As primeiras vocalizações das crianças surgem escassas semanas depois do nascimento e são respostas aos estímulos sensoriais que recebe. Arranca assim o longo processo de aquisição da linguagem, que – dizem muitos investigadores – nunca termina, já que ao longo da vida estamos permanentemente a sofisticá-la.
Uma das fases de desenvolvimento mais gratificantes para os pais e restante família é aquela em que a criança acelera na aprendizagem da fala. “É um autêntico papagaio!”, comentam, embevecidos, pais, avós, tios e educadores.
Muitas vezes, para quem está de fora, não é fácil perceber o que a criança está a transmitir. As coisas são menos complexas para quem está com ela todos os dias e conhece o que quer dizer, conseguindo manter níveis de conversação cada vez mais sofisticados. E é assim que a linguagem da criança vai, ao longo do tempo, ganhando nova competências de vocabulário e fala.
O que se passa?
Se, nos primeiros anos, o “falar à bebé” não causa estranheza e até é motivo de divertimento, à medida que o tempo passa, porém, pais e restantes adultos esperam que a criança abandone este tipo de linguagem.
Quando isso não acontece, e ela persiste em usar termos simples para conceitos mais complexos, por exemplo, a preocupação pode instalar-se. Outro fenómeno que causa alarme é a aparente incapacidade de pronunciar algumas letras – como o “r” e o “l” – ou dificuldades em evoluir para frases mais longas.
A primeira coisa a ter em conta é que todas as crianças têm o seu ritmo próprio de desenvolvimento e que a linguagem é um de entre muitos outros factores. Ou seja, não é necessariamente verdade que alegadas dificuldades neste aspecto signifiquem que algo de errado se passa, em especial se a criança demonstra estar a evoluir globalmente de forma sólida.
Enriquecer a fala
Em segundo lugar, vale a pena avaliar que estímulo está a receber. Isto é, se os adultos falam com ela de forma mais infantil ou se têm vindo a evoluir, também eles, o seu discurso. Não é de admirar que a criança tenha uma fala mais simples ou truncada se em família se insiste em falar com ela “à bebé”.
Por outro lado, é sabido que a interação humana é o melhor caminho para enriquecer a fala, ao contrário de outro tipo de actividades mais passivas como, por exemplo, a televisão ou o computador. Uma criança que passe os dias em frente aos ecrãs, falando muito pouco com os outros, não adquire tão facilmente tanto esta capacidade de comunicação como ouras ferramentas sociais.
Análise externa
Se os pais sentem que nem tudo está bem, vale a pena procurar ajuda, e quanto mais cedo melhor. Numa primeira fase, essa análise deverá ser feita pelo pediatra: melhor do que ninguém o médico que acompanha a criança poderá analisar a sua linguagem e fala e compará-las tanto com os parâmetros esperados para a idade como com a sua experiência clínica.
E será o pediatra que ajudará a família a decidir se vale a pena esperar que a criança evolua, ou se vale a pena levar o caso a um especialista. É que as questões da fala não se limitam ao aparelho vocal: problemas auditivos, neurológicos, emocionais e até visuais podem estar na origem das dificuldades.
A boa notícia é que, mesmo que haja um motivo concreto para o arrastar da “fala à bebé”, na maior parte dos casos existem métodos eficazes para recuperar o tempo perdido. Fonoaudiologia, terapia da fala ou terapia comportamental são algumas das estratégias mais comuns para levar a criança a comunicar de forma mais eficaz. O importante é detectar precocemente e actuar de imediato.
Maria C Rodrigues
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