Importa salientar que entre outros fatores, para que uma criança consiga compreender o material escrito precisa, antes de mais, de ser capaz de descodificar o que lê, fazer associações entre o que lê e o que conhece e, ainda, refletir sobre o que leu.

Neste sentido, um dos fatores mais importantes para adquirir a competência subjacente à compreensão leitora passa pela quantidade de vocabulário que a criança conhece. Caso não disponha de um vocabulário muito vasto, é, no mínimo, fundamental que domine o significado de um número de palavras considerado suficiente. Assim, em princípio, leitores que dominem a capacidade de compreensão leitora estarão aptos a desenvolver conclusões sobre o que leem, nomeadamente, distinguir o que é importante, o que é um facto, o que causou um determinado acontecimento, quais as personagens divertidas, entre outros aspetos no mesmo âmbito. Deste modo, a compreensão é um mecanismo de capacidade superior e que combina o mecanismo da leitura com o pensamento crítico e o raciocínio.

Ao procurar caracterizar-se o problema e destacar quais as principais características subjacentes a dificuldades ao nível da compreensão leitora podemos pensar em três perspetivas diferentes: a das Crianças, a dos Pais e a dos Professores.

Assim, no que respeita às crianças é de prever que expressem a sua deceção e dificuldades nesta área recorrendo a expressões como “Odeio ler!” ou “Isto não é nada interessante”.

Caso consigam expressar claramente o que sentem, poderiam descrever como as dificuldades de compreensão afetam, em particular, a sua leitura, da seguinte forma:

  • Demoro tanto tempo a ler alguma coisa, que é difícil acompanhar tudo o que está a acontecer;
  • Na realidade não percebi muito bem sobre o que o livro fala;
  • Porque é que aquela personagem fez aquilo? Eu não percebo;
  • Não tenho certeza de onde se encontram as partes mais importantes do livro;
  • Não consigo criar uma imagem na minha cabeça sobre o que se está a passar.

Tendo em conta o que é possível ser observado em casa, alguns sinais podem apresentar-se como indicadores para os pais quanto à presença de dificuldades manifestas pelas crianças ao nível da compreensão.

Neste sentido, a criança pode protagonizar várias situações:

  • Não ser capaz de resumir uma passagem que leu num livro;
  • Ser capaz de contar o que acontece na história, mas não ser capaz de explicar porque é que os acontecimentos ocorreram de determinada maneira;
  • Não ser capaz de explicar quais os sentimentos ou pensamentos de uma determinada personagem, nem o porquê de surgirem;
  • Não conseguir relacionar eventos lidos no livro, com eventos semelhantes lidos noutro livro ou com situações da vida real;

Em contexto de sala de aula, é ainda possível que um professor identifique, num aluno com dificuldades ao nível da compreensão leitora, alguns dos sinais de alerta abaixo indicados:

  • Parece focar-se nos aspetos “errados” do excerto lido, por exemplo, concentra-se tanto nos pormenores que “perde” a ideia principal;
  • Consegue indicar acontecimentos isolados da história, mas não consegue explicar porque os acontecimentos se desenrolaram de determinada maneira;
  • Não se guia pelo que é apresentado num livro para pensar acerca do que poderá acontecer a seguir ou porque é que as personagens agiram de determinada maneira;
  • Retira informação irrelevante quando tenta relacionar um excerto do livro com algo da sua vida;
  • Parece ter um vocabulário reduzido;
  • Não consegue organizar de forma clara e lógica a sequência de acontecimentos de uma história;
  • Não consegue distinguir os aspetos principais de informação irrelevante;
  • Não consegue descrever uma imagem que represente um determinado excerto do livro, uma vez que manifesta dificuldade em descrever fisicamente as personagens ou local onde os acontecimentos ocorrem.

Tendo em consideração todos estes sinais de alerta e a importância que a capacidade de compreensão leitora assume no percurso académico da criança seguem-se exemplos de algumas estratégias que crianças, pais e professores podem usar para otimizar a capacidade da criança compreender aquilo que lê.

