Qualquer pai deseja o melhor para os seus filhos, deseja que sejam saudáveis, tenham o dia preenchido com muitas actividades saudáveis e estimulantes e que recebam o seu amor incondicional. Muito pais atormentam-se com a típica pergunta: será que os meus filhos são felizes?
Poderá ficar surpreendida com aquilo que faz uma criança feliz. Os especialistas em desenvolvimento infantil que estudam esta questão afirmam que a felicidade não é algo que possa oferecer a uma criança como um presente bem embrulhado. Efectivamente, diz Edward Hallowell, psiquiatra e autor de The Childhood Roots of Adult Happiness, as crianças excessivamente mimadas – quer sejam inundadas com brinquedos ou protegidas de qualquer desconforto emocional – serão mais provavelmente adolescentes entediados, cínicos e sem alegria. "Os melhores factores de previsão da felicidade são interiores, não exteriores", diz Hallowell, que sublinha a importância de ajudar as crianças a desenvolverem um conjunto de ferramentas interiores com que possam contar ao longo de toda a vida.
A boa notícia é que não tem de ser especialista em psicologia infantil para transmitir a força interior e a sabedoria necessárias para lidar com os altos e baixos da vida. Com paciência e flexibilidade, qualquer pai ou mãe pode criar as bases da felicidade para toda a vida.
Aprenda a interpretar os sinais
À medida que vai amadurecendo de recém-nascido até se tornar um bebé mais interactivo, por volta dos 6 meses, a criança vai também passando a dominar as formas de lhe mostrar quando alguma coisa a satisfaz ou a incomoda. A cara ilumina-se com um sorriso de derreter qualquer um quando a mãe entra na sala ou desata a chorar quando alguém lhe tira o brinquedo favorito. E é provável que já tenha reparado que passa do choro ao riso antes que lhe consiga pôr uma chupeta na boca.
Segundo Lise Eliot, neurocientista pediátrica e autora de What's Going On in There? How the Brain and Mind Develop in the First Five Years of Life, os bebés são tão inconstantes nas suas emoções porque o seu córtex cerebral, que controla as respostas automáticas, ainda mal começou a funcionar. À medida que o córtex cerebral se vai desenvolvendo ao longo dos anos, a criança começará a controlar melhor o seu comportamento e os seus humores.
Se lhe parecer que o bebé passa mais tempo a chorar do que a rir, isso acontece porque os bebés sentem mais cedo a angústia do que a felicidade. O choro e as expressões faciais de desconforto existem por um bom motivo, explica Eliot. Servem de SOS para motivar os adultos a resolverem um problema.
Mas, se o bebé chorar, como saber se tem dores, se está com fome ou simplesmente entediado? "Uma mãe sensibilizada consegue perceber a diferença entre os diferentes tipos de choro e de expressões faciais", diz Paul C. Holinger, professor de psiquiatria no Rush-Presbyterian-St. Luke's Medical Center em Chicago. "As sobrancelhas, a boca e as vocalizações são os sistemas de sinalização do bebé."
Por exemplo, quando um bebé chora por se sentir incomodado fisicamente, os cantos da boca ficam virados para baixo e as sobrancelhas arqueiam ao centro. Quando está zangado, o bebé fica com a cara vermelha, vira as sobrancelhas para baixo, cerra os maxilares e emite como que um rugido. A maioria dos pais reconhece que um bebé medroso e que fique facilmente incomodado não é uma companhia agradável, mas Holinger afirma que muitos pais não reconhecem que a fúria é simplesmente perturbação em excesso. "Quando há um ruído muito elevado ou uma luz muito intensa”, continua, “a criança revela sinais de perturbação. Se esse ruído ou luz continuarem a aumentar, este sentimento transforma-se em fúria."
Carrie Masia-Warner, pedopsicóloga e directora adjunta do Anxiety and Mood Disorders Institute da New York University School of Medicine, avisa que não deve interpretar demasiado os estados de espírito do bebé. "Eu não diria que os bebés são felizes ou infelizes", afirma. "Existem bebés satisfeitos ou insatisfeitos, com base nos elementos presentes no seu ambiente imediato."
Apesar de os bebés mais pequenos não se sentirem realmente felizes quando parecem contentes, a boa notícia é que, quando estão a gritar, também não têm ainda qualquer consciência emocional. Eliot explica que "os centros corticais das emoções" do cérebro do bebé só começam a funcionar aos 6 ou 8 meses de idade, quando começa a sentir as emoções que se reflectem tão claramente na sua expressão facial.
O seu bebé terá provavelmente as suas próprias formas de lhe mostrar quando não está satisfeito. Alguns bebés gritam, ao passo que outros tendem a choramingar mais. À medida que vai aprendendo a conhecer o temperamento do seu filho, melhor será a sua capacidade de interpretar os sinais de que algo não está bem no seu mundo.
Crie espaço para a diversão
Embora um colorido mobile sobre o berço e a primeira vez que prova papa de maçã possam provocar o sorriso do bebé, aquilo que o faz mais feliz é muito mais simples: os pais. E é esse o factor mais importante para criar uma criança feliz, diz Hallowell. "Estabeleça uma ligação com o bebé, brinque com ele", recomenda. "Se se divertir com o bebé, ele também se diverte. Se criar aquilo a que chamamos uma “infância ligada”, essa é de longe a melhor forma de garantir que o seu filho será feliz."
A brincadeira gera alegria, mas é também a forma de a criança desenvolver capacidades essenciais para a sua felicidade no futuro. À medida que vai crescendo, as brincadeiras livres permitem descobrir aquilo que gosta de fazer — construir cidades com blocos, fazer “poções” com ingredientes de cozinha, pintar aguarelas elaboradas – e tudo isto pode mesmo indicar o caminho para uma carreira profissional que lhe parecerá uma brincadeira que dura a vida inteira. Brincar não é sinónimo de aulas de música, desportos organizados e outras actividades estruturadas e “enriquecedoras”. Brincar é quando as crianças inventam, criam e sonham acordadas.
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Ajude-as a desenvolver os seus talentos
A receita de Hallowell para construir uma felicidade que dura a vida inteira inclui uma surpresa: as pessoas felizes são muitas vezes aquelas que dominam uma qualquer competência. Por exemplo, quando descobre como levar a colher à boca ou dá aqueles primeiros passos vacilantes sozinho, o bebé começa a aprender com os erros, aprende a ser persistente e disciplinado e, depois, sente a alegria do êxito com base no seu próprio esforço.
Ganha também a recompensa do reconhecimento de outros relativamente àquilo que alcançou. Mais importante ainda, descobre que tem algum controlo sobre a sua vida: se tentar fazer alguma coisa, irá acabar por conseguir. Investigações demonstram que esta sensação de controlo através do domínio das coisas constitui um factor importante para a felicidade na idade adulta.
Hallowell alerta para o facto de que as crianças, à semelhança dos adultos, precisam de seguir os seus próprios interesses, caso contrário não terão qualquer satisfação com os seus êxitos. Rebecca Marks, de Cleveland Heights, Ohio, EUA, diz que o principal interesse do filho, com 3 anos, é a construção. "Adora construir coisas e ajudar o pai a construir projectos especiais. Faz com que se sinta bem consigo próprio. Tentamos ajudá-lo a dedicar-se àquilo para que tem um talento natural, a actividades em que é visível que se diverte."
Corpo saudável, criança saudável
Muitas horas de sono, exercício e uma alimentação saudável são importantes para o bem-estar de qualquer pessoa, especialmente das crianças. Se o bebé tiver muito espaço para soltar energias, quer isso signifique dar pontapés no ar, rastejar atrás da bola preferida ou andar para trás e para a frente – uma, e outra, e outra vez – no baloiço para bebés do parque, isso ajuda a pô-lo de bom humor. E não se esqueça de que o bebé necessita de uma estrutura: embora alguns bebés sejam se trato muito fácil, a maioria desenvolve-se melhor e sente-se mais estável se tiver um programa definido.
Poderá igualmente procurar encontrar alguma ligação entre o estado de espírito da criança e determinados alimentos. Alguns pais notam que, embora o açúcar possa dar à criança um grande impulso de energia, a verdade é que também pode causar uma certa agitação. As alergias e sensibilidades alimentares também podem ter um papel a desempenhar no comportamento e na disposição da criança. Se a mãe estiver a amamentar, poderá notar que o bebé fica agitado depois de ingerir determinados alimentos. Fale com o pediatra se suspeitar de que o leite de substituição ou a alimentação do bebé estão associados a sinais de perturbação.
Deixe-o lidar com os problemas
Nos primeiros seis meses da vida de um bebé, é importante que os pais satisfaçam as necessidades do bebé. "Não é possível mimar demasiado um bebé”, diz Masia-Warner. No entanto, após os seis meses, se vier a correr cada vez que o bebé tem um soluço, estará a privá-lo de uma importante oportunidade de aprendizagem. Masia-Warner diz que é bom deixar os bebés chorar um pouco, desde que recebam muito afecto positivo e atenção no resto do tempo.
Mas, dizem vocês, não é suposto estar a criar uma criança feliz? Não devia vir sempre a correr para resolver todas as situações? Na verdade, Masia-Warner vê esta atitude como um grande erro que cometem muitos pais bem intencionados e que amam os seus filhos. "Os pais tentam fazer tudo pelos seus filhos, a toda a hora, para que estejam sempre felizes. Isso não é realista. Não venha sempre a correr para resolver a situação", diz Masia-Warner. "As crianças precisam de aprender a tolerar alguma perturbação, alguma infelicidade. Deixe-os debaterem-se, resolverem os problemas sozinhos, porque é isso que os ajuda a aprender a lidar com as situações."
No primeiro ano de vida, o bebé aprende muitas coisas: a sentar, a gatinhar, a agarrar objectos, a andar e a falar. Cada êxito dá-lhe confiança e satisfação. Por isso, não se apresse a apanhar o chocalho que acabou de deixar cair ou no ursinho de peluche que tenta alcançar: dê-lhe algum tempo e incentivo para agarrar sozinho.
Hallowell concorda que expor as crianças a uma série de experiências, mesmo as mais difíceis e frustrantes, ajuda a criar a reserva de força interior que conduz à felicidade. Quer se trate de uma criança de 7 meses a tentar gatinhar ou de 7 anos a enfrentar as dificuldades da subtracção, Hallowell diz aos pais que irão lidar sempre cada vez melhor com as adversidades se simplesmente puderem superá-las com sucesso, uma e outra vez.
Deixe-o mostrar que está triste ou zangado
Quando o bebé cresce, pode encorajá-lo a identificar os sentimentos e a expressá-los verbalmente. Mesmo antes de saber falar, pode mostrar imagens de caras e perguntar qual se está a sentir como ele. As crianças pequenas compreendem rapidamente palavras associadas aos afectos, como “feliz” ou “zangado”. Quando conseguem expressar as suas emoções por palavras, ganham toda uma nova capacidade de reconhecer e controlar os seus sentimentos.
Contudo, avisa Masia-Warner, não deve preocupar-se excessivamente com os sentimentos negativos da criança. "É normal as crianças ficarem por vezes hipersensíveis, choramingas ou nervosas devido a alguma coisa relacionada com o ambiente em redor, mas não se trata de infelicidade."
Verá que esta percepção é particularmente importante à medida que a criança for crescendo. Quando amua a um canto durante uma festa de aniversário, a sua reacção natural será possivelmente pressioná-la para se juntar à diversão. Mas é importante permitir que se sinta infeliz. Hallowell preocupa-se com o facto de "alguns pais ficarem preocupados sempre que os filhos sofrem uma pequena rejeição, quando não são convidados para uma festa de anos ou se chorarem porque não conseguiram aquilo que queriam."
As crianças precisam de saber que não há qualquer problema em sentirem-se por vezes infelizes — faz tudo parte da vida. E se tentarmos abafar todas as infelicidades, podemos estar a passar a mensagem de que é errado sentir-se triste. Temos de os deixar viver os sentimentos, incluindo a tristeza.
Ser um exemplo
Segundo Dora Wang, professora assistente de psiquiatria na University of New Mexico School of Medicine e mãe de Zoe, com 3 anos, investigações demonstraram que pode transmitir a sua maneira de ser para os seus filhos – não necessariamente através dos genes – mas sim através do seu comportamento e do seu estilo de educação da criança.
Para o melhor e para o pior, as crianças captam os estados de espírito dos pais. Mesmo os bebés mais pequenos imitam o estilo emocional dos pais, activando deste modo caminhos neuronais específicos. Por outras palavras, quando os pais sorriem, o bebé sorri e o seu cérebro constrói a “ligação” do sorriso. De modo semelhante, se o seu bebé chora horas a fio com cólicas, o melhor que tem a fazer é manter-se calma, já que os bebés captam o stress de quem cuida deles.
Com o bebé recém-nascido, é normal sentir-se cansada e no limite, mas se vir que está constantemente stressada ou deprimida, é importante procurar ajuda. "Os pais com tendência para a depressão muitas vezes não conseguem ser coerentes nas suas opções de disciplina e de estruturação, nem conseguem elogiar ou divertir-se consistentemente com os seus filhos. Tudo isto pode contribuir para problemas emocionais", diz Masia-Warner.
Ensinar a fazer coisas com significado
À medida que o bebé vai amadurecendo, pode ensiná-lo – mesmo com pequeníssimas lições no dia-a-dia – a ver como é compensador ajudar os outros. Investigações mostram que as pessoas com significado nas suas vidas se sentem menos deprimidas.
Mesmo com apenas 10 meses de idade, pode ensinar ao bebé a satisfação de dar e receber. Se lhe der um pedaço de banana, deixe que ele faça o mesmo, oferecendo-lhe a si outro pedaço. Mostre-lhe como o seu gesto de generosidade a fez sentir feliz. Se lhe escovar o cabelo, deixe-o escovar o seu. Estes pequenos momentos podem alimentar uma sensibilidade para a partilha e a preocupação com os outros. Quando o bebé crescer, tarefas domésticas simples, como pôr a roupa suja no cesto ou pôr a mesa, podem ajudar a que a criança sinta que está a contribuir para alguma coisa.
Sete dicas para dar a volta ao amuo da criança
O que fazer com a criança está numa crise?
Pedimos vários pais que partilhassem as suas estratégias comprovadas favoritas para se livrarem da má disposição e fazer regressar o sorriso à cara dos seus filhos.
O poder do elogio
Sempre que a Chloe entra num ciclo de choro, tento encontrar um motivo para a elogiar. Pode ser qualquer pequeno gesto que ela faça para se acalmar, como ir buscar um lenço para se assoar ou respirar fundo. Ela não consegue evitar sorrir quando faço isso. Depois já conseguimos quebrar o ciclo e ela consegue seguir em frente. — Kate, mãe de Chloe, São Francisco, EUA
Soltar os GRRRRR
O meu filho é muito físico e temperamental. Demorei uma eternidade a perceber que, sempre que estava mesmo resmungão ou frustrado, aquilo de que o Ben mais precisava era ir lá para fora brincar ou simplesmente correr pela casa fora durante alguns minutos. Mesmo que esteja ocupada a tentar preparar o jantar, paro e anuncio ao Ben que está na hora de ele "soltar os GRRRRR". Agora, até ele usa essa expressão quando se sente mal-humorado. Soltar os GRRRRR fá-lo sempre sentir-se melhor. — Colleen, mãe de Ben, Atlanta, Georgia, EUA
Lavar o carro e a má disposição
Um dia, quando a minha filha estava mal disposta, tive a ideia de uma lavagem de carro que também lhe lavaria a má disposição. Pedi-lhe que carregasse num botão invisível para accionar o ‘modo de lavagem de boa disposição’, “e depois virei-a de cabeça para baixo, fiz-lhe cócegas e emiti ruídos patetas. Quando acabámos, estava perdida de riso. — Sheila, mãe de Charlotte, Westport, Connecticut, EUA
Pare e ouça
Por vezes, quando o meu filho mais velho, de 8 anos, está zangado, a única coisa de que precisa é que o escutemos. Com as crianças, temos muitas vezes imensa pressa em descobrir uma solução para os seus problemas ou uma cura para o que os está a incomodar. Mas eu penso que muitas vezes ajuda mais parar tudo o que estamos a fazer, tomarmos consciência do momento e perguntarmos o que se passa. Se ele ainda não estiver pronto para falar sobre isso, dou-lhe atenção, brinco com ele, garantindo-lhe que estou ao seu lado se ele precisar. — Elisse, mãe de Noah e Aidan, Berkeley, Califórnia, EUA .
Incentive o ser social que há no seu filho
Os meus dois filhos parecem sempre estar mais felizes quando estão rodeados de um grande número de familiares e amigos. Algumas das vezes em que os vi mais felizes foi em grandes festas de família, quando podem interagir com muitas pessoas que conhecem e de quem gostam. Por isso, na medida do possível, gostamos de incluir os nossos filhos nas nossas actividades sociais. Penso que isso também os ajuda a conhecer a alegria e as suas competências de interacção com muitos tipos de pessoas diferentes. — Jim, pai de Chris e Alec, São Francisco, EUA
Faça uma pizza
Eu uso o mesmo truque que o pai no livro Pete's a Pizza de William Steig. Quando a minha filha está rabugenta, eu digo-lhe "OK, está na hora de te transformar numa pizza". Pego nela e amasso a massa e atiro-a ao ar, o que na verdade são só cócegas e umas sacudidelas suaves. Depois, polvilho-a com queijo, molho de tomate e pimentos a fingir — outra boa oportunidade para cócegas! E por fim atiro-a para um forno a fingir (o sofá) e, já está, a má disposição foi-se! — Fred, pai de Hazel, Burlington, Vermont, EUA
Deixar sair o ar
Quando vamos de carro e a minha filha está aborrecida, abrimos as janelas até ao fundo, mesmo que esteja um gelo e a nevar lá fora, e esvaziamos os nossos corpos de todo o ar “mau”. Ela sente-se sempre melhor e eu também! — Chandler, mãe de Lily, Monterey, Massachusetts, EUA
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