De repente tudo muda. As rotinas diárias passam a ser feitas a dois (em vez da equipa de três inicial) e os tempos livres organizados num calendário, repartido entre pai e mãe.

O divórcio dos pais é, talvez, um dos mais difíceis momentos na vida de uma criança.

É, por isso, fundamental saber dar os passos certos e evitar conflitos para minimizar as marcas que esta mudança possa deixar no seu filho. Primeiro que tudo, a criança deve estar a par dos acontecimentos. É a regra fundamental para, mais tarde, não haver repercussões desagradáveis. Por isso, deve conversar sobre a situação, sempre explicando à criança que o amor dos pais por ela é inalterável.

Segundo Margarida Rodrigues, psicóloga clínica, «esta é a parte mais simples e, simultaneamente, mais complexa de executar, sobretudo porque os adultos não estão preparados para ouvir as crianças».

Assim, para a especialista, a abordagem deve ser feita «com perguntas como Já percebeste que as coisas entre o papá e a mamã não estão muito bem, não é? e a partir daí deixar a criança falar e dar a sua opinião».

É essencial que a criança entenda que o amor dos pais não será posto em causa com o divórcio, que poderá sempre gostar dos dois e que, sobretudo, não terá de fazer escolhas. Além disso, é também muito importante retirar o sentimento de culpa que muitas crianças sentem pelo divórcio dos pais.

Gestão de afetos

O diálogo entre pais e filhos é importante mas deve respeitar algumas regras. Como realça Margarida Rodrigues, não é bom interrogar a criança sobre o tempo passado com o outro progenitor, pois «estas perguntas levam-na a optar pelo silêncio com o medo de interferir numa relação já em cisão».

Também desaconselhados são os recados para o pai ou para a mãe, defende a psicóloga clínica, «para evitar aspetos de manipulação que acabam sempre por gerar conflitos entre os pais. Estes devem tentar manter algum diálogo, pelo menos sobre assuntos relacionados com os filhos», refere.

«Se tal não for possível, é preferível enviarem mensagens por escrito e não pedir aos filhos para dar recados porque a criança ao passar a mensagem acaba por ouvir muitas vezes críticas ao outro progenitor», acrescenta ainda.

Valores e disciplina

O Diogo tinha praticamente dois anos quando Pedro se divorciou.
«Custou muito estar num outro espaço longe dele. Adorava cuidar do Diogo e sempre que acordava a meio da noite era eu que tratava dele», desabafa.

A situação de Pedro não está ainda resolvida, com a custódia do filho em tribunal. No entanto, sempre que pode está com o filho e, de 15 em 15 dias, o fim de semana é em casa do pai. E nesses momentos juntos há tempo para tudo, partilhar alegrias, jogar mas também aprender.

«Quando está comigo, tento fazer com que ele seja mais disciplinado, porque a mãe, ao contrário do que costuma acontecer, é muito permissiva», afirma.

Pedro não hesita em incutir valores e regras e muita disciplina, porque, como o próprio explica, «o Diogo tem de perceber que não pode amuar, não pode ser sempre o centro das atenções e cada vez que ele é mal-educado eu explico-lhe que ele fica a perder».

Instaurar rotinas e regras «é essencial», explica Margarida Rodrigues, sublinhando que «é importante que sejam mantidos os horários elementares, como a hora das refeições, de dormir e de acordar, para permitir à criança uma noção de que a sua vida se mantém mais ou menos dentro do que é normal».

Dinastia dos mimos

A postura de Alfredo é bem diferente, até porque, garante, «a Marta é uma filha excecional, muito meiga e nada exigente». Este pai tenta ao máximo compensar os tempos de ausência e enche a filha Marta de «coisas que ela não precisa, presentes sem sentido», reconhece.

Estas situações, embora comuns, merecem o alerta da psicóloga para o problema da recompensa material, uma vez que «efetivamente, a criança só espera o mimo dos pais».