Neste sentido, deve dotar-se a criança de determinadas estratégias:

  • Usar sublinhados, esquemas e notas durante a leitura;
  • Criar cartões com termos chave que possa querer relembrar mais tarde;
  • Ler histórias ou passagens por etapas e só avançar na leitura quando tiver a certeza do que aconteceu;
  • Perguntar a si própria “Isto faz sentido?”, se não fizer, reler a parte que não fez sentido;
  • Ler com um amigo alternadamente, uma página cada um. Só alternar depois de serem capazes de resumir o que leram;
  • Pedir ao pai, à mãe ou a um professor que explore o livro com ela antes de o ler sozinha;
  • À medida que vai lendo tentar encontrar fotografias ou imagens que representem a história;

Como o intuito de ajudar os seus filhos e incutir-lhes o interesse pela leitura e a respetiva promoção da compreensão leitora, sugere-se, em termos gerais, que os pais incitem ao diálogo e mantenham uma conversação tendo por base a história lida pela criança. Neste sentido, questões como: “Porque é que uma personagem especifica tomou determinada atitude?”, ou “Como é que tu achas que a personagem se sentiu? Porquê?”,” O que aprendeste com a história?”, a par de questões iniciais relativas à identificação de personagens, do(s) local/locais, do início e do fim da história assim como da situação ou problema central da história. Poderá ainda solicitar à criança que relacione, se possível, a história que leu, com episódios da sua vida, do seu quotidiano.

Esta estratégia é fundamental para auxiliar a criança em diferentes vertentes constituintes da compreensão leitora, pelo que os pais e restantes educadores, ao aplicá-la, deverão ter em linha de conta determinados aspetos:

  • Ajudar a criança a relacionar o que lê com experiências semelhantes às que já viveu, sentiu, viu num filme ou leu noutro livro;
  • Ajudar a criança a monitorizar o que compreende ou não compreende, ensinando a questionar-se frequentemente se está a perceber o que lê;
  • Ajudar a criança a voltar atrás no texto para dar resposta às suas questões;
  • Discutir o significado de palavras desconhecidas, tanto as que lê como as que ouve;
  • Ler por partes e ter a certeza que a criança percebe cada etapa lida;
  • Falar com a criança sobre o que aprendeu através da leitura de textos informativos, seja de ciências ou estudo do meio, entre outras áreas;

Em contexto escolar e como forma de treinar a capacidade de compreensão leitora, em sala de aula o professor poderá ainda adotar estratégias como:

  • Colocar questões abertas como “Porque é que as coisas aconteceram desta forma?” ou “O que é que a personagem está a tentar fazer aqui?” e “Porque é que isto parece confuso?”
  • Ensinar aos alunos as características/estrutura dos diferentes tipos de texto. Ou seja, os textos narrativos normalmente têm um problema, o momento alto da ação e a resolução do problema. Por sua vez, o texto informativo pode descrever, comparar e contrastar ou apresentar uma sequência de eventos.
  • Discutir o significado das palavras ao ler o texto. Escolher algumas palavras para um ensino mais aprofundado, investigar com os alunos o significado dessas palavras e como podem ser usadas.
  • Ensinar a fazer apontamentos e estratégias de resumo.
  • Usar organizadores gráficos que ajudem os alunos a dividir as informações e a memorizar a informação sobre o que estão a ler.
  • Incentivar os alunos a usar e revisitar palavras do vocabulário escolhido ao longo da leitura.
  • Ensinar os alunos a monitorizar a sua própria compreensão leitora, colocando a si próprios, ao longo do texto, questões como "O que não está claro aqui?" ou "Que informações estão a faltar?" e “O que é que o autor quererá dizer?”.

Importa, contudo, salientar que cada criança é uma criança, detentora das suas singularidades e que cada educador (seja pai ou professor) encerra em si uma predisposição para utilizar uma determinada estratégia que vá ao encontro da sua motivação, interesse, características e que se apresente mais apelativa para si. No entanto, passar o gosto pela leitura, o entusiasmo e proporcionar atmosferas positivas à criança, nas quais todos se sintam integrados, trará benefícios para todos e poderá aumentar a probabilidade de a criança adquirir e aprimorar a capacidade de compreensão leitora com maior facilidade.

Artigo publicado por SEI - CENTRO DE DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM