em termos de alterações físicas, das relações sexuais e da contraceção. Nesta fase, é importante introduzir noções e conselhos para preparar os comportamentos preventivos na adolescência.
A masturbação é normal?
Muitas crianças gostam de se acariciar ou até de acariciar outras. «A exploração do corpo, a curiosidade, pode acontecer desde sempre e é absolutamente normal», explica Ana Beato, psicóloga clínica no núcleo de Sexologia e Educação para a Sexualidade da clínica PIN – Progresso Infantil. Tocar no corpo e nos órgãos genitais é, aliás, muito comum. «Muitas vezes, os pais podem perceber que eles estão a ter prazer e não há problema nenhum», refere.
«Uma criança pequena não tem consciência disso», continua a psicóloga, alertando para um gesto a evitar. «Muitos pais ficam aflitos e batem na mão da criança que, apesar de ser pequena, entende com esse gesto que não pode tocar no seu corpo», elucida a especialista.
Texto: Manuela Vasconcelos com Ana Beato (psicóloga clínica, no núcleo de Sexologia e Educação para a Sexualidade da clínica PIN – Progresso Infantil)
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