Independentemente do tempo que passará com eles, o progenitor deve ter em mente que os filhos serão sempre os seus filhos e que não deve, numa fase após o divórcio, oferecer-lhes coisas que nunca havia dado antes.

Mas o coração de Alfredo fala mais alto e ver o sorriso no rosto da Marta é o mais importante. «Amanhã a Marta faz 8 anos e vai ter uma festa linda», conta, com entusiasmo, «vamos todos passar o dia para o Jardim Zoológico». Mas não só de prendas vive a relação deste pai e filha.

No tempo que passam juntos passeiam, brincam, vão à praia, à piscina e ao jardim. «Acho que temos uma relação ótima, a minha filha é o melhor que já me aconteceu», remata.

A melhor prenda

A forma como será preenchido o tempo livre deverá «ser escolhida em conjunto com a criança e, de preferência, incluir atividades de outdoor que impliquem interação entre os pais e os filhos», explica a psicóloga.

«Jogar futebol, às escondidas, andar de bicicleta, passear na praia ou atividades culturais, enfim, o objetivo é que corresponda aos interesses da criança e dos pais e que permitam que ambos se sintam bem», sublinha.

É, também, por norma, a escolha de Pedro e Alfredo quando se trata de brincar.

Fazem de tudo um pouco, mas sempre que possível ao ar livre. E este verão, com em todas as outras alturas, não será exceção, uma vez que já tem planeadas uma série de atividades bem divertidas.

Como refere Pedro, as férias de Diogo incluirão «as raquetes e a prancha de surf, a caminho da praia. Tento sempre fazer com que ele se interesse e viva mais ao ar livre». O verão de Marta e Alfredo também vai ser passado a banhos, além «dos passeios de bicicleta, dos jogos de futebol e das aulas de equitação», acrescenta o pai.

Mas, mesmo nos dias sem sol a brincadeira não pode parar. Nestas situações, Margarida Rodrigues aconselha a escolha de «atividades que privilegiem a interação e a partilha de experiências, tal como jogos didáticos ou mesmo um jogo conjunto de Playstation».

«Deve evitar-se que a criança fique muito tempo isolada a ver televisão ou a jogar computador, o que por vezes leva a que o contacto com os pais seja reduzido e pouco gratificante», recomenda. No que toca a brincadeiras, a psicóloga deixa um alerta.

«Não existem atividades mágicas. Pode ser tão gratificante ler um livro em conjunto, como inventar uma história, em que cada um diz uma parte ou pintar uma tela para expor em casa», sublinha.

Tire ainda maior partido do (pouco) tempo passado a dois, embarcando com
o seu filho em divertidas aventuras. Deixamos-lhe três sugestões!

No mar
Os
golfinhos são os animais favoritos das crianças, por isso não há melhor
surpresa do que vê-los pessoalmente. Visite o seu habitat natural no
estuário do Sado.
Observação de golfinhos: para crianças maiores de dois anos Vertigem azul (Setúbal)
Reservas: 265 238 000
Preço: 20 euros/criança, 30 euros/ adulto

No campo
Leve
o seu filho para fora da cidade e mostre-lhe como vivem os animais e
porque as árvores são importantes numa visita a uma das quintas
pedagógicas que existem por todo o país.
Monte Selvagem Lavre (Montemor-o-Novo)
Parque com animais domésticos e exóticos
Reservas: 265 894 377

Na cidade
Escolha
um dos espaços verdes da cidade, leve uma bola, corda de saltar ou um
papagaio e passe uma tarde divertida com o seu filho. Pode também dar um
passeio de bicicleta. Alguns locais alugam BTT duplas ou com cadeira
para transporte de crianças.
Tejo Bike (Parque das Nações, Lisboa)
Preço: A partir de 2 euros/hora
Internet: www.parquedasnacoes.pt

Texto: Raquel Pires com Margarida Rodrigues (psicóloga clínica